O ator de teatro José do Rego Barreto Júnior nasceu no município do Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana do Recife, Pernambuco, no dia 5 de junho de 1903, filho de José Emanuel do Rego Barreto e Maria Francisca do Rego Barreto.
Estudou no Colégio Salesiano no Recife, onde seu pai mantinha uma casa para que ele e seus seis irmãos estudassem na cidade.
Desde pequeno, sempre se interessou pelos circos e espetáculos mambembes que apareciam no Cabo. Começou a fazer teatro nas festas do colégio, representando quase sempre os papéis principais e dirigindo algumas das encenações.
Depois de concluir o segundo grau, conseguiu um emprego como telegrafista na Western Telegraph, porém seu interesse se resumia ao teatro. Aos dezoito anos, começou a freqüentar, todas as noites, o teatro Helvética, localizado na Rua da Imperatriz, n. 59, onde assistia às revistas e fazia amizade como os atores. De propriedade de Girot & Cia. o Helvética, “um cassino familiar”, como gostavam de apregoar seus donos, ajustava sua programação exibindo, além de concertos de variedades, filmes nos fins-de-semana.
Proibido pelo pai de continuar indo ao Helvética, saiu de casa, largou o emprego de telegrafista e foi trabalhar em teatro.
Apesar das diversas versões apresentadas pelo próprio Barreto sobre o início de carreira, sua estréia teria acontecido, em 1923, na Companhia Paraense de Leonardo Siqueira, fazendo o papel de um ladrão de galinhas na revista Eu Vi, encenada no Helvética.
No mesmo ano, conseguiu o papel de galã no filme Retribuição, a primeira produção cinematográfica realizada em Pernambuco, pela Aurora Filmes, no chamado Ciclo do Recife. Estrelou, ainda, em 1925, o filme Filho sem Mãe, produzido pela Planeta Filme.
Viajou pelo interior de Pernambuco e outros estados brasileiros com diversos grupos e companhias teatrais. Autodidata, desde o início da carreira se consagrou como ator cômico e irreverente, ficando conhecido nacionalmente como O Rei da Chanchada.
Casou-se, no dia 20 de fevereiro de 1932, com Maria Anunciada Ferreira, atriz de um grupo de teatro amador da cidade de Moreno, Pernambuco, que ele conheceu nas suas viagens pelo interior do estado e com quem teve dois filhos, Marilourdes e Luciano. Passaram então a atuar juntos em peças teatrais. Por considerar que Maria Anunciada não era um nome artístico apropriado, Barreto o trocou por Lenita Lopes.
Ambos integravam, desde 1931, o elenco do grupo Gente Nossa, criado e dirigido por Samuel Campelo. No Gente Nossa, Barreto Júnior atuou nas peças O interventor, de Paulo Magalhães; Sangue de gaúcho, de Abadie Faria Rosa;Casa de Gonçalo, de Lucilo Varejão; e a opereta A rosa vermelha,de Samuel Campelo e Valdemar de Oliveira.
Ansioso para viajar e não apenas ficar no Recife aguardando excursões do Gente Nossa, abandonou o grupo e criou a Companhia Regional de Comédias e Burletas [comédia ligeira] Barreto Júnior, levando consigo a esposa Lenita Lopes, a cunhada Gina Lopes e, com outros atores e atrizes, começou a viajar pelo interior de Pernambuco e outros estados brasileiros.
Em 1933, estreou no Teatro Municipal de Belo Horizonte, em Minas Gerais, a burleta Flor agreste, um romance de amor nos sertões do Nordeste e também O homem chegou, onde interpretava um matuto nordestino.
Em 1936, com o grupo agora denominado de Companhia Brasileira de Comédias, apresentou-se, com grande sucesso de crítica e de público, no Teatro Artur Azevedo, em São Luiz do Maranhão, com a peça Compra-se um marido, de José Wanderley. Por percorrer o Brasil de Norte a Sul, é considerado um desbravador e um pioneiro do teatro brasileiro.
Em meados da década de 1930, Barreto Júnior viajou para o Rio de Janeiro, comprou uma casa em Jacarepaguá e fez da cidade sua base de atuação por dez anos.
No Rio, após ter desfeito seu grupo teatral, trabalhou como ator principal da Companhia de Revistas Otília Amorim e foi administrador da Companhia Jaime Costa, onde sua esposa Lenita obteve grande sucesso na peça Pertinho do céu,de José Wanderley e Mário Lago, apresentada no Teatro Rival, do Rio, e no Santa Isabel, no Recife.
Sentindo falta da vida de viajante, criou novamente, em 1940, a Companhia Nacional de Comédias Barreto Júnior, com o objetivo de percorrer o País.
Em 1941, sob os auspícios do Serviço Nacional do Teatro (SNT), Barreto e sua nova companhia já viajavam pelo País, apresentando-se regularmente tanto em cidades do interior como nas capitais. Além de peças originais, eram incluídas também textos que haviam obtido sucesso de bilheteria no Rio de Janeiro, como O homem de cabeça de ouro, de Viriato Correa que ficou em cartaz durante vários meses no Teatro Glória, encenada por uma companhia carioca.
Em 1944, a Companhia Barreto Júnior voltou a se apresentar no Recife, estreando a peça Tudo por amor, de José Wanderley, no Teatro Santa Isabel. Também foram apresentadas durante a temporada recifense as peças Canário,de José Wanderley e Mário lago; A cigana me enganou, de Paulo Magalhães e O mundo é uma bola (Le Nid), do francês André Mirabeau.
No mesmo ano, Barreto foi convidado por Assis Chateaubriand para apresentar espetáculos do seu grupo em Fernando de Noronha, onde havia pracinhas brasileiros por causa da 2ª. Guerra Mundial. Por ter atendido de imediato ao convite, foi condecorado com uma medalha de ouro pelo Governo do Estado do Pará, e com uma de honra ao mérito pelo interventor de Pernambuco, Agamenon Magalhães que o denominou de Rondon do teatro brasileiro.
No final da década de 1940, Barreto voltou ao Recife, fixando residência com a família no bairro do Prado.
Devido à falta constante de espaço disponível para encenar seus espetáculos, decidiu lutar para ter um teatro próprio na cidade. Utilizava, às vezes, os palcos do Cine Ideal, no bairro da Torre e do Cine Eldorado, em Afogados, uma vez que o Helvétia já havia fechado e o Moderno, o Politeama e o Parque funcionavam só como cinema.
Entre 1950 e 1952, Barreto conseguiu construir o Teatro de Emergência Almare, localizado no bairro de Santo Antônio. O Almare - chamado por Barreto Júnior de teatro desportivo (podia ser freqüentado de traje esporte, abolindo-se a formalidade exigida no Santa Isabel) e o baixo preço dos ingressos - foi inaugurado pela Companhia Nacional de Comédias Barreto Júnior, com a peçaAmor, de Oduvaldo Viana. Carlota Joaquina, de R. Magalhães Júnior – com Barreto Júnior no papel de D. João VI – e As três Helenas, uma comédia do argentino Armando Mook foram também encenadas no Almare, além de diversas revistas cariocas, que trouxeram ao Recife atores conhecidos nacionalmente como Oscarito, Zé Trindade, Zezé Macedo, entre outros.
Em 1952, o teatro foi desmontado para o alargamento da Av. Dantas Barreto, sendo construído o Almare II, no Parque 13 de Maio, que só funcionou até 1954, porque não conseguiu ter sucesso. Em 1955, Barreto Júnior reativou o Helvética, porém também não obteve êxito. Em 1956, com o apoio da Prefeitura, foi construído o Teatro Marrocos, um barracão de madeira para aproximadamente 400 lugares na Av. Dantas Barreto, que funcionou até 1958. De lá foi transferido para a Praça da República, ao lado do Liceu de Artes e Ofícios, onde permaneceu em atividade com peças de teatro de revista e sessões de strip tease até o início dos anos 1970 quando foi demolido.
Mesmo depois da demolição do Marrocos, Barreto Júnior continuou remontando peças e excursionando pelo País, engajando-se também na campanha nacional pela regulamentação da profissão de ator. Sonhava em construir um novo teatro, dessa vez no bairro de Boa Viagem.
Em 1978, ganhou o Troféu Mambembe, do Serviço Nacional de Teatro, junto com Paschoal Carlos Magno e afastou-se definitivamente do palco.
Morreu no Recife, no dia 21 de fevereiro de 1983, aos quase 80 anos de idade.
Em 1985, a Prefeitura do Recife concretizou seu sonho acalentado nos últimos anos de vida, inaugurando, no Pina, o Teatro Barreto Júnior.
Recife, 28 de agosto de 2008.
Fontes consultadas
BIOGRAFIA José do Rego Barreto Júnior. Disponível em: . Acesso em: 8 ago. 2008.
FIGUEIRÔA, Alexandre. Barreto Junior, o rei da chanchada. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2002.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Barreto Júnior. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2008. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/barreto-junior/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2021.)