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Pina (Bairro, Recife)

Falar sobre a historia do bairro do Pina é interagir com os vários segmentos preciosos de um povo entusiasta e politizado da cidade do Recife.

Pina (Bairro, Recife)

Última atualização: 18/03/2022

Por:
Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores
Cláudia Verardi - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Doutora em Biblioteconomia e Documentação

Falar sobre a historia do bairro do Pina é interagir com os vários segmentos preciosos de um povo entusiasta e politizado da cidade do Recife, herdeiro, em sua bacia, das águas marítimas e fluviais, sabedor da sua importância social e cultural.
Faremos junto, com o leitor, esta viagem!

1. Como surgiu o bairro do Pina?

O Pina era um arquipélago e sua historia é a historia da própria cidade do Recife, tomada das águas através de aterros sucessivos e utilizados como arma de resistência a medida que os altos arranha – céus de Boa Viagem avançaram e ocultavam os esgotos, mocambos, palafitas, casas de madeira e outras importantes referências do antigo bairro.

 



"Nasci no bairro do Pina, só havia palafitas, água e lama. Ajudei a construir os aterros e a promover as transformações ocorridas nos últimos tempos com meus companheiros".
(Foto à esquerda: Sr. Waldemir Reis - Morador do Bairro entrevistado).
Fonte: As autoras.

2. Características do bairro:

A partir da territorialidade e dos espaços de vida criados em torno da necessidade de moradia, e do direito à cidadania surgiu o nobre bairro do Pina. Bairro praieiro que possui caráter residencial e comercial, com destaque ao setor gastronômico.
O bairro conta, atualmente com escolas particulares, estaduais e municipais, creches, postos de saúde, clínicas médicas, Teatro Barreto Júnior, Shopping Center Rio Mar, cartório e farmácias.

3. Localização:

Localizado a cinco minutos do centro do Recife, no sul da cidade, o bairro tem como limites:



    Foto: Mapa Turístico do Recife.
    Fonte: Acervo da Prefeitura do Recife.

Ao norte: Brasília Teimosa e Porto do Recife
Ao sul: Boa Viagem
Ao leste: Oceano Atlântico
Ao oeste: a bacia do Pina
Pina é lugar estratégico de entrada para o continente e foi palco de muitas batalhas: invasão holandesa, mascates, epidemias.

4. Qual a origem do nome “Pina”?

André Gomes Pina e o irmão dele conhecido como “Cheira Dinheiro” vieram se estabelecer no bairro com seu comércio de açúcar com a Europa. Os nomes deles foram usados para identificar as ilhas onde moravam. Os irmãos exploravam a mão-de-obra escrava para os serviços de exportação. Dentre as ilhas do Bode, da Raposa, das Cabras, do Felipe e do Pina, a mais conhecida era a ilha do cheira dinheiro. Foi chamada de Fernão Soares e depois Ilha da Barreta. Mas, o nome que o povo escolheu e pelo qual ficou conhecida foi “Pina”; e até hoje permanece. 

5. Invasão holandesa:

Os holandeses invadiram Pernambuco em 1630. Como Pina é localizado perto do porto do Recife, eles ocuparam a ilha do Cheira Dinheiro, como base para a conquista de afogados. A população do Pina debandou. Em 1645 dois pescadores pernambucanos partiram da Ilha do Pina numa jangada e incendiaram dois navios holandeses no porto do Recife um dos pescadores se chamava João Tavares, conhecido como “o Muribeca”. Por causa desse ataque os holandeses resolveram construir o Fortim Schoonemburg, no pontal do Pina, para defender a parte sul do porto.

6. Os Jesuítas:

Os jesuítas chegaram na praia do Pina em 1600. Eles possuíam uma fazenda e lá guardavam uma imagem de Nossa Senhora do Rosário. Por isso essa santa é a Padroeira do Pina até os dias atuais.

7. O misterioso cemitério do Pina:

Em 1853, Recife ganhou um novo hospital construído no Pina, afastado da população. Era um hospital utilizado para a quarentena de africanos e viajantes vindos da Europa, naqueles tempos de epidemia de cólera. Ficou conhecido como hospital da Bubônica e pertencia à Santa Casa de Misericórdia. Ao seu lado havia um cemitério. No lugar do cemitério foi construída a Escola Reunida Landelino Rocha.

8. Pina dos pescadores:

Antigamente, as leis não reconheciam a profissão de pescador, eles viviam à margem da sociedade, à margem do rio. Diferentes governos fecharam-lhe os caminhos do mar! A pergunta se repetia: onde morar? Como sobreviver? O mar propiciava o trabalho autônomo, economia de subsistência.



Foto: Pescadores do Pina.
Fonte: Ajax Lins Pereira (1950).

Os pescadores tomaram posse do Pina, como posseiros nas terras da Santa casa. Trabalharam, aterraram, criaram seu próprio espaço no mundo e atraíram outros moradores sem saber que isto atribuiria um valor para o Bairro e atrairia também as leis selvagens do mercado e da expansão urbana e capitalista.

Inicialmente moravam em casa de palha como as casas dos índios onde a maré entrava e saia. Havia muitas árvores frutíferas no meio da rua: mangueiras, coqueiros, cajueiros, entre outras.

Quando não havia mais terreno para fazer casas, começaram a fazer aterros com lama da própria maré. Quando era socada ficava dura parecendo cimento. Hoje, se faz aterro com lixo, metralha e até mesmo casca de sururu. No final do século XIX as únicas casas de alvenaria eram: a antiga sede da fazenda da Barreta que se tornara casa de veraneio do Barão do livramento, as ruínas do forte holandês, o Lazareto e a casa do Coronel João Guedes. O mais eram casas de palha. Mesmo assim, não possuíam eletricidade, usavam candeeiro a querosene que se comprava no mercado de São José. Na rua era utilizado o lampião a gás que os trabalhadores do gasômetro acendiam no final da tarde e só apagavam pela manhã.

Foi no inicio de 1930 que começaram os arruados (pequenos povoados à beira da estrada) e as definições das quadras e quarteirões.

A maré era “rica”, fornecia aos habitantes da região comida, as raízes dos mangues quando cortadas vinham cheias de ostras – mesa farta. Era o que ajudava as famílias a sobreviverem.

No ano de 1940 o Recife se expande e outros proprietários chegam ao Pina e suas marés, rios, ilhas e praias desertas desaparecem na paisagem urbana que vai se ampliando.

9. Ponte:

A primeira ponte do Pina data de 1910, era uma ponte estreita, de madeira, mais comprida que as atuais. Foi muito útil para o crescimento do Pina.

10. O Bonde:

Em 1924, com a reforma da ponte de Pina é que os bondes vieram para o bairro. Eles tinham duas classes: a primeira mais confortável e a segunda carregava carga e era onde viajava a população pobre que pagava passagem mais barata.

“Passava ônibus antigamente dentro da comunidade do Bode, mas era coisa de rico”  (Foto à esquerda: Srª. Maria da Penha Gonçalves Lima - Moradora do bairro entrevistada).

Fonte: As autoras.

11. Xangô, pastoril e coco de roda:

O governador Estácio Coimbra mandou fechar os terreiros de candomblé do Recife mas, logo em seguida, passou a frequentar o Xangô da Baiana do Pina. O Pastoril, Bumba–meu–boi, roda de coco, mamulengo – tudo era divertimento oriundo da tradição cultural afro-descendente.
Hoje, o Pina possui 12 terreiros de candomblé.

12. Diversidade Religiosa:

A igreja matriz do Rosário foi fundada em 1932 pelo Padre José Fernandes Machado. Ele também construiu a Capelinha do Menino Jesus, o convento dos Capuchinhos, o Patronato nossa Senhora da Conceição e a igreja de Brasília Teimosa.
Os evangélicos, em 1933, se reuniram e ergueram a primeira Igreja Batista do Pina que se encontra situada na Rua Eurico Vitruvio, conhecida como  Rua do Caju. Era, a princípio, uma casinha de madeira coberta de palha. Depois, foram aparecendo outras igrejas: a Presbiteriana, a Assembleia de Deus, a Congregacional e outras.

13. O projeto Pina e a transformação do Bairro do Pina:

A transformação do bairro do Pina nasceu da vontade do povo de sair da lama e melhorar suas condições de moradia. Foi planejada, discutida pelos moradores do bairro nas reuniões de rua, nas assembleias e na união dos moradores. O BNDS (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou o projeto e financiou a execução das obras pela prefeitura.
Através do projeto Pina aconteceu uma grande transformação com a pavimentação das ruas e becos, construções de escolas, creches e algumas casas. A legalização de posse da terra nunca aconteceu.  
O bairro se desenvolveu bastante por possuir localização privilegiada e ninguém pensa em se mudar, os moradores querem usufruir do progresso do chão que seus antepassados construíram!

14. Moradores entrevistados: guardiões da memória do bairro e agentes da história:

Foram dois os moradores entrevistados para melhor conhecimento do Bairro do Pina e suas peculiaridades:

1. Waldemir Nascimento Reis, Rua Melqui Ribeiro 510 A -Pina, Nascido em 1944.
2. Maria da Penha Gonçalves de Lima, Rua Eurico Vitruvio, Nascida em 1961.

 

* Este texto faz parte do projeto Interagindo com a História do Seu Bairro, uma parceria da Fundação Joaquim Nabuco com o Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores.

 

 

Recife, 10 de setembro de 2016.

 

Fontes consultadas

SILVA, Oswaldo Pereira da. Histórias do Pina. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2008.

SILVA, Oswaldo Pereira da. Pina: povo, cultura, memória. Recife: Funcultura, 2008.

 

Como citar este texto

GUIMARÃES, Valkiria Maria de Souza; LIMA, Maria das Graças Freitas S.; VERARDI, Cláudia Albuquerque. Pina (Bairro, Recife). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2016. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/pina-bairro-recife/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)