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Grupo Gente Nossa

 Grupo de teatro criando em 2 de agosto de 1931 por Samuel Campelo e Elpídio Câmara.

Grupo Gente Nossa

Última atualização: 11/03/2022

Por: Virgina Barbosa - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Biblioteconomia e História

Nas décadas de 1920 e 1930, a cidade do Recife era tida como palco pioneiro e escola de teatro.  Por aqui passaram e se apresentaram diversas companhias de teatro para o deslumbre e aplausos do espectador recifense. Foi também nessas décadas que surgiu o que Valdemar de Oliveira chama o ciclo das operetas pernambucanas: os Irmãos Valença lançam Coração de violeiro, O gato escondido, Noites de Novena; Nelson Ferreira escreve com Silvino Lopes O sargento sedutor; Valdemar de Oliveira faz as partituras para as operetas de Samuel Campelo A madrinha dos Cadetes, A rosa vermelha, Aves de Arribação; e escreve Boby e Bobete, representada pela carioca Rosália Pombo, e Ninho Azul.

Empenhados em conceber um grupo para fazer teatro permanente no Recife, Samuel Campelo e Elpídio Câmara formaram, em 2 de agosto de 1931, o Grupo Gente Nossa que reuniu talentos da arte cênica como Luiz Maranhão, Barreto Júnior, Luísa de Oliveira, Jovelina Sores, Lourdes Monteiro, Luiz de França, Amália de Sousa, Lenita Lopes, Vicente Cunha e Luiza Teixeira. Foi batizado Gente Nossa porque Samuel queria uma companhia de teatro com pessoal de Pernambuco, “de casa”. E conseguiu. Pelo menos por alguns meses, porque depois foi auxiliado por artistas do sul do país, como Maria Amorim, Avelar Pereira, e os atores e ensaiadores portugueses Manoel Mattos e Adolpho Sampaio.

Estreou no Teatro Santa Isabel com a comédia em três atos A honra da tia, de autoria de Samuel Campelo, tendo Elpídio como galã. Foi a dedicação constante do seu fundador, Samuel Campelo – que, por muitas vezes, manteve a equipe com dinheiro do seu próprio bolso –, que tornou o Grupo a primeira companhia do Nordeste. A realização de saraus e vesperais aos sábados foi, gradualmente, conquistando a população, também atraída pelo slogan “teatro a preço de cinema”. Num editorial do Jornal do Commercio, foram muito elogiados. Inclusive, afirma o texto, foi o Grupo Gente Nossa “que tornou acessível o ingresso do povo ao Teatro Santa Isabel, anteriormente frequentado unicamente pela sociedade rica e portentosa”.

Depois da estréia, houve apresentações nos subúrbios do Recife, pelo interior de Pernambuco e por outros Estados, como Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e Paraíba. A trajetória do Grupo para o sucesso seguia a passos largos. Fato reconhecido pelo governo de Pernambuco que o auxiliou disponibilizando o Teatro Santa Isabel para a sua sede.

Em 1932 e 1933, a atuação do Grupo foi marcante, embora outras companhias teatrais tenham atuado no Recife, como a Tuna Portugueza, o Grêmio Familiar Magdalenense, e o Grêmio Afogadense.

Ao completar dois anos, o Gente Nossa representou a opereta Ninho Azul,  composta por Valdemar de Oliveira para essa ocasião.

As criações teatrais de Valdemar sempre tiveram o apoio do Grupo, inclusive sua primeira comédia Tem de casar, casa... e, em seguida, Os três maridos dela. O Gente Nossa o fazia exercitar seu talento, sua criatividade, além de promover o seu aprendizado em arte dramática, cenografia, e a lidar com a maquinaria que muito lhe valeu como encenador. O grupo criado por Samuel, disse Valdemar, é “uma escola onde aprendi não apenas a teoria, mas a prática, isto é, onde aquela encontrava, na realização de modestos ou de grandes espetáculos, sua mais fecunda aplicação. Era escola de arte dramática e era escola de aplicação” (OLIVEIRA apud CADENGUE, 2011).

Valdemar foi um personagem muito importante para a história do Grupo Gente Nossa. Amigo e companheiro teatral de Samuel Campelo, foi o timoneiro do Grupo quando da morte do seu fundador, em 10 de janeiro de 1939. Enfrentou muitas dificuldades para manter em atividade a equipe, teve o apoio de muitos, inclusive do governo, mas não conseguiu evitar a sua extinção. Diz Valdemar citado por Cadengue (2011):

Mesmo com suporte do Governo, mandando e desmandando dentro do Santa Isabel, eu não conseguia, em alguns meses, o que Samuel conseguira em muitos anos: manter a coesão do conjunto, resistir aos mexericos, realizar substituições impossíveis. Ademais, ele trabalhava comigo. Eu trabalhava sozinho, na administração e na direção artística. Pelo que, tudo pago, suspendi o Grupo e fui dizer a Agamenon [Magalhães] que havia perdido a batalha.

O Grupo Gente Nossa sobreviveu sem Samuel por cerca de cinco anos. Nesse período, Valdemar desativou “o Departamento Profissional lentamente e fundou outros dois: o Infantil, logo em 1939, e o de Amadores, em 1941” (CADENGUE, 2011). A partir de 1944, o Teatro de Amadores firma-se completamente e passa a não incluir mais em seus programas sua ligação com o Grupo Gente Nossa, que de 1941 a 1944, existia apenas como seu produtor executivo.
 

 

 

Recife, 31 de outubro de 2011.

Fontes consultadas

ARAÚJO, Telga de. Glória e grandeza do Santa Isabel. Contraponto, Recife, ano 5, n. 12, dez. 1950. Ed. especial do Centenário do Teatro Santa Isabel.

CADENGUE, Antonio Edson. TAP – sua cena & sua sombra: o teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991). Recife: Cepe, 2011. v. 1, p. 70-73.

CAMPELO, Samuel. Como se cultiva o Theatro em Pernambuco. Anuário de Pernambuco para 1934, Recife, p. 246-248, 1934.

GRUPO Gente Nossa (foto nesta página). In: CAMPELO, Samuel. Como se cultiva o Theatro em Pernambuco. Anuário de Pernambuco para 1934, Recife, p. 246-248, 1934.

MELO, Clóvis. Samuel Campêlo. Contraponto, Recife, ano 5, n. 12, dez. 1950. Ed. especial do Centenário do Teatro Santa Isabel.

Como citar este texto

BARBOSA, Virgínia. Grupo Gente Nossa. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2011. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/grupo-gente-nossa/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)