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Parlendas

São versos de cinco ou seis sílabas, recitados para entreter, acalmar e divertir crianças, escolher quem deve iniciar um jogo ou os que devem tomar parte numa brincadeira.

Parlendas

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 13/05/2021

Por: Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica

Veja também a Atividade Pedagógica Parlendas!

 

São versos de cinco ou seis sílabas, recitados para entreter, acalmar e divertir crianças, escolher quem deve iniciar um jogo ou os que devem tomar parte numa brincadeira.

São sempre rimas ou ditos educativos ou satíricos e não têm música.

 

Em Portugal, as parlendas são chamadas de cantilenas ou lenga-lengas.Foram introduzidas no Brasil pelos portugueses, adquirindo no país roupas e cores novas, mais de acordo com o caráter nacional.

 

As parlendas diferem dos acalantos, que são cantigas para fazer criança dormir; dos jogos, onde há sempre disputa e competição; das canções de roda; das advinhações ou advinhas (perguntas enigmáticas) ou supertições.

 

Os brincos são as parlendas mais fáceis, ditas e recitadas pelos pais ou babás para entreter ou aquietar as crianças:

Marra-marra

Carneirinho
Marra-marra carneirinho


Palminha, palminha
Palminha de Guiné
Pra quando papai vier
Mamãe dá lá papinha
Vovó dá la cipó
Na bundinha do neném

Dedo mindinho
Seu vizinho
Maior de todos
Fura-bolos
Cata-piolho 

      
Segundo Luís da Câmara Cascudo, quando as parlendas se destinam a fixar ou ensinar algo às crianças (números ou ideias) são chamadas de mnemonias:

Um, dois, feijão com arroz.
Três, quatro, feijão no prato.
Cinco, seis, feijão pra nós três.
Sete oito, feijão com biscoito.
Nove, dez, feijão com pastéis.

 

         ou a versão
Um, dois, feijão com arroz,
Três, quatro, feijão no prato.
Cinco, seis, cala a boca Português.
Sete, oito vá comer biscoito.
Nove, dez vá lavar os pés
Na cachoeira nº10
Pra ganhar 500 réis.


Outra parlenda mnemonia muito conhecida para ensinar a contar:

Una, duna, trina, catena
Bico de ema
Solá, soladá
Gurupi, gurupá
Conte bem que são dez!


Na literatura oral a parlenda é um dos primeiros entendimentos da criança, permanecendo gravada na memória do adulto.

 

Há parlendas que são de iniciativa da própria criança, utilizadas nas suas brincadeiras. Algumas das mais conhecidas:

 

Rei,
Capitão,
Soldado,
Ladrão
(contando os botões do casaco para ver com quem vai casar)

 

ou a versão

Casa
Não casa,
Casa,
Não casa....

Bem-me-quer,
Mal-me-quer, (desfolhando uma flor e pensando em alguém)
Bem-me-quer,
Mal-me-quer....


Muito conhecidas também são as parlendas para pegar os tolos em armadilhas: pede-se para que a pessoa repita uma determinada expressão depois da última palavra dita, por exemplo “de sete facadas”.

 

Eu ia por um caminho...
Caminho de sete facadas...
Encontrei um vaca...
Vaca de sete facadas...
Encontrei uma casa...
Casa de sete facadas...
Encontrei um morro...
Morro de sete facadas!

 

Outro tipo de parlenda interessante no folclore brasileiro é a trava-línguas, que consiste num texto rimado ou não que é dificil de dizer:

Se o Papa papasse papa/ Se o Papa papasse pão/ O Papa tudo papava/ Seria o Papa papão
Aranha arranha a jarra/ a jarra arranha a aranha.


Os ex-libris infantis também são uma outra forma de parlenda muito utilizada pelos estudantes para tentar evitar o ladrão de livros. Escreviam na ante-capa:

 

Quem pegar neste livro
Não causa admiração;
Mas quem com ele ficar
Não passa de um ladrão.


A tradição oral das parlendas é transmitida de geração em geração, com variantes regionais. Infelizmente, hoje essa rica manifestação popular só sobrevive em algumas regiões rurais brasileiras e em alguns trabalhos de folcloristas que as catalogaram.

 

 

Recife, 9 de novembro de 2004.
Ilustrações de Rosinha.

 

Fontes consultadas

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro. 3.ed. rev. e aum. Brasília, DF: INL, 1972. 2v.

 

MELO, Veríssimo de. Folclore infantil. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília, DF: INL, 1981.

 

Como citar este texto

GASPAR, Lúcia. Parlendas. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/parlendas/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)