Engenho Poeta
Última atualização: 28/09/2022
O Engenho Poeta situava-se na margem direita do Rio Capibaribe e até 1942, funcionava como engenho de açúcar. Vendido em 1945, a parte de suas terras onde existiam a moenda e a casa de vivenda, abriga, desde então, o Caxangá Golf & Country Clube (Avenida Caxangá, nº 5362, Caxangá, Recife - PE). O restante da área foi loteado e vendido posteriormente. Desde a sua fundação, passou por vários proprietários - o maior número deles entre os séculos XIX e XX.
Dentre proprietários, moradores e rendeiros do Engenho Poeta, os senhores: Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, José Carneiro Rodrigues Campelo, Luis Francisco Corrêa de Araújo, Manoel Joaquim Corrêa de Araújo, João Cleofas de Oliveira, Pio Genésio Guerra e Francisco Heráclito do Rêgo.
Na parte do engenho que foi loteada existe agora uma rua denominada exatamente de Rua Engenho Poeta; uma área residencial, arborizada, calçada, ladeada de palmeiras, com casas, dois edifícios - sendo um altíssimo para um bairro recifense que, há poucas décadas, era considerado rural e bucólico, como todo o bairro do Caxangá. O edifício de 30 andares recebe o nome de Engenho Poeta e fica do lado do Caxangá Golf & Country Club, com vistas para um dos espaços verdes mais privilegiados do Recife. Em outra rua, a Vicente Zirpoli, próxima à Rua Engenho Poeta, há também outro prédio que remete ao velho Engenho e que tem o nome de Edifício Engenho Prince. Do outro lado da Avenida Caxangá, já no bairro da Várzea, existe ainda o Residencial Engenho Poeta, na Rua Estevão de Sá, e o Edifício Engenho Poeta, na Rua Professor Artur de Sá, outras alusões ao Engenho mais famoso da região.
HISTÓRIA
Segundo Pereira da Costa “em 1746, contava a freguesia da Várzea do Capibaribe com 482 fogos (casas ou famílias) e 2.998 habitantes. Tinha 18 capelas, onze engenhos moentes, quatro de fogo morto, uma companhia de cavalaria com 72 praças e duas ordenanças com 151 praças”. Domingos do Loreto Couto completa, “em 1757, a povoação da Várzea constava de 220 vizinhos e no distrito da Freguesia existiam 672 moradores e 4.240 almas em confissão. Em 1882, existia na Várzea do Capibaribe uma povoação sempre ligada à agroindústria açucareira, em funcionamento os engenhos: Borralho, Brum, Cova de Onça, Cumbe, Curado, do Meio, Poeta, Santo Cosme, São Francisco, Santo Inácio, Santo Amarinho e São João, que pertencia a Manuel Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, senhor do engenho São Cosme localizado também na Várzea”.
Gilda Maria Whitaker Verri, no seu livro Tintas sobre Papel - Livros e Leituras em Pernambuco no século XVIII (1759-1807), destaca num inventário do ano de 1815, que "haviam oito herdeiros, moradores do sítio do Poeta, freguesia de Nossa Senhora do Rosário da Várzea que eram provavelmente agricultores". E informa: "Talvez esse sítio fosse desmembrado do Engenho Poeta".
Na Planta da Cidade do Recife e seus arrabaldes, de 1875, o Engenho Poeta aparece destacado e localizado na capital pernambucana, em Caxangá - situado entre os engenhos do Meio, do Brum, de Camaragibe e de Dois Irmãos. A Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro) possui um exemplar do documento que foi um novo mapa cartográfico para o município, pois a planta de 1855 estava "esgotada". Elaborado em março do ano citado pela Repartição de Obras Públicas, a pedido do então presidente da província, o desembargador Henrique Pereira de Lucena - o Barão de Lucena.
Numa crônica em que narra o caminho que percorreu o seu padrinho, feito através do bonde, pela antiga estrada de Paudalho, hoje Avenida Caxangá, nos idos do final da década de 20 ou início da década de 30, no Recife, Marcos Ferreira da Silva Sobrinho, conta no seu livro Várzea - Lembranças de um tempo que se foi como se deu e o que foi visto nesse “passeio” rumo ao passado:
“Enxerga-se ao longe o canavial do Engenho do Meio. As habitações vão rareando. Um ou outro mocambinho isolado, em meio à capoeira espessa que ladeia a estrada quebra a uniformidade da paisagem. O transporte avança sobre os trilhos. Agora, corta o canavial do Engenho Poeta. Os carros de boi com sua gemedeira habitual se cruzam num vaivém contínuo. Uns estão indo buscar cana, outros já carregados a levam para a moagem. Os bois nem precisam do comando do carreiro, a vara com ferrão na ponta é só um adereço, os animais já sabem a rotina que devem cumprir. Do bonde é possível se observar a moenda do Engenho Poeta em plena atividade.”
Atualmente, no meio desse caminho, na Avenida Caxangá, em frente a entrada do Caxangá Golf e Country Club existe uma estação do moderno ônibus BRT que leva o nome de Estação Engenho Poeta, em homenagem ao antigo engenho que existia próximo ao local.
DE ENGENHO A CLUBE
Em julho de 1928, um grupo de britânicos liderado por George Alexander Duncan Little, alugou a parte norte das terras do Engenho Poeta e começou a praticar o golfe num clube com o nome de Pernambuco Golf Club, que em 1945, adotou o nome de Caxangá Golf & Country Club. O clube se fixou numa área de 22 hectares da parte norte do Engenho Poeta, em Caxangá, do Coronel Manoel Joaquim Corrêa de Araújo.
Desde 7 de outubro de 1928, data em que foi realizada a inauguração festiva do campo e da sede do clube, o campo de golfe do Caxangá vem mudando constantemente. De uma propriedade onde se produzia açúcar e mel para o campo de golfe oficial de hoje, muito aconteceu ao longo dos últimos 93 anos nas terras do antigo Engenho Poeta. A área do engenho era utilizada também para o pasto do rebanho de gado e tinha uma casa grande em estilo colonial que veio a ser utilizada como sede do clube.
Finalmente, depois de muitos anos de negociação com o novo proprietário, Coronel Francisco Heráclito, em 1945, o clube concretizou a compra de 72 hectares da parte norte das terras do Engenho Poeta. Atualmente, no salão de jogos de bilhar do clube, existe um painel de autoria de Severino Goulart intitulado "Casa Grande do Engenho Poeta", antiga propriedade rural que existiu no local desse clube de campo inglês.
Recife, 09 de agosto de 2022.
Fontes consultadas
http://www.alepe.pe.gov.br/2005/11/30/caxanga-comemora-60-anos-de-existencia/
https://www.fepeg.com.br/colunas-richard-conolly
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=321
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=569
https://books.google.com.br/books?id=g18DgXqrN1sC&pg=PA501&lpg=PA501&dq=engenho+poeta&source=bl&ots=xabXeB3KiB&sig=ACfU3U0WIF6OkR8v4XrAPAYn0YD8gTkKLQ&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjblqXV2LzuAhWEIbkGHcnlAXY4eBDoATAJegQICRAC#v=onepage&q=engenho%20poeta&f=false
http://engenhosdepernambuco.blogspot.com/2015/06/canavial-o-engenho-sao-joao.html
https://pt.scribd.com/document/388401370/Engenhos-de-Pernambuco-doc
http://engenhosdepernambuco.blogspot.com/2019/10/genealogia-da-familia-barreto-campelo.html?m=1
Silva Sobrinho, Marcos Ferreira da. "Várzea - Lembranças de um Tempo que se foi". Edições Bagaço, 2012.
Cavalcanti, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Câmara Municipal. 1998.
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes/2015/09/27/aflitos-arruda-e-ilha-retiro-no-mapa-de-1875-antes-do-futebol-no-recife/
Como citar este texto
MENEZES, Arthur Pedro Bezerra de. Engenho Poeta. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2022. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/engenho-poeta/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)