O combate de 17 de agosto de 1645, que ficou conhecido como a Batalha de Casa Forte, em alusão ao local onde foi travado, foi uma das mais notáveis vitórias pernambucanas na guerra contra o domínio holandês.
Após a derrota imposta ao exército holandês pelos pernambucanos na Batalha das Tabocas no dia 3 de agosto de 1645, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, a tropa batava, na sua marcha de volta ao Recife, acampou no engenho Casa Forte pertencente a Anna Paes.
No dia 16 de agosto, o chefe dos holandeses, coronel Henrique Hous (van Haus), enviou o major Carlos Blaer com um destacamento para fazer uma revista nas casas do povoado da Várzea onde residiam as famílias de chefes revolucionários pernambucanos e prender suas mulheres.
A missão voltou no mesmo dia, com várias prisioneiras, entre as quais Isabel de Góis, mulher de Antônio Bezerra, Ana Bezerra, sogra de João Fernandes Vieira e Maria Luísa de Oliveira, mulher de Amaro Lopes, que foram encarceradas na casa-grande do engenho.
Comunicado o fato ao exército pernambucano que se encontrava nas proximidades de Tejipió, os chefes João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, arregimentaram seus homens e partiram para socorrer as damas pernambucanas.
Marchando sob pesada chuva e enfrentando as más condições dos caminhos, conseguiram atravessar o rio Capibaribe, na altura do Cordeiro, até alcançar e cercar o engenho de Anna Paes, na manhã do dia 17 de agosto.
Pegos de surpresa pela fúria dos pernambucanos, os holandeses se refugiaram na casa-grande e colocaram as mulheres prisioneiras nas janelas que foram escancaradas.
O chefe da tropa pernambucana, interpretando o ato como um sinal de capitulação, ordenou um cessar fogo e enviou um oficial para negociar a rendição com os holandeses.
O emissário foi morto covardemente na frente da tropa, o que indignou a todos. Esquecendo que entre os inimigos estavam as mulheres dos chefes, os pernambucanos atacaram com ferocidade os holandeses e com sede de vingança atearam fogo na casa.
Cercado e sufocado pela fumaça, o chefe flamengo, coronel Henrique Hous, empunhando uma bandeira branca e o cabo de uma pistola, em sinal de rendição, capitulou junto com sua tropa.
A derrota custou aos holandeses 37 mortos, muitos feridos e mais de 300 prisioneiros, além de grande quantidade de armamento, cavalos e víveres.
Foram feitos prisioneiros vários expoentes da oficialidade holandesa o que atemorizou de tal forma os invasores, que eles mandaram arrasar as casas do Recife, as árvores do Parque de Maurício de Nassau e determinaram a retirada imediata das tropas dos fortes de Sergipe, São Francisco e Porto Calvo e sua transferência para garantir a segurança do centro do Recife e adjacências.
A perda na tropa pernambucana foi pequena, as reféns foram libertadas e os feridos levados para os engenhos de Apipucos e São João da Várzea.
Os prisioneiros holandeses foram enviados para a Bahia. O coronel Henrique Hous partiu da Bahia para Portugal no dia 6 de fevereiro de 1646, chegando a ilha Terceira onde foi encarcerado no castelo de São João até a sua ida para Lisboa. Tendo se recusado a servir a Portugal, foi enviado para a Holanda. Regressou depois a Pernambuco e foi morto na primeira Batalha dos Guararapes, em abril de 1648.
Recife, 21 de outubro de 2004.
Fontes consultadas
COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Anais pernambucanos. 2. ed. Recife: Fundarpe, 1983. v. 3. p. 230-233. (Coleção pernambucana, 2a. fase).
GUERRA, Flávio. Casa Forte. Revista do Conselho Estadual de Cultura, Recife, p. 77-80, [2000]. Edição especial.
VASCONCELLOS, Telma Bittencourt de. Dona Anna Paes. Recife: Edição do Autor, 2004. 208 p
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Batalha de Casa Forte. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/batalha-de-casa-forte/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)