Olegária Mariano (Abolicionista)
Última atualização: 21/09/2022
A verdadeira História de Pernambuco possui, em seu acervo, uma série de ícones que, por suas ações e exemplos, deixaram marcas indeléveis nas gerações passadas e futuras. Um deles trata-se de Olegária da Gama Carneiro da Cunha, conhecida, também, como Dona Olegarinha, Dona Olegarinha da Cunha, ou Olegária Mariano. Nascida no Recife, no dia 18 de setembro de 1859, era filha de Olegária Duarte da Costa e José Eustáquio Fernandes Gama. Casou-se com o célebre abolicionista José Mariano e, com ele, teve dois filhos: os escritores Olegário Mariano e José Mariano Filho. Após o matrimônio, adicionou ao seu nome, o sobrenome do esposo.
A título de um parêntesis, vale destacar que, o marido de Olegária, da mesma forma que Joaquim Nabuco, Barros Sobrinho, João Ramos, Alfredo Pinto, Phaelante da Câmara, Vicente do Café, Leonor Porto, e tantos outros mais, foi membro da Associação Emancipatória Clube do Cupim, fundado em 1884, no Poço da Panela, que alforriava, defendia e protegia os escravos. E que, o nome José Mariano, foi colocado em um importante cais que margeia parte do rio Capibaribe, na cidade do Recife, como uma homenagem ao ilustre abolicionista.
Olegária foi uma figura de grande relevância na comunidade negra do século XIX. Ela residia no Poço da Panela, onde, na época, existiu um dos grandes redutos abolicionistas pernambucanos. Por sua bondade e dedicação aos escravos, recebeu o apelido de Mãe dos pobres e Mãe do povo.
Apoiava os escravos fugidos, roubados das senzalas, ou alforriados, e os ajudava a fugir em barcaças, que, do Poço da Panela, desciam o rio Capibaribe, camuflados com capim e ramagens, para passar defronte da Chefatura de Polícia na Rua da Aurora (atual prédio da sede da Polícia Civil de Pernambuco), a caminho da Província do Ceará, onde a escravidão havia sido abolida em 25 de março de 1884. Na maior parte das vezes, os escravos chegavam sãos e salvos àquela Província.
Apesar de José Mariano ter sido preso, sofrido inúmeras humilhações e terríveis torturas, sua esposa prosseguiu lutando em prol da abolição da escravatura. Chegou a empenhar, inclusive, as próprias jóias, no dia 21 de julho de 1887, para financiar as despesas da eleição de Joaquim Nabuco - seu colega abolicionista - em 1887, ao cargo de deputado-geral.
Apesar de não ser filiada ao Clube do Cupim, Dona Olegarinha teve um papel marcante na história do abolicionismo. Trabalhou nesse Clube e compareceu a vários atos e protestos, sobretudo quando seu marido foi encarcerado, tendo assumido a defesa dos escravos fugitivos.
Esteve presente, no dia 25 de setembro de 1880, ao primeiro aniversário da Sociedade Emancipadora, ocasião em que foram distribuídas trinta e cinco cartas de alforria. E, em 1884, congregou seus esforços em um evento de maior relevância, realizado pelo Clube do Cupim, quando, clandestinamente, foram libertados setenta escravos do engenho São João, pertencente ao barão de Muribeca. Parcela expressiva de sua vida, portanto, foi marcada por riscos e lutas.
Devido às complicações de uma gripe, Olegária da Gama Carneiro da Cunha Mariano faleceu em 24 de abril de 1898. Foi enterrada no Cemitério de Santo Amaro, no dia seguinte à morte, acompanhada por uma multidão de pessoas, que fizeram vários discursos emocionados com a sua partida. Em verdade, a tão querida Mãe dos Pobres teve um funeral solene. No dia de sua morte, José Mariano estava no Rio de Janeiro e, sequer, pôde comparecer ao enterro de sua mulher. Na ocasião, muitos pretos se suicidaram, mediante a ingestão de venenos; ou por afogamento, se jogando no rio Capibaribe.
Alguns feitos de Dona Olegarinha são bem pouco conhecidos das novas gerações, apesar de, sua imagem emblemática, ter se destacado em prol dos negros oprimidos e, via de consequência, na história de Pernambuco.
Em 2009, a Câmara Municipal do Recife instituiu a Medalha Olegária Mariano, em homenagem àquela paradigmática mulher, para agraciar as pessoas ou instituições que promovem a defesa dos direitos humanos. Tal medalha vem sendo entregue, anualmente, em uma reunião solene, no dia 10 de dezembro, data em que se comemora o Dia dos Direitos Humanos.
O calendário oficial de eventos do Estado de Pernambuco instituiu o dia 31 de março, como o Dia Estadual das Mulheres que Mudaram a História de Pernambuco, conforme o Projeto de Lei No 843/2016. Na ocasião, diversas personalidades são agraciadas com o Diploma de Honra ao Mérito Olegária Mariano. É uma justa homenagem àquela estrelinha que, no imaginário dos escravos, brilhou por tanto tempo.
CURIOSIDADE (contribuição da Coordenadora do Pesquisa Escolar):
No bairro de Poço da Panela, na cidade de Recife, encontra-se a Rua Dona Olegarina da Cunha, que é predominantemente residencial (90,32% dos endereços são residenciais).
Recife, 17 de novembro de 2017.
Fontes consultadas
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Como citar este texto
VAINSENCHER, Semira Adler. Olegária Mariano (Abolicionista). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2017. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/olegaria-mariano/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)