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Clube do Cupim

Clube do Cupim foi uma associação abolicionista criada no dia 8 de outubro de 1884 em Recife. A sociedade não tinha estatuto e seu único lema era a libertação dos escravos por todos os meios.

Clube do Cupim

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 24/09/2021

Por: Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica

Na história dos movimentos abolicionistas em Pernambuco, o Clube do Cupim tem um lugar de destaque, apesar de pouco ter sido escrito sobre ele.

A partir de 1880, multiplicaram-se no Brasil as sociedades contra a escravidão, que tinham como objetivo básico angariar fundos para comprar cartas de alforria de escravos. Em Pernambuco existiram mais de trinta dessas sociedades, que foram a gênese do Clube do Cupim, pois muitos dos seus sócios fundadores já participavam ativamente de algumas delas.

Em 24 de março de 1884, o Ceará decretou a libertação de todos os escravos daquela Província. Intensificou-se a campanha contra a escravidão em todo o País.

João Ramos, um maranhense que mudou-se para o Recife aos 14 anos, idealizador e fundador do Clube do Cupim, sonhava em realizar também em Pernambuco o mesmo que fizeram os cearenses. Passou a proteger escravos recomendados a ele, tornou-se conhecido dos negros que o procuravam pedindo ajuda para comprar suas cartas de alforria, prometendo pagá-las com o seu trabalho.

Em 1883, com o auxílio de amigos, João Ramos já havia estabelecido uma rota segura para os escravos fugidos, enviando-os para Mossoró, no Rio Grande do Norte, de onde eram transferidos para Aracati e Fortaleza, no Ceará.

No dia 8 de outubro de 1884, João Ramos reuniu-se com mais onze amigos, na casa de um deles, o cirurgião dentista Numa Pompílio, na Rua Barão da Vitória, 54 (atual Rua Nova) para fundar uma sociedade não emancipadora, mas abolicionista e secreta denominada Relâmpago, que depois mudou o nome para Clube do Cupim.

A sociedade não tinha estatuto e seu único lema era a libertação dos escravos por todos os meios. Como era uma sociedade secreta, seus sócios adotavam um “nome de guerra”, utilizando-se dos nomes das províncias brasileiras da época (atuais estados). Foram seu fundadores: João Ramos, presidente (“Ceará”); Guilherme Ferreira Pinto, tesoureiro (“Goiás”); Alfredo Pinto Vieira de Melo, secretário (“Minas Gerais”); Fernando de Paes Barreto, o orador do Clube (“Maranhão”); Numa Pompílio (“Mato Grosso”), João José da Cunha Lajes (“Amazonas”); Barros Sobrinho (“São Paulo”), Antônio Faria (“Rio Grande do Sul”); Gaspar da Costa (“Rio de Janeiro”); Nuno Alves da Fonseca (“Alagoas”); Alfredo Ferreira Pinto (“Bahia”); Manoel Joaquim Pessoa (“Rio Grande do Norte”) e Luís Gonzaga do Amaral e Silva (“Pernambuco”).

O Clube do Cupim passou depois a ter vinte sócios efetivos. Cada sócio tinha sob suas ordens um capitão, este um sub-capitão que, por sua vez, comandava vinte auxiliares. Todos tinham que adotar um “nome de guerra” utilizando os nomes de localidades brasileiras. Dessa maneira, sempre com vinte sócios efetivos, o Clube do Cupim chegou a contar com mais de trezentos auxiliares.

Além dos fundadores, o Clube passou a contar depois com os seguintes sócios efetivos: Venceslau Guimarães (“Paraná”); Salles Barbosa (“Paraíba”); José Manoel da Veiga Seixas (“Sergipe”); Mendes Guimarães (“Pará”), que por medo de comprometer-se pediu para sair, sendo substituído por Joaquim de Oliveira Borges; Pedro da Costa Rego (“Santa Catarina”), que também foi substituído por Antônio Ferreira Baltar Sobrinho. Por último, ainda em 1885, entraram José Mariano (“Espírito Santo”), o mais notável dos seus membros e Argemiro Falcão (“Piauí”).

Em junho de 1885, o Recife preparou-se para receber Joaquim Nabuco. O Clube do Cupim, apesar da sua discrição colocou um anúncio no Jornal do Recife (dias 14 e 16):

Clube do Cupim: ‘‘A diretoria deste patriótico clube, convida seus numerosos consócios e a todos os homens de cor, que quiserem acompanhar ao Dr. Joaquim Nabuco no dia de sua chegada, a comparecerem no Largo do Arsenal da Marinha, a seis e trinta da manhã”.

Foram realizadas, no total, 21 sessões na sede do Clube, até que no dia 1º de novembro de 1885, resolveram dissolvê-lo por causa das perseguições. Não tinham mais um local fixo para suas reuniões, porém os cupins, como eram conhecidos os abolicionistas, continuavam a atuar clandestinamente.

Evitando ajuntamento, a comissão executiva encontrava-se em diversos locais: sob as árvores da Rua do Imperador, no meio das pontes, nos fundos de armazéns ou vendas, na Praça da República e até na Rua da Aurora, em frente à chefatura de polícia. Discutia, deliberava, dava as suas ordens aos capitães que por ali rondavam e estes iam repassando para os companheiros, que as executavam com brevidade, fielmente e na íntegra.

Todo o trabalho era facilitado porque possuíam adeptos e simpatizantes em todo lugar. Havia uma grande quantidade de “panelas”, como eram conhecidos os esconderijos dos escravos que a sociedade ajudava a libertar.

Suas atividades eram cada vez mais intensas. Os escravos fugiam dos engenhos aos bandos, deixando alguns quase vazios.

O termo “cupim” passou a ser usado até pelos abolicionistas do Rio de Janeiro que pretendiam “libertar os centros populosos e fazer roer o cupim no interior”.

Aqui no Recife, os carregamentos e envios de escravos clandestinos para outros locais, passaram a ser mais numerosos e freqüentes. Os escravos eram enviados também para Camocim, Natal, Macau, Macaíba, Belém, Manaus, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e até Montevidéu, no Uruguai.

A última façanha do Clube do Cupim foi o embarque de 119 escravos, realizado no dia 23 de abril de 1888. Desceram à noite, do Poço da Panela, da casa de José Mariano em uma canoa de capim até a Capunga, sendo depois rebocados por dois botes que fundearam em frente a casa de banhos, passando daí para o barco Flor de Liz e, na manhã seguinte, para um rebocador que os levou para a liberdade. No dia 13 de maio, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.

 

 

Recife, 26 de abril de 2004.
 

Fontes consultadas

SALES, Maria Letícia Xavier. O Clube do Cupim e a memória pernambucana. Revista do Arquivo Público, Recife, v. 40, n. 43, p. 101-115, out. 1990.

VILELA, Carneiro. O Club do Cupim. In: SILVA, Leonardo Dantas (Org.). A abolição em Pernambuco. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1988. p. 25-35. (Abolição, 10).

Como citar este texto

GASPAR, Lúcia. Clube do Cupim. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/clube-do-cupim/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)