[...] A Livro 7 transcendeu a carismática figura de Tarcísio Pereira, a hegemonia de um bloco de esquerda, e tornou-se orgulho de todo o pernambucano. [...] passou a ser uma espécie de Academia Pernambucana de Letras, na qual ter o seu retrato acima das estantes significava um reconhecimento e uma certa imortalidade para a sociedade literária pernambucana. Não foram poucos os intelectuais, escritores e poetas que doaram os seus retratos para ali ficarem expostos: Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, César Leal, João Cabral de Melo Neto [...] (D’MORAIS, 2008)
A Livro 7 teve a sua origem em uma pequena loja (pouco mais de vinte metros quadrados), na Rua Sete de Setembro – uma transversal da Av. Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista. Foi inaugurada no dia 27 de julho de 1970.
Localizada próxima à Faculdade de Direito do Recife, ao Parque 13 de Maio, ao então Cinema Veneza e ao Teatro do Parque, era um ponto de encontro para estudantes, artistas, intelectuais e amantes dos livros em geral, tornando-se um marco para as gerações literárias de Pernambuco.
Em 1978, mudou-se para um grande galpão, na mesma Rua Sete de Setembro, com o objetivo de ser a maior livraria pernambucana. Com os seus cavaletes e estantes, ocupando um espaço de 1.200 m2, tornou-se, nos anos 1970 e 1980 (por cinco anos seguidos), a maior livraria do Brasil, em número de títulos (60 mil) e extensão de prateleiras, segundo o Guiness Book.
A partir da sua expansão, passou a ser, além de uma referência para a intelectualidade pernambucana, um ponto turístico da cidade. Muitas pessoas iam à livraria só para conhecê-la e serem fotografadas junto ao seu acervo. O escritor Fernando Sabino a chamou de Maracanã do Livro.
[...] Em torno da Livro 7, cresceu mais uma geração pernambucana, com os seus escritores, músicos, artistas plásticos e cineastas. As suas sessões de música, de cinema e de artes traziam interessados em obras que certamente não seriam encontradas em outros lugares. E tudo ficava à mostra, acessível, com uma praça no meio para leitura, sem ser necessário adquirir o exemplar. Muitos estudantes usaram a Livro 7 como uma biblioteca pública [...] (D’MORAIS, 2008)
Mesmo na época em que era pequena, já se destacava na mídia pela realização de vários eventos, como tardes/noites de autógrafos, recitais, debates, projeções de filmes em super-8, exposições/performances e até torneios de xadrez, onde foi pioneira.
Hermilo Borba Filho, Antonio Torres, Nagib Jorge Neto, José Mário Rodrigues e Joaquim Cardozo foram os primeiros autores a fazer seus lançamentos na livraria.
Além de consagrados escritores pernambucanos, aí incluídos ainda Gilberto Freyre e João Cabral de Melo Neto, a partir de 1979, em parceria com a Edições Pirata, a Livro 7 realizou diversos lançamentos coletivos. Uma das suas marcas registradas era o acervo de autores pernambucanos. Em algumas das estantes só eram exibidos títulos publicados pela Pirata.
Ponto de reunião para os integrantes da Geração 65 – movimento literário pernambucano – a livraria tornou-se um marco na vida cultural do Recife.
Segundo Tarcísio Pereira (1997, p. 144-145), ex-proprietário da livraria, a Geração 65 tem uma importância enorme para a poesia, incluindo-se no seu bojo, artistas de diversas áreas.
A Livro 7 foi pioneira em conceitos atualmente utilizados por grande livrarias, como espaços amplos, cadeiras para leitura, além de diversos eventos culturais e noites de autógrafos.
Chegou a ter filiais nos estados da Paraíba, Alagoas e no Ceará.
Seu maior e complexo lançamento foi o do escritor americano Sidney Sheldon. Na ocasião, foram vendidos 940 livros em duas horas e meia de autógrafos. Ao conhecer o agente literário do romancista, na Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha, Tarcisio Pereira por meio de várias negociações conseguiu a realização da noite de autógrafos do famoso autor na sua livraria recifense.
Apesar de todo o prestígio e reconhecimento do público e da mídia, por uma série de motivos, o empreendimento entrou em crise financeira e fechou suas portas em 1998.
Numa época de recessão, em que os salários dos professores, maiores clientes da livraria, tinham sido reduzidos; e que a degradação do bairro da Boa Vista era nítida, a livraria, depois de 28 anos de atividades, fechou as portas em 1998. [...]
Com seu encerramento, perdeu-se não só o espaço de referência para os mais novos escritores pernambucanos, que podiam interagir com aqueles que já publicavam, como um próprio símbolo da Cidade do Recife – um ponto de identidade. Quantos intelectuais de fora do Estado ou mesmo estrangeiros tinham na Livro 7 um ponto de interesse! Quanto orgulho causava aquela livraria! [D’MORAIS, 2008).
Recife, 21 de agosto de 2013.
Fontes consultadas
ARAÚJO, Ronilson. Todas as estradas culturais do Recife levavam à Livro 7. 2008. Disponível em: <http://abelhudos.wordpress.com/2008/07/06/todas-as-estradas-culturais-do-recife-levavam-a-livro-7/>. Acesso em: 19 ago. 2013.
D’ MORAIS, Marcos. O Livro & e a Geração 65. 2008. Disponível em: <http://interpoetica.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=703&catid=0>. Acesso em: 20 jun. 2013.
LIVRO 7: um flash-back da maior livraria do Brasil. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/artigos/697521> . Acesso em: 15 ago. 2013.
PEREIRA, Tarcísio. A livraria Livro 7 e a Geração 65. In: BEZERRA, Jaci (Org.). Geração 65: o livro dos trinta anos. Recife: Fundarpe, 1997. p. 140-1454.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Livro 7: uma livraria do Recife. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/livro-7-uma-livraria-do-recife/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)