[...] Enquanto trabalhadores intelectuais éramos crentes, em primeiro lugar, que concepções ideológicas, religiosas, políticas eram bem vindas, eram respeitadas e mesmo desejadas, mas eram secundárias à beleza e à verdade. Este grupo não distinguiu credo político desde que a beleza e a verdade fossem os valores cultivados. Roberto Aguiar (BEZERRA, 1997, p. 154).
Iniciado como Grupo de Jaboatão, o movimento literário que ficou conhecido como Geração 65 teve sua origem na cidade de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco.
Seus fundadores e primeiros participantes foram os jovens poetas Jaci Bezerra, Alberto Cunha Melo, Domingos Alexandre e José Luiz de Almeida Melo.
O nome Geração 65 foi atribuído ao Grupo pelo geógrafo e historiador Tadeu Rocha, em breve artigo no Diario de Pernambuco. Na quarta edição do seu livro, Roteiros do Recife: Olinda e Guararapes (1970), no capítulo Geografia poética do Recife, há uma referência à “Geração de 65”, depois chamada simplesmente de Geração 65:
...] A mais nova geração literária da metrópole do Nordeste – a geração de 65 – reflete na poesia as grandezas e misérias, belezas e fealdades, alegrias e d/ores desta enorme cidade tropical [...]. (ROCHA, 1970, p. 139).
O título para o movimento foi usado por Tadeu Rocha para designar a leva de novos poetas, cuja obra era divulgada nas páginas do Diario de Pernambuco, pelo então redator do Suplemento Literário do jornal recifense, o poeta, crítico literário e professor César Leal.
Um dos grandes incentivadores do movimento, que dizia ser um marco irreversível na história da cultura brasileira (BEZERRA, 1997, p. 23), César Leal também publicou como separatas, na revista Estudos Universitários, da Universidade Federal de Pernambuco, vários livros de integrantes da Geração 65, entre os quais destacam-se: Romances, Jaci Bezerra (1967); Cancioneiro, Marcos Accioly (1968); Oração pelo poema, Alberto Cunha Melo (1969); Proclamação do verde, Ângelo Monteiro (1969); Três noites no sobrado, José Rodrigues de Paiva (1969); Parábola, Tereza Tenório de Albuquerque (1970); Armorial de um caçador de nuvens, Ângelo Monteiro (1971); O cadeado negro, Débora Brennand (1971); Lavradouro, Jaci Bezerra (1973); Memória do mar sublevado, Fernando Monteiro (1973); Passaporte, Arnaldo Tobias (2003).
Entre as décadas de 1960 e 1980, além do apoio de César Leal, a Geração 65 contou com a imprensa pernambucana para a divulgação dos seus trabalhos, por meio da colaboração de jornalistas, escritores e articulistas do Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Artistas plásticos como João Câmara e Francisco Brennand, também colaboravam ilustrando poemas nos jornais.
À medida que ganhava reconhecimento, a Geração 65 foi atraindo novos integrantes. Gilberto Freyre, em artigo publicado no Diario de Pernambuco, propôs a ampliação do Grupo. Afirmava que ele não deveria ficar restrito apenas aos poetas, mas incluir todos os que se dedicavam ou apoiavam a produção cultural, como escritores, artistas plásticos, jornalistas ou políticos.
[...] O que se tem dito da geração brasileira – especialmente da pernambucana de 1945 – pode-se dizer da que – considerando já promessas definidas – vinte anos depois dela, está começando a marcar na vida cultural do nosso país – particularmente de Pernambuco – o impacto de uma nova presença excepcional. Essa geração a definir-se como excepcional é a que um estudioso idôneo de coisas brasileiras, em geral nordestinas ou pernambucanas em particular – o geógrafo-historiador Tadeu Rocha, do Recife, já classificou como de “65”. Isto é de 1965. [...] começa a realizar-se, ou a definir-se, como geração que já se faz notar pela afirmação de jovens expressões de valores tanto literários como não-literários ou trans-literários. [...] Mais do que artística ou mais do que literária, é como está começando a se revelar a Geração de 65. Nela, ao lado de escritores literários [...] vem seguindo ensaístas, políticos, sociólogos, economistas [...]. (FREYRE, 1975, p. 5).
Aos poucos, a Geração 65 passou a contar, além de poetas, com escritores de ficção, teatro, ensaístas e outros colaboradores.
O grupo era formado, entre outros, por Alberto Cunha Melo, Jaci Bezerra, Domingos Alexandre, José Luiz de Almeida Melo, Marcus Accioly, Tereza Tenório, Lucila Nogueira, Maria de Lourdes Hortas, Janice Japiassu, Ângelo Monteiro, José Rodrigues de Paiva, José Carlos Targino, Almir Castro Barros, Arnaldo Tobias, Fernando de Mello Freyre, Luiz Carlos Monteiro, César Leal, Cláudio Aguiar, José Mário Rodrigues, Raimundo Carrero, Paulo Bruscky, Débora Brennand, José Maria Rodrigues, Sérgio Moacir de Albuquerque, Esman Dias, Everardo Norões, Fernando Monteiro, Geraldo Falcão, Gladstone Vieira Belo, Jomar Souto, Marco Polo Guimarães, Marcos Cordeiro, Maximiano Campos, Sebastião Vila Nova, Paulo Gustavo, Roberto Aguiar, Roberto Martins, Tarcício Meira César, Severino Filgueira, Tarcísio Pereira, Sérgio Bernardo.
Em 2008, a cineasta Luci Alcântara lançou seu primeiro longa-metragem, Geração 65 – aquela coisa toda, onde reconstrói a trajetória do movimento, reunindo depoimentos de doze integrantes do Grupo. Um assunto que predomina no documentário são os encontros literários que aconteciam no Bar Savoy, no Teatro Popular do Nordeste e na livraria Livro 7. Seus integrantes também frequentavam, até o início da década de 1970, os restaurantes A Cabana e Torre de Londres, no Parque 13 de Maio e a Sertã, no centro da cidade. A partir dos anos 1970, passaram a se reunir nos bares Mangueirão, no bairro de Apipucos, e O Pirata, em Casa Forte, localizados próximos à Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), local onde muitos trabalhavam.
Em 1979, período de grande efervescência da Geração 65, surgiu o movimento editorial liderado pelos poetas Alberto Cunha Melo, Jaci Bezerra e a escritora Eugênia Menezes, conhecido como Edições Pirata. Até 1985, com o selo das Edições Pirata, foram publicados mais de trezentos livros de autores locais e de outros estados.
Em 1995, por ocasião das comemorações dos 30 anos de existência da Geração 65, foi organizado por Jaci Bezerra, na Fundação Joaquim Nabuco, um Seminário para resgatar, por meio de depoimentos dos seus integrantes, a memória de tudo que foi criado e realizado pelo movimento.
A homenagem incluiu ainda a exposição Roteiros da Geração 65, que reuniu documentos que possibilitaram uma visão geral do Grupo durante três décadas, não faltando também uma mostra detalhada das atividades desenvolvidas pelas Edições Pirata.
Recife, 15 de agosto de 2013.
Fontes consultadas
BEZERRA, Jaci (Org.). Geração 65: o livro dos trinta anos. Recife: Fundarpe, 1997.
D’ MORAIS, Marcos. O Livro & e a Geração 65. 2008. Disponível em: <http://interpoetica.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=703&catid=0>. Acesso em: 20 jun. 2013.
FREYRE, Gilberto. A Geração de 65. Diario de Pernambuco, Recife, 1º jun. 1975. Caderno 1º, p. 5.
GERAÇÃO 65. Disponível em: <http://www.domingocompoesia.com/p/geracao-65.html>. Acesso em: 20 jun. 2013.
ROSEMBERG, André. Geração 65: um movimento literário do Recife. Continente Documento, Recife, ano 2, n. 14, p. 4-32, out. 2003.
WELLER, Fernando. Um poema contínuo. Continente, Recife, ano 8, n. 95, p. 34-35, nov. 2008.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Geração 65. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/geracao-65/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)