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Festa de Sant'Ana de Caicó (Rio Grande do Norte)

Sant’Ana é padroeira de Caicó, estando seu culto associado à fundação da cidade. A festa de Sant’Ana de Caicó acontece anualmente sempre a partir da quinta-feira que antecede o dia 26 de julho, dia de Sant’Ana no calendário litúrgico, e se encerra com uma grande procissão no domingo subseqüente, totalizando 10 dias de comemorações.

Festa de Sant'Ana de Caicó (Rio Grande do Norte)

Artigo disponível em: ESP

Última atualização: 06/12/2021

Por: Albino Oliveira - Museólogo da Fundação Joaquim Nabuco

Doce e Clemente
Mãe da graça e do perdão
Abrigai-nos docemente
Dentro em vosso coração!

Salve, Sant’Ana gloriosa,
Nosso amparo e nossa luz
Salve, Sant’Ana ditosa,
Terno afeto de Jesus.

Vossos filhos desta terra
Vos suplicam que sejais
O seu refúgio na guerra
E sua alegria na paz.

(Hino de Sant’Ana.
Letra: Palmyra e Carolina Wanderley
Música: Manoel Fernandes)

O culto a Sant’Ana, avó de Jesus, foi formalizado pela Igreja Católica no século XIV. Joaquim e Ana, casal economicamente abastado, não conseguiam ter filhos e sempre pediam pela intervenção divina. Atendidos em suas orações, foram agraciados com uma filha, a qual deram o nome de Maria, mãe de Jesus. Pela graça concedida, Joaquim e Ana consagraram a menina a Deus no Templo de Jerusalém.

A festa de Sant’Ana de Caicó acontece anualmente sempre a partir da quinta-feira que antecede o dia 26 de julho, dia de Sant’Ana no calendário litúrgico, e se encerra com uma grande procissão no domingo subseqüente, totalizando 10 dias de comemorações.

Caicó é um município localizado ao sul do estado do Rio Grande do Norte, na região do Seridó, em pleno sertão nordestino. Sua povoação foi instalada oficialmente em 7 de julho de 1735, na Fazenda Penedo. Elevada à categoria de Vila em 1788, transformou-se em município no ano de 1868.

Sant’Ana é padroeira de Caicó, estando seu culto associado à fundação da cidade. A construção da primitiva capela, em 1695, e a história de alguns milagres creditados a santa motivou a relação de devoção que o povo de Caicó e de toda região do Seridó nutre por Sant’Ana.

Diz à tradição que a capela foi erguida por um vaqueiro que, ao adentrar numa densa mata sagrada, morada de um deus indígena, se viu repentinamente atacado por um touro bravo. Diante do perigo, o vaqueiro fez a promessa de erguer uma igreja a Sant’Ana se ela o livrasse do animal.

Acredita-se, também, que a santa interveio para que o poço de água no leito do rio Seridó, única fonte de água disponível na área, não secasse durante a seca que acometeu a região durante os trabalhos de edificação da primitiva capela, viabilizando sua construção e o próprio desenvolvimento da vida no local. Por este milagre, foi denominado de Poço de Sant’Ana, o qual, segundo a crença popular, nunca mais secou, mesmo quando havia longas estiagens.

A primitiva capela foi erguida numa área pedregosa e acidentada, de difícil acesso. A construção da atual Catedral de Sant’Ana remonta a 1748, ano em que foi criada a freguesia da Gloriosa Sant’Ana do Seridó, quando o primeiro vigário de Caicó, padre Francisco Alves Maia, ergueu um cruzeiro no local, uma planície, facilitando o acesso dos seus devotos.

O início dos festejos tem sua data inicial associada à instalação da freguesia, em 1748. Ao longo destes mais de 260 anos, a festa de Sant’Ana de Caicó teve diversas composições cerimoniais. Não existem muitos registros que indiquem como a festa acontecia, mas acredita-se que a fundação da Irmandade de Sant’ Ana, em 1754, além de ter assumido a sustentação econômica da festa, tenha também conferido maior solenidade ao evento, passando, em 1777, a ser regulamentada por normas de conduta.

As festas de santo no sertão, além de manifestações religiosas e de devoção, sempre foram espaços voltados para a sociabilidade, congraçamento e educação. Ao mesmo tempo em que se realizam missas, novenas e procissões, ocorrem eventos voltados à diversão como bailes, jantares, apresentações musicais e instalação de parques de diversões.

Enquanto nos séculos XVIII e XIX houve uma preocupação das autoridades civis e eclesiásticas em regulamentar e restringir as atividades profanas que ocorriam paralelamente a Festa de Sant’Ana de Caicó, ao longo do século XX seus eventos profanos e outras manifestações culturais da região do Seridó foram sendo integrados as atividades religiosas.

Os principais eventos que, atualmente, ocorrem nos dias festivos são o ciclo de preparação da festa, que se inicia em abril, e inclui as Peregrinações Rurais e Urbanas e seus rituais de missa e procissão; o Encontro das Imagens e a Peregrinação a Sant’Ana “Caravana Ilton Pacheco”; a caminhada solene de abertura oficial da festa, quando o estandarte de Sant’Ana é hasteado em frente à Catedral; as programações sócio-culturais promovidas tanto pela paróquia como pelo governo e população em geral, destacando-se: o Jantar e Feirinha de Sant’ana, Arrastão da Juventude, Marcha dos Idosos, Baile dos Coroas, a Festa da Juventude, eventos na Ilha de Sant’Ana, Festa do Re-encontro, Festas dos ex-alunos; as novenas, bênçãos, missas, demais ritos litúrgicos e expressões culturais a eles relacionados, como o Ofício de Sant’Ana e o Hino de Sant’Ana; a Cavalgada e o Leilão de Sant’Ana, expressão de devoção dos vaqueiros e de rememoração; a Carreata de Sant’Ana, momento em que motoristas, caminhoneiros, motociclistas, ciclistas e pedestres seguem em cortejo para receber a benção e acompanhar a novena em sua homenagem; a Missa Solene na qual ocorre também o fim da ornamentação do andor; o momento do “beija” que ocorre antes e depois da Procissão Solene; e a procissão de encerramento da Festa de Sant’Ana quando o andor circula pela cidade, sendo até hoje o maior aglutinador de todos os festejos religiosos da região do Seridó.

Os dias da Festa de Sant’Ana de Caicó incorporam ainda múltiplas manifestações culturais que contribuem para a construção das identidades e para a expressão cultural como os ofícios e modos de produção tradicionais das “comidas” e artesanato do Seridó, os diversos lugares significativos para a história e a identidade da região em geral e da cidade de Caicó em particular, como o Poço de Sant’Ana, e as músicas, Hinos, poemas, o “beija” e demais formas de expressão do sertão do Rio Grande do Norte.

Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro desde 2010, a Festa de Sant’Ana de Caicó demarca um tempo e um espaço de sociabilidade no qual o sagrado e o profano se entrelaçam e se misturam, permitindo vislumbrar a diversidade e a compreensão das manifestações culturais de toda a região do Seridó, permitindo manter o diálogo entre o passado e o presente, contribuindo para a construção das futuras gerações.
 

 

 

Recife, 29 de setembro de 2011.

 

Fontes consultadas

BRASIL. Ministério da Cultura. Dossiê IPHAN [Festa de Sant’Ana]. Brasília: Iphan, 2010. Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/folBemCulturalRegistradoE.jsf>. Acesso em: 22 set. 2011.

BRASIL. Ministério da Cultura. Registro da Festa de Sant’Ana de Caicó: parecer técnico. Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/folBemCulturalRegistradoE.jsf >. Acesso em: 22 set. 2011.

SANT’ANA de Caicó (imagem neste texto). Disponível em: <http://www.robsonpiresxerife.com/blog/notas/festa-de-santana-de-caico-recebe-neste-domingo-titulo-de-de-patrimonio-cultural-imaterial-do-brasil/>. Acesso em: 26 set. 2011.
 

Como citar este texto

OLIVEIRA, Albino. Festa de Sant'Ana de Caicó (Rio Grande do Norte). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2011. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/festa-de-santana-de-caico-rio-grande-do-norte/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)