Evandro Rabello
Última atualização: 28/09/2022
Dentre os folcloristas pernambucanos que deixaram a sua contribuição para a cultura popular, em especial para o estudo do carnaval, Evandro Rabello é, certamente, um dos mais importantes no assunto. Confirmando essa importância de Rabello, o Jornal do Commercio, Recife (PE), deu ênfase à sua especialidade como folclorista e a suas pesquisas sobre a festa de momo, quando noticiou a sua morte no dia 10 de junho de 2015, colocando, então, na matéria, uma pequena biografia da sua vida:
“Evandro Rabello nasceu em 7 de junho de 1935, em Aliança, Zona da Mata pernambucana, formado em história pela Unicap, ele estudou, pesquisou sobre as mais diversas manifestações das culturas populares. Em 1979, publicou Ciranda: dança de roda, dança de moda, em que faz uma análise nas transformações pelas quais passava a ciranda, que virou modismo nos anos 70 em Pernambuco. Mas tinha especial predileção pelo carnaval. Em 2004, publicou o elogiado Memórias da Folia - O Carnaval do Recife pelos Olhos da Imprensa, resultado de duas décadas de pesquisas em bibliotecas e no Arquivo Público".
A matéria do JC conta como se deu a “descoberta” do termo frevo, por Rabello: “em 1990, Evandro Rabello fez a constatação: a palavra ‘frevo’ foi publicada pela primeira vez na imprensa, numa notinha sobre um ensaio dos Empalhadores do Feitosa, no Jornal Pequeno, no dia 9 de fevereiro de 1907. No repertório do clube havia uma marcha intitulada O Frevo. A partir desta descoberta do pesquisador foi oficializada a data como o marco do frevo, que no dia 9 de fevereiro de 2007, completou um século. Evandro Rabello foi um dos homenageados, com a comenda do frevo, em 2007".
Evandro Rabello foi pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco à época da existência do Centro de Estudos Folclóricos na instituição - década de 1970. Autor de muitos trabalhos, principalmente sobre o Carnaval, Rabello sempre teve o seu nome associado à festa. A música e a dança foram realmente o seu mote, como quando da iminência da Ciranda com o surgimento de Lia de Itamaracá no cenário musical e popular, ele pesquisou e publicou um livro sobre o tema.
No prefácio do seu Ciranda: dança de roda, dança de moda, o folclorista Mário Souto Maior explica que “depois de O Mundo de Dona Finha” (um livro diferente, a poesia se associando ao calendário e às pessoas para falar de acontecimentos já empoeirados, docemente) publicado pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco, em 1969, de Acorda-Povo, Vassourinhas, Vuco-Vuco, a Festa de Nossa Senhora da Lapa e a Cruz do Patrão, magníficos trabalhos publicados na Série Folclore, do Centro de Estudos Folclóricos do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e de muitos estudos e reportagens divulgados em jornais e revistas, Evandro Rabello nos presenteia, agora, com este Ciranda: dança de roda, dança da moda, resultado de exaustiva e meticulosa pesquisa sobre a dança popular agora tão em voga. Antes de Evandro Rabello, sobre o assunto, só tínhamos o estudo do padre Jaime Diniz. Agora, Evandro Rabello estuda a ciranda vista de ângulos completamente diferentes, encontrando para as suas indagações respostas também completamente diferentes. Eis um assunto que estava a merecer um novo trabalho. Evandro Rabello, sem ser folclorista de gabinete porque suas pesquisas são mesmo de campo, fez, botando os pontos nos ii, explicando como chegou às conclusões, mostrando o porque de muitas coisas que permaneciam no desconhecido. Ciranda: dança de roda, dança da moda, de Evandro Rabello, é uma excelente contribuição ao estudo da ciranda”.
No prefácio do livro Memórias da Folia - O Carnaval do Recife pelos Olhos da Imprensa, a historiadora e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, Rita de Cássia Barbosa de Araújo, ressalta que "parte importante das transformações que levaram à originalidade acima apontada, especialmente no que diz respeito ao Carnaval do Recife, pode ser acompanhada através dos registros históricos coletados pelo pesquisador Evandro Rabello, em diversos órgãos da imprensa local, no período de 1822 a 1925: no Diário de Pernambuco, A Província, Jornal do Recife, Jornal Pequeno, além de exemplares da imprensa de publicação periódica, como o Vassouras, ligado ao Clube Carnavalesco Vassourinhas. Neste volume, ele nos oferece o fruto paciente e solitário trabalho, realizado durante anos junto às coleções da Biblioteca Pública Estadual, da Associação Comercial e da Hemeroteca do Arquivo Público Estadual de Pernambuco, onde tive o prazer de conhecê-lo nos finais da década de 1980. São fragmentos da história em seu estado original, fontes primárias de informação e pesquisa sobre o Carnaval do Recife, manifestações culturais e atividades afins, que generosamente retornam, agora selecionados pelo olhar de Rabello, organizados de forma cronológica e por órgão jornalístico. Dados de pesquisa recolhidos, colecionados e guardados por anos a fio, que testemunham seu interesse e sensibilidade para apreciar o Carnaval não apenas enquanto folião nas ruas do Recife, como também sua intenção de compreendê-lo em suas transformações ao longo do tempo".
Informa, ainda, Rita de Cássia Barbosa de Araújo, que, "Evandro Rabello, que já nos brindou com artigos esclarecedores sobre aspectos pouco conhecidos da história do Carnaval local, editados entre os finais da década de 1970 e da década de 1980, tais como Vassourinhas, o Recife e o Carnaval, Clube das Pás: 95 anos de Carnaval, Vassourinhas foi compositada em 1909, presenteia-nos agora com esta coletânea de documentos, produto de sua lide incansável de pesquisador. Amante das folias de Momo, a experiência do autor no Carnaval se une ao conhecimento advindo do contato pessoal mantido com carnavalescos de clubes populares do Recife, somados à observação distanciada de fatos que marcaram os carnavais de outras épocas, dando a este repertório de informações sobre o Carnaval um traço singular e fundamental".
No mesmo livro, numa apresentação do trabalho do seu pai, Germano de Carvalho Rabello também destaca que "Evandro Rabello tem em suas credenciais não somente a formação de historiador e uma série de artigos excelentes, como "O Surgimento da Palavra Frevo": é antes de tudo um folião entusiasmado, que esteve em contato direto com seu assunto de pesquisa, vivenciando todas essas manifestações, participando ativa e criativamente".
Em texto intitulado “Evandro Rabello no passo do tempo: uma vida dedicada ao frevo", publicado no blog de Fernando Machado, no dia 5 de Julho de 2015, o historiador e professor da UFRPE, Lucas Victor Silva, informa que Evandro também era folião. Fazia questão de se fantasiar. Muitas vezes, bastava um adereço para arrancar risos dos outros.
E como folião-pesquisador também ajudou a fundar o Bloco Carnavalesco Misto “Nem Sempre Lily Toca Flauta”. Foi inclusive homenageado como padrinho do Lily. Foi ele quem trouxe o sugestivo nome encontrado em notícia sobre agremiações carnavalescas, publicada no Diario de Pernambuco em 1915. Também foi folião e colaborador desde os primeiros anos do Bloco da Saudade. Evandro se destacava por sua prática carnavalesca, às vezes festivo, às vezes guerreiro, sempre guiado pela emoção. Encantava-se com seu objeto de estudo e participava dele ativamente.
Homenageado por inúmeras agremiações carnavalescas e por compositores do porte de Lourival Oliveira (que compôs Evandro Rabello na onda) e Getúlio Cavalcanti (em Recado a Capiba), recebeu também títulos importantes como "Memória Viva do Recife", "História Viva do Recife" e a "Medalha de Mérito José Mariano", outorgada pela Câmara Municipal do Recife.
Entre os muitos títulos que Evandro Rabello escreveu e publicou, a Biblioteca Blanche Knopf da Fundação Joaquim Nabuco, tem no seu catálogo, no setor de Obras Raras, quatro artigos escritos e publicados entre Agosto e Setembro de 1968, para uma Edição Extra do Jornal do Commercio. São textos de uma coluna intitulada “Recife, quem te viu, quem te vê”, onde o pesquisador e escritor publicava, de vez em quando, um artigo sobre um bairro recifense em particular. Foi assim que, em colaboração com Nilson Pereira Lima, escreveu sobre a origem do bairro recifense do Arruda. Os outros três textos dessa coluna foram assinados apenas por Rabello: um sobre a comunidade recifense "Brasília Teimosa"; outro sobre Afogados e a Paz do Largo e o último deles intitulado “O Poço da Panela, que já foi superbacana”. Ainda no setor de Obras Raras da mesma biblioteca, há um artigo que faz referência a Rabello, intitulado “Uma Nobre Filha de Goiana", que foi publicado pela Revista do Museu do Açucar, Ano III, Volume 1, Número 4, de 1970, e é uma edição comemorativa do quarto centenário do povoamento de Goiana. Na realidade, trata-se de uma resenha de Jayme Griz sobre o livro de Rabello,“O Mundo de Dona Finha”, no qual Griz escreve: “que me chega às mãos, com dedicatória do autor, o livro do pesquisador e escritor Evandro Rabelo, uma publicação do departamento de Cultura da SEEC, com prefácio de Ariano Suassuna, edição da Imprensa Universitária da UFPE”.
Sem estar na seção de Obras Raras, outros textos de Rabelo estão disponíveis para consulta e empréstimo na Blanche Knoph:
- O Recife e o Carnaval, que Evandro escreveu em “Um Tempo do Recife”, de Nilo Pereira, com introdução de Mauro Mota, datado de 1978;
- Ciranda, em “Antropologia Pernambucana de Folclore”, de Mário Souto Maior e Waldemar Valente - Editora Massangana, 1988.
- O Aparecimento da Palavra Frevo, pela Revista de História Municipal do Recife, 1997.
Na página do Pesquisa Escolar, Evandro Rabello é citado em muitos artigos como: Vassourinhas (Clube Carnavalesco), Caboclo de Lança e Arruda (Bairro, Recife), de Virgínia Barbosa; em Maracatus-nação ou de Baque Virado, de Sylvia Costa Couceiro; em Clube das Pás, de Semira Adler Vainsencher; em Ciranda , O Corso no Carnaval do Recife, Brasília Teimosa (Bairro, Recife), Entrudo, Xilogravura e José Costa Leite, todos de Lúcia Gaspar.
Recife, 10 de agosto de 2022.
Fontes consultadas
NE 10, Jornal do Commercio, edição do dia 10 de junho de 2015, às 19h41,https://jconline.ne10.uol.com.br/.../evandro-rabello...
Jornal do Commercio. Edição Extra, dos dias 11, 17 e 25 de de Agosto e de 1º de Setembro de 1968.
Revista do Museu do Açucar, Ano III, Volume 1, 1970, número 4º, edição comemorativa do quarto centenário do povoamento de Goiana (PE).
Rabello, Evandro. Ciranda, Dança de Roda, dança de Moda, Recife, 1979, SEEC/UFPE
Rabello, Evandro. Memórias da Folia - O Carnaval do Recife pelos Olhos da Imprensa (1822/1925), Funcultura, Governo de Pernambuco - Secretaria de Educação e Cultura, Recife, 2004.
Blog de Fernando Machado. Evandro Rabello no passo do tempo: uma vida dedicada ao frevo, https://www.fernandomachado.blog.br/novo/evandro-rabello-no-passo-do-tempo-uma-vida-dedicada-ao-frevo/
Como citar este texto
MENEZES, Arthur Pedro Bezerra de. Evandro Rabello. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2022. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/evandro-rabello/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)