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Clube Carnavalesco Misto Lenhadores

Clube carnavalesco do Recife, fundado em 5 de março de 1897. A história oral ainda é a fonte de muitas das histórias dos clubes de carnaval do Recife, como o Clube Lenhadores, o terceiro mais antigo da capital pernambucana.

Clube Carnavalesco Misto Lenhadores

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 22/05/2023

Por: Arthur Pedro Bezerra Menezes - Jornalista, Mestrado em História e Assistente em C&T da Fundação Joaquim Nabuco

A história oral ainda é a fonte de muitas das histórias dos clubes de carnaval do Recife, como o Clube Lenhadores, o terceiro mais antigo da capital pernambucana, só perdendo, em antiguidade, para o Clube das Pás (1887) e o Vassourinhas (1889). 

Fundado em 5 de março de 1897, com 122 anos “ de tradição e de glórias ”, como os diretores do Clube fazem questão de frisar, o Clube Carnavalesco Misto Lenhadores , que tem atualmente sua sede na rua Moçambique, 160 (o chamado Palácio do Frevo João Paulo), no Bairro da Mustardinha, no Recife/PE. O Clube tem como sua padroeira, Nossa Senhora Santana, “sendo a mais antiga manifestação social entre todas as agremiações do Recife, representando a história de um povo que sempre procurou manter vivos os momentos de alegria, conservando a sua identidade e valores”, como explica o advogado Edvaldo Ramos, conselheiro e sócio benemérito do Clube.

O Lenhadores desfila sempre nas sextas-feiras de carnaval, na Avenida Dantas Barreto, entre os bairros de Santo Antônio e de São José, no centro do Recife/PE.

O professor e funcionário público, Jamesson Tavares, conta que o Lenhadores foi criado, com sede no Beco das Barreiras (hoje Rua José de Alencar), no bairro da Boa Vista, de uma dissidência do Clube das Pás, porque, no final do século XIX, as mulheres mandavam muito, e, com isso, um dos diretores das Pás, Juvenal Brasil, desgostoso com tudo que estava acontecendo, saiu do clube, levando consigo alguns companheiros. Foi daí que surgiu a ideia de criar uma agremiação durante o trabalho na mata, onde Juvenal, junto com os colegas, cortando lenha, teve a ideia de fazer um clube que, no primeiro momento, foi chamado de Clube do Machado, depois de Clube do Machadinho, depois virou Clube do Lenhador, e, por fim se tornou Clube Carnavalesco Misto Lenhadores. 

Jamesson Tavares informa ainda que o clube funcionou por muito tempo na Rua da Glória, ainda na Boa Vista, antes de transferir-se, na década de 1950, para a sua sede atual, no bairro da Mustardinha.

“Suas cores são o verde, vermelho e branco e o seu estandarte ostenta o brasão do Estado de Pernambuco, sendo a única agremiação autorizada pelo então governador da época, Sigismundo Gonçalves, a usá-lo”, fala com orgulho o diretor de cultura de Lenhadores. 

A Matinê Branca:

Jamesson, que pesquisou a história do seu clube, relembra que a festa da matiné branca foi criada como uma resposta à elite pernambucana, que já tinha os seus bailes, pagos, freqüentados pela sociedade açucareira, composta pelas famílias dos senhores de engenho e dos políticos que defendiam o regime político das oligarquias dominantes, nos clubes Português e Internacional. Então, enfatiza Jamesson Tavares, a diretoria do Clube Lenhadores se reuniu e decidiu fazer uma festa gratuita, onde os trabalhadores mais humildes, como os biscateiros, balaieiros, verdureiros, ambulantes e sapateiros pudessem também levar as suas famílias. Dessa forma, surgiu a matiné branca, com o uma festa a rigor, porém sem ser cobrado ingresso. 

A história da Matiné Branca de Lenhadores é contada por Edvaldo Ramos: “Lembram os que freqüentavam a antiga sede da Rua da Glória, que a tradição começou ainda no tempo da repressão religiosa e que a Festa Branca representaria uma reverência a Orixalá, tendo em vista que a oferenda ao orixá africano não poderia ser prestada de maneira explícita”. E continua o advogado, conselheiro e benemérito de Lenhadores: “as danças de salão complementavam a louvação ao orixá/maior, prestadas reservadamente pelos sócios e simpatizantes da agremiação”, finalizando: “e assim, as homenagens do Clube Lenhadores lembram nessa data, crendices e tradições de mais de um século, que perduram até hoje, além de promover alegria e confraternização aos que frequentam os salões daquele clube carnavalesco”.

Em entrevista ao site NE 10, do Jornal do Commercio, do Recife, Edvaldo Ramos “ confessou ” que “hoje, a Matiné Branca é só festa. No passado, era também um disfarce para a comunidade negra cumprir os rituais de culto e oferenda aos orixás. Com a polícia reprimindo, ficava difícil professar a religiosidade”. Em conjunto com Lindivaldo Leite, Ramos revelou que “o assentamento dos orixás era montado por trás do palco, longe dos olhares repressores da polícia. A comunidade queria fazer o culto, porque não podia deixar de cumprir as obrigações, e a polícia não permitia, quebrava os assentamentos”. E acrescenta Edvaldo Ramos: “Com a festa, as pessoas cultuavam os orixás sem o couro receber bordoada, é mais uma das astúcias dos negros da época”.

Como se observa da história da Matiné Branca vê-se que ela representa o sincretismo religioso, tão bem expresso nas roupas dos que quiserem participar dela , sempre no último domingo do mês de agosto , mês dedicado aos Exus, na tradição da religiões de matriz africana.

O traje (que geralmente vêm escrito, detalhado, no convite aos que irão para o mesmo ) é o seguinte:

- Cavalheiros: terno branco, camisa de mangas compridas branca, gravata borboleta preta, sapato e cinto pretos. 
- Damas: blusa branca, saia branca ou vestido branco abaixo do joelho ou longo branco, sapato preto.

No acervo fonográfico do Centro de Estudos da História Brasileira Rodrigo Melo Franco de Andrade (Cehibra), da Fundaj, encontram-se Lps, compactos, da gravadora Rozemblit, pelo selo Mocambo e CDs, pela Music Line Gravadora e pela Sonocom gravações. A referência é à gravação da interpretação da Fanfarra do Clube Lenhadores e da gravação da música A Província, Marcha do Clube Lenhadores, de autoria de Juvenal Brasil.
 
 
 
 
Recife, 27 de fevereiro de 2019. 
 

Fontes consultadas

MOTTA, Leo. Matinê Branca: tradição do Clube Lenhadores do Recife. 2017. Disponível em: <http://jconlineinteratividades.ne10.uol.com.br/galeria/2017.08.27.7824.galeria.html>. Acesso em: 26 fev. 2019.

SILVA, Jamesson Tavares da. Entrevista concedida a Arthur Pedro de Menezes. Recife, 9 ago. 2018.

RAMOS, Edvaldo Eustáquio. Entrevista concedida a Arthur Pedro de Menezes. Recife, 9 ago. 2018.
 

Como citar este texto

MENEZES, Arthur Pedro Bezerra de. Clube Lenhadores. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2019. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/clube-carnavalesco-misto-lenhadores/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)