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Edição de Cordel no Brasil

A literatura popular impressa no Brasil teve seu início no final do século XIX – especificamente no Nordeste. Durante a primeira década do século XX, os cordéis eram impressos em tipografias de jornais ou em empresas que prestavam serviços gráficos.

Edição de Cordel no Brasil

Artigo disponível em: ESP

Última atualização: 16/11/2023

Por: Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica

Pode-se afirmar que a literatura popular impressa no Brasil teve seu início no final do século XIX – especificamente no Nordeste – quando o poeta popular paraibano Leandro Gomes de Barros passou a publicar regularmente seus poemas, em 1893.  

Pouco depois, Francisco das Chagas Batista e João Martins de Athayde, passaram também a publicar seus folhetos, em 1902 e 1909, respectivamente.

Durante a primeira década do século XX, os cordéis eram impressos em tipografias de jornais ou em empresas que prestavam serviços gráficos. Segundo a pesquisadora Ruth Terra (1983), entre 1904 e 1930, existiam vinte tipografias que imprimiam folhetos de cordel no país: nove delas na cidade do Recife; quatro na Paraíba (João Pessoa e Guarabira); uma em Fortaleza; duas em Maceió; uma em Currais Novos, RN; uma em Belém, PA; e duas no Rio de Janeiro:

RECIFE

Imprensa Industrial
Tipografia Miranda
Tipografia Moderna
Tipografia do Jornal do Recife
Tipografia da Livraria francesa
Tipografia Perseverança
Tipografia Mendes
Tipografia Chaves
Tipografia de J. Martins de Athayde

PARAÍBA

Tipografia da Livraria Gonçalves Pena
Tipografia Pernambucana
Tipografia Popular Editora
Tipografia de Pedro Batista

FORTALEZA

Tipografia Minerva de Assis Bezerra

MACEIÓ

Tipografia Fernandes
Tipografia Lima

CURRAIS NOVOS, RN

Tipografia d’ O Progresso

BELÉM, PA

Tipografia Editora Guajarina

RIO DE JANEIRO

Tipografia Papelaria Pacheco
Tipografia Antunes

Em 1909, João Martins de Athayde, segundo informações do próprio poeta, montou uma tipografia no Recife, na Rua do Rangel, tornando-se dessa forma o primeiro poeta popular a imprimir folhetos de cordel. Sua tipografia funcionou até 1949. 

Entre os anos de 1910 e 1911, Leandro Gomes de Barros tornou-se também um editor independente. Comprou um prelo e instalou na sua residência, à Rua do Alecrim, n. 38-E, no Recife, a Tipografia Perseverança, vendendo-a depois a Francisco das Chagas Batista, que, em 1913, fundou a Tipografia Popular Editora, na cidade de João Pessoa, Paraíba. 

Em 1914, na cidade de Belém, no Pará, foi criada a Editora Guajarina, uma das mais importantes folheterias do país, especializada em publicar cordel de autores locais e dos grandes clássicos nordestinos, que funcionou até 1949.

O pesquisador Liêdo Maranhão, no seu livro O folheto popular: suas capas e seus ilustradores, publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, em 1981 (p. 16), informa sobre o fechamento, na década de 1950, de três tipografias de folheto no Nordeste: Tipografia Graça Fátima, do poeta Joaquim Batista de Sena, e Tipografia A Estrela da Poesia, de propriedade do poeta Manoel Camilo dos Santos, ambas localizadas em Fortaleza, e a Tipografia Luzeiro do Norte, do poeta João José da Silva, no Recife.  

Os folhetos do início do século XX eram impressos em papel pardo, medindo 15 ou 17 x 11 cm, predominantemente com 16 páginas e capas ilustradas com vinhetas, o que perdurou até 1930. Havia também as chamadas “capas cegas”, sem nenhuma ilustração. A xilogravura, apesar de ter sido usada, já em 1907, na capa de um folheto de Francisco das Chagas Batista sobre Antonio Silvino, não era muito comum na época. Só veio a ser popularizada nas capas dos cordéis de forma lenta, gradual e irregular, atingindo sua fase áurea na década de 1940. Os editores preferiam utilizar desenhos, clichês de cartões postais, além de fotos de artistas de cinema.  

Sua composição era feita pelos tipógrafos – que transcreviam literalmente o manuscrito – e a revisão se dava por meio da leitura do texto, sendo proibida qualquer alteração sem a autorização do autor. Havia poetas que faziam, eles próprios, a revisão dos seus poemas.

A tiragem média era normalmente de mil exemplares por folheto, sendo comuns  reimpressões ou reedições, dependendo do sucesso ou interesse que despertava. Por exemplo, o cordel Ecos da Pátria, de Leandro Gomes de Barros, sobre a Primeira Guerra Mundial (publicado em 1917), teve uma tiragem de 2.500 exemplares.

A forma clássica do cordel, em papel barato, medindo 12x18cm, com oito, dezesseis ou 32 páginas alcançou o auge de produção nos estados de Pernambuco e Bahia, no período de 1930 a 1960, narrando temas tradicionais como romances medievais, acontecimentos sociais, econômicos e políticos brasileiros. Lampião é uma das personagens históricas de maior projeção entre os cordelistas.  

Na cidade de São Paulo existia, na década de 1910, a Tipografia Souza que, em 1950, deu origem à Editora Prelúdio, cujo primeiro cordel foi impresso e publicado em 1952. Dois anos depois, em 1954, o cordel Vida e tragédia do presidente Getúlio Vargas, do poeta baiano Antônio Teodoro, vendeu 260 mil exemplares só na primeira edição. Inicia-se, nessa época, uma nova fase da literatura de cordel fora da região Nordeste do Brasil.

Sucessora da Prelúdio, a Editora Luzeiro é uma das mais antigas casas publicadoras de cordel em atividade no Brasil (sem interrupção). Seu catálogo com cerca de trezentos títulos, tem uma tiragem média de 2,5 mil exemplares para cada folheto. Além de títulos tradicionais com boa aceitação popular – os chamados clássicos do cordel – edita também obras de cordelistas contemporâneos.  

No início da década de 1930, foi criada pelo romeiro alagoano José Bernardo da Silva, a Tipografia Silva, em Juazeiro do Norte, Ceará. Denominada depois de Tipografia São Francisco, tornou-se, nos anos 1950, uma das mais importantes editoras de cordel do Brasil. A cidade de Juazeiro passou a ser considerada como o maior polo produtor de cordéis do país, difundindo a xilogravura e sendo responsável pelo  surgimento de uma nova geração de artistas. 

Devido a dificudades no comércio de folhetos e à morte do seu fundador, a tipografia entrou em declínio, sendo comprada, em 1988, pelo Governo do Estado do Ceará, que entregou sua gestão para a  Universidade Regional do Cariri.

Nesse mesmo ano, foi fundada no Rio de Janeiro a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), outro polo editor de folhetos de cordel na região Sudeste. Seu catálogo possui mais de duzentos títulos.

Na região Nordeste, encontram-se em atividade as seguintes editoras de folhetos:  a Coqueiro, fundada em 1991 em Olinda, PE, hoje sediada no Recife, que além de folhetos de cordel publica também livros sobre a cultura popular nordestina; a Tupynanquim, criada em 1991, em Fortaleza – que iniciou as atividades publicando livros, revistas e jornais – a partir de 1999, passou a editar exclusivamente literatura de cordel e histórias em quadrinhos; a Queima-Bucha, em  Mossoró;  a Chico Editora, em Parnamirim, município localizado na área metropolitana de Natal e a J. Borges, na cidade de Bezerros, em Pernambuco.

Atualmente, editoras brasileiras como a Hedra e a Nova Alexandria, ambas de São Paulo, e a Vozes, em Petrópolis, RJ, têm projetos editorias voltados para a publicação de cordel em forma de livro, assim como há iniciativas da produção de folhetos de cordel por computador, o que segundo o folclorista e pesquisador Roberto Benjamin, pode marcar o renascimento dessa literatura em moldes competitivos. 

 

 

 

Recife, 23 de outubro de 2012.

Fontes consultadas

ASSIS, Izaias Gomes de. Sete mitos sobre a literatura de cordel brasileira. Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2012.

GRILLO, Maria Ângela de Faria.  A arte do povo: histórias na literatura de cordel (1900-1940). 2005. 255f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2005. 

HAURÉLIO, Marco. A trajetória do cordel no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2012.

LITERATURA de Cordel em São Paulo, maio de 2012. Disponível em: . Acesso em: 15 out. 2012.

LUCENA, Bruna Paiva de. Da tipografia aos parques gráficos: o cordel e a problemática do campo literário. Boitatá: Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL, n. 6, ago./dez. 2006. Disponível em: . Acesso em: 17 out. 2012.

SANTIAGO, Vandeck. Cordel entra no mundo cibernético. Folha de S. Paulo, São Paulo, 1997. Ilustrada. Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2012. 

SOUZA, Liêdo Maranhão de. O folheto popular: sua capa e seus ilustradores. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1981. 

TERRA, Ruth Brito Lêmos. Memória de lutas: literatura de folhetos do Nordeste, 1893-1930. São Paulo: Global, 1983. 190p. (Teses,13). 

Como citar este texto

GASPAR, Lúcia. Edição de cordel no Brasil. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/edicao-de-cordel-no-brasil/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)