Em meados da década de 1920, o porto do Recife era parada obrigatória dos americanos e europeus que viajavam para a Argentina. A quantidade de músicos e artistas que chegavam à cidade chamou a atenção de Valdemar de Oliveira, médico e amante da música, que teve a idéia de convidar esses visitantes para a realização de um ou dois concertos na capital do Estado. A partir daí, foi fundada a Sociedade de Cultura Musical, formada por empresários locais que financiavam esses eventos culturais. Entre os músicos que participaram. Ernani Braga, Manoel Augusto e Vicente Fittipaldi fixaram residência no Recife, e foram decisivos para a fundação do Conservatório e formação da Orquestra Sinfônica do Recife.
A luta para a criação de um centro de ensino de música na cidade já existia no século XIX. Muitas pessoas estudavam canto e instrumentos, especialmente piano, mas o Recife carecia de um ensino mais completo, que incluísse teoria musical, estética e harmonia.
Apresentado pelo então deputado Arruda Falcão, representando ilustres músicos da época liderados por Ernani Braga, que vinham realizando uma campanha em prol da sua criação, o projeto de criação do Conservatório Pernambucano de Música foi aprovado pela Assembléia Legislativa. Com sede no Recife, o Conservatório foi fundado em julho de 1930, concretizando o desejo desses músicos de contribuir para elevar o nível de ensino da música no Recife que, apesar de ser uma capital aberta às grandes iniciativas culturais e com um grande número de músicos, não contava até aquele momento, com nenhum espaço de prestigio voltado para o aprendizado musical.
O Conservatório Pernambucano de Música, cuja primeira sede funcionou no bairro da Boa Vista, esquina da Rua do Riachuelo com a Rua da União, iniciou suas atividades oferecendo cursos de teoria e solfejo, canto coral, harmonia, piano, violoncelo e canto harmônico, sendo as disciplinas teóricas, de canto coral e harmonia ministradas coletivamente, e as disciplinas de instrumento e canto, individualmente. As audições dos alunos aconteciam sempre no Teatro de Santa Isabel, palco maior da música na cidade e casa da Orquestra Sinfônica do Recife.
Ernani Braga foi o primeiro diretor, ficando cerca de dez anos à frente do Conservatório. Foi sucedido por Manoel Augusto, que dirigiu a casa dos anos 40 até a década de 60. Em 1967, o violinista Cussy de Almeida, ex-aluno do próprio Conservatório Pernambucano, assumiu a direção. Uma das primeiras conquistas foi a transferência da sede para a Avenida João de Barros. A inauguração das novas instalações do Conservatório ocorreu, em 1968. Cussy de Almeida, que passara anos na Europa, trouxe uma visão inovadora do que deveria ser uma escola de música de ensino sólido. Sua ambição, seguindo os passos de seus antecessores, era estabelecer o Conservatório como uma instituição de alto nível, capaz de suprir a demanda de formação musical da Região Norte-Nordeste do Brasil e contribuir conseqüentemente para a formação da juventude do país.
Os ideais estabelecidos desde o início, do ensino sério e acessível a todas as classes sociais, foi continuado pelos sucessores de Cussy de Almeida, Henrique Gregori, Clóvis Pereira, Elyanna Caldas, Jussiara Albuquerque e Sidor Hulak.
O Conservatório funciona em dois prédios (sede e anexo) e oferece cursos regulares de iniciação musical, cursos preparatórios e cursos técnicos em instrumento, regência e canto, bem como cursos de extensão. Os seus mestres constantemente se atualizam com vistas ao aperfeiçoamento da qualidade do ensino destinado aos futuros músicos.
No auditório do Conservatório são realizados numerosos eventos com artistas de alto nível, onde os alunos estão autorizados a assistir e a participar de concertos através dos quais podem, além de enriquecer o currículo, refinar o gosto musical pelos mais variados instrumentos.
O Conservatório Pernambucano de Música possui uma biblioteca especializada em música, a Biblioteca Henrique Gregori (um sonho antigo do ex-diretor, o Maestro Henrique Gregori) e um espaço dedicado à história do Conservatório, o Memorial Ernani Braga, em homenagem ao seu fundador, além de possuir um dos melhores estúdios de gravação do Estado. Oferece cursos nas áreas de canto, bandolim, cavaquinho, contrabaixo elétrico, violão popular, violão, contrabaixo acústico, violino, viola, violoncelo, piano erudito, piano popular, teclado, cravo, flauta transversa, oboé, clarinete, fagote, flauta doce, saxofone, trombone, trompa, trompete, bateria, percussão erudita e percussão popular.
O ano de 2010 marca o 80º aniversário do Conservatório Pernambucano de Música e alguns nomes que marcaram sua história devem ser lembrados: Nair Rotman (violinista), Benny Wolkoff (violinista que fundou a Orquestra Sinfônica Brasileira), Juarez Johnson (violoncelista, professor de música da Universidad Nacional de La Plata), Mário Tavares (Maestro Titular da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro), Marlos Nobre (compositor pernambucano, que foi também presidente do Conselho Internacional de Música da Unesco e presidente da Academia Brasileira de Música), Lanfranco Marcelletti (ex-aluno, Diretor da Orquestra Universitária de Massachusetts), Pedro Jorge Gadelha (primeiro contrabaixista da OSESP), Isaac Duarte (oboé solista da Orquestra Tonhalle, na Suiça), Alexandre Casado (professor da Universidade da Bahia e spalla da OSBA), entre outros.
A história do Conservatório não seria contada por completo sem lembrar os grupos musicais de renome formados por seus professores e alunos, como a Orquestra Armorial de Câmera, a Orquestra de Cordas Dedilhadas, a Orquestra Sinfônica Jovem, o SaGRAMA, a Orquestra de Câmera de Pernambuco, o Allegretto, entre outros.
Os diretores que passaram pelo Conservatório continuaram os ideais estabelecidos desde o início, do ensino sério e acessível a todas as classes sociais, e também buscando oferecer as condições ideais para ensino e aprendizado, ampliando o espaço físico, modernizando o processo didático e indo além da cidade do Recife para abarcar todo o Estado de Pernambuco. São eles Ernani Braga, (1930-1939), Manoel Augusto (1939-1967), Cussy de Almeida (dois mandatos, 1967-1979; 1991-1994), Henrique Gregori (1979-1983), Clóvis Pereira dos Santos (1983-1987), Elyana Silveira Varejão (dois mandatos 1987-1990; 1995-1998), Jussiara Albuquerque C. de Oliveira (1999-2006) e Sidor Hulak, o atual diretor que freqüentou o Conservatório também como aluno e professor.
Recife, 26 de agosto de 2010.
Fontes consultadas
CARVALHO, Arthur. O Maestro Cussy. Jornal do Commercio, 4 de ago. 2010. Caderno Opinião, p. 11.
CONSERVATÓRIO Pernambucano de Música [Foto nesse texto]. Disponível em: <http://www.conservatorio.pe.gov.br/>. Acesso em: 2 ago. 2016.
CONSERVATÓRIO Pernambucano de Música comemora 80 anos de arte e profissionalização. Disponível em: <goo.gl/Q2eCCX>. Acesso em: 26 ago. 2010.
CONSERVATÓRIO Pernambucano de Música (Página Oficial). Disponível em: <http://www.conservatorio.pe.gov.br/>. Acesso em: 23 ago. 2010.
INFORMAÇÕES obtidas por intermédio do Senhor Sérgio Barza, do Conservatório Pernambucano de Música, em 31 ago. 2010.
UMA LINDA idéia. Revista da Cidade, Recife, ano 1, n. 12, 14 ago.1926.
MARTINS, Duda. CPM faz 80 anos com muita saúde. Jornal do Commercio, 15 ago. 2010. Caderno C, p. 6.
OS 38 anos do Conservatório de Música. Boletim da Cidade do Recife, Recife, n. 173/179, p. 37, out. 1968/ jun. 1969.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia. Conservatório Pernambucano de Música. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2010. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/conservatorio-pernambucano-de-musica/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)