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Cachoeira de Lauarete

A Cachoeira de Iauaretê se localiza no rio Uaupés, na região do Alto Rio Negro, no distrito que também leva o mesmo nome e fica no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. A 870km de Manaus, capital do estado.

Cachoeira de Lauarete

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 14/02/2023

Por: Júlia Morim - Consultora Fundação Joaquim Nabuco/Unesco - Cientista Social, Mestre em Antropologia

A Cachoeira de Iauaretê se localiza no rio Uaupés, na região do Alto Rio Negro, no distrito que também leva o mesmo nome e fica no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. A 870km de Manaus, capital do estado, São Gabriel da Cachoeira está próxima à fronteira com a Colômbia e com a Venezuela e tem uma população majoritariamente composta por índios e descendentes dos primeiros habitantes do Brasil. Natural, portanto, que um dos seus principais atrativos turísticos e históricos seja um local considerado sagrado pelos povos indígenas e escolhido Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Ministério da Cultura, em 2006.

Ponto de referência para os indígenas, a Cachoeira, embora seja difundida como uma queda d’água, é, na verdade, uma corredeira existente em um determinado trecho do rio Uapés, já na confluência com o rio Papuri. Como nesse trecho existem desníveis no solo e muitas rochas, nasceu a cachoeira imaginária que entrou para a história. Acaso ou não, fica na fronteira do Brasil com a Colômbia: de um lado do Iauaretê é o Amazonas, do outro, o país vizinho.

Além da posição estratégica que por si só traria um peso simbólico, a cachoeira é parte importante da história indígena. Suas pedras, lajes, ilhas e paranás integram as narrativas orais e perpassam a memória dos povos que lá há muito vivem. A paisagem ajuda a contar a história de cada etnia, com seus mitos de guerras, mortes, alianças e perseguições. As quatorze etnias presentes na região que congrega São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro — Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuka e Wanano —uniram-se para salvaguardar o lugar. Munidos do sentimento de pertencimento, os índios lutaram para que as suas tradições, a história dos seus ancestrais e a mitologia de cada etnia fossem preservadas com o registro da Iauaretê no Livro dos Lugares, e, assim, reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil.

No processo do Registro, sacramentado em agosto de 2006, estão documentados dezessete tópicos para a compreensão da trajetória dos grupos indígenas naquele território específico. O nome Iauaretê, por exemplo, vem da língua nheengatu, a língua geral que os jesuítas ensinaram aos indígenas com o intuito de uniformizar as comunicações no início da colonização do Brasil, e significa “cachoeira das onças”. Na mitologia da etnia Tariana, por exemplo, consta que os homens-onça eram os donos do mundo quando chegou Arcome, o ente responsável pela criação dos índios. Ele teria sido perseguido pelos homens-onça e, na tentativa de escapar, caiu algumas vezes, justamente nos lugares onde hoje estão as pedras da Cachoeira do Iauaretê. Ainda segundo o mito Tariano, Arcome se transformava em animal a cada queda, repassando conhecimento para a tribo.

A paisagem só pode ser apreciada em sua totalidade no mês de fevereiro, quando o rio atinge seu nível mais baixo e todas as formações rochosas se tornam visíveis. No resto do ano, ocultas pelas águas, as pedras atiçam o imaginário dos povos indígenas, servindo como personagens para suas cosmogonias particulares e para qualquer história que venham pensar em contar. Mas esse patrimônio não é de tão fácil acesso: para lá chegar, é preciso pelo menos um dia inteiro de viagem de canoa motorizada (conhecida na região como “voadeira”) a partir de São Gabriel da Cachoeira.

Com cerca de três mil moradores, Iauaretê tem a infraestrutura de uma pequena cidade e a companhia de um pelotão do exército brasileiro, que lá está por conta do projeto Calha Norte, de defesa e colonização da fronteira norte-amazônica. A Cachoeira do Iauaretê foi o oitavo bem cultural imaterial registrado no Brasil; os sete primeiros foram a Arte Kusiwa dos índios Wajãpi; o ofício das papeleiras de Goiabeiras; o samba de roda no Recôncavo Baiano; o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém; o ofício das baianas de acarajé; a viola de cocho e o jongo.

 
Recife, 28 de maio de 2014.

Fontes consultadas

BRIANEZI, Thais. Indígenas recebem certidão de patrimônio cultural da cachoeira de Iauaretê. In: Agência Brasil. 18 out. 2006. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2006-10-18/indigenas-recebem-certidao-de-patrimonio-cultural-da-cachoeira-de-iauarete>. Acesso em: 18 maio 2014.

IPHAN. Cachoeira de Iauaretê. Brasília, 2007.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Cachoeira de Iauaretê, no Alto Rio Negro, é patrimônio imaterial brasileiro. 29 ago. 2006.  Disponível em: <http://site-antigo.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2308>. Acesso em: 16 maio 2014.

SÃO Gabriel da Cachoeira, município do Amazonas. In: Portal da Amazônia. Disponível em: <http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=717>. Acesso em: 18 maio 2014. 

Como citar este texto

MORIM, Júlia. Cahoeira Iauarete. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2014. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/cachoeira-de-iauarete/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)