Em meados do século XIX, havia na região apenas uma pequena vila de pescadores localizada na chamada Rua da Jangada, de onde alguns moradores saíam para o mar, através de uma abertura nos arrecifes conhecida como “barreta”, fechada em 1849, pelo Governo vigente. Em 1907, início do século XX, com as obras do Porto do Recife, a “barretinha” – outra abertura realizada nos arrecifes pelos pescadores impedidos de pescar – é fechada para dar passagem ao trem, fazendo com que alguns pescadores da Rua da Jangada fossem morar no bairro do Pina.
No final do século XIX, à medida que a cidade do Recife crescia, aumentavam os problemas de abastecimento de água e despejos de excrementos, que se tornaram crônicos e de maior impacto sobre a saúde pública e a qualidade de vida da população. E, com o crescimento demográfico, surgiram exigências para o tratamento da água e do esgoto, em razão das muitas doenças intestinais. Em 1909, durante o Governo Herculano Bandeira, o Recife conhece o trabalho do engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito que, utilizando o sistema de bombas elevatórias, conduz todo o material de excremento para tanques de recolhimento, que enviavam tudo para o reservatório localizado no Cabanga, e daí para a praia do Pina.
A gestão do abastecimento de água e saneamento foi realizada inicialmente pela Companhia do Beberibe, que dá continuidade à prestação de serviço à população recifense sob a razão social da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). A primeira de suas estações de tratamento de esgoto ainda está presente no bairro: a ETE Cabanga, que atende à população, no sentido de preservar o meio ambiente e a saúde pública.
Atualmente, a empresa conta com o Espaço Universo Compesa, ambiente que reúne tecnologia e interatividade, para contar a história do saneamento ambiental em Pernambuco.
Durante o Governo Agamenon Magalhães, aconteceram transformações no espaço urbano e uma propaganda intensa contra os moradores de mocambos do Cabanga, dando origem à “luta contra os mocambos” nos anos de 1937 a 1945. Por esta razão, o governador estabeleceu uma política habitacional, escolhendo o bairro para receber uma das primeiras vilas populares do Recife, a Vila Francisco Barbosa de Resende, na já existente Avenida Saturnino de Brito.
No mesmo ano em que recebeu melhoramentos urbanos e uma nova vila, o lugar foi escolhido por 38 iatistas para receber a garagem de barcos do antigo Iate Clube. Em 1947, o Cabanga recebeu as instalações do hoje denominado Cabanga Iate Clube, que promove atividades náuticas esportivas, como o remo, a vela, a pesca oceânica e o tênis, e sedia eventos para a sociedade local.
Acerca do espaço público, ressalta-se a existência de uma enorme área verde, conhecida como Praça (Jardins) Abelardo Rijo, assim nomeada em homenagem ao antigo inspetor de trânsito Abelardo de Medeiros Rijo. Nesse espaço verde, encontra-se a escultura Maria Grande, do pintor, escultor, desenhista, gravador e escritor J. Cláudio, esculpida em mármore no ano de 1972 e medindo 3,80 de altura.
Podemos citar ainda o 7º Depósito de Suprimentos do Exército, órgão responsável pela análise, armazenamento, controle e distribuição de material às organizações militares existentes nos Estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. É nesse órgão federal que encontramos sediado o Projeto Orquestra Cidadã, formado por jovens moradores do bairro e de comunidades vizinhas.
As ruas abrigam empresas prestadoras de serviços, como a Security – empresa que forma agentes de segurança patrimonial – e a Casa Rosa, pequeno restaurante que oferece seu serviço a funcionários de empresas localizadas no bairro.
O bairro do Cabanga é constituído por duas avenidas e quinze ruas. São elas: Rua Nova da Cabanga, Rua Jitó, Rua Bujari, Rua Gutiúba, Rua Jequitibá, Rua Camutanga, Rua Iobi, Rua Padre Carlos de Barros Barreto, Rua Bom Sucesso, Avenida Engenheiro José Estelita, Avenida Saturnino de Brito, Rua Bituri, Rua Dilermando Reis, Rua Comandante Arnaldo da Costa Varela, Rua General Estilac Leal, Rua Escritor Souza Barros e Rua Comandante Antonio Manhães de Matos. Algumas dessas ruas receberam seus nomes para homenagear militares da Marinha e do Exército brasileiro, enquanto outras têm nome de origem indígena.
De acordo com dados da Prefeitura da Cidade do Recife, o bairro do Cabanga compõe a Região Político Administrativa I (RPA 1), juntamente com os bairros do Recife, Santo Amaro, Boa Vista, Ilha do Leite, Paissandu, Santo Antônio, São José, Coelhos, Soledade e Joana Bezerra. Sua área territorial é de 81 hectares, e a população residente totaliza 1.551 habitantes.
Segundo os moradores do bairro, um dos principais problemas da comunidade ainda é a educação, visto que os estudantes precisam se deslocar para os bairros vizinhos, a fim de concluir seus estudos.
Atualmente, pode-se dizer que o bairro é totalmente asfaltado. Situação muito diferente de algumas décadas atrás, quando, de acordo com os residentes mais antigos, não havia calçamento e quando chovia não se podia sair de casa, pois tudo ficava alagado. Era preciso que os moradores colocassem tijolos no meio da água, para que saíssem de casa. Além disso, para suprir as necessidades pessoais, eles iam até o bairro vizinho de Afogados, para fazer suas compras.
Não existiam grandes construções religiosas, fossem igrejas católicas, templos evangélicos ou centros espíritas. Nos primórdios do bairro, os moradores contavam com uma pequena capela, erguida no terreno onde, hoje, funciona a Escola Municipal Almirante Soares Dutra e cuja missa era realizada pelo padre vindo de São José. Deste tempo, restaram duas relíquias: o crucifixo do altar e a escultura de Santo Antônio. Hoje, os moradores frequentam um pequeno templo evangélico, próximo ao quartel.
Recife, 21 de novembro de 2019
* Esse texto é uma parceria da Fundação Joaquim Nabuco com o Programa Manuel Bandeira para Formação de Leitores
Fontes consultadas
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Como citar este texto
MIGUEL FILHA, Ana Maria da Silva; ANDRADE, Elizabete Maria de Santana; PIRAUÁ, Isabela Cabral de M. Dantas. Cabanga (Bairro, Recife). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2019. Disponível em: pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/cabanga-bairro-recife/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 nov. 2021.)