Zé Vicente (Lindolfo Mesquita)
Última atualização: 13/06/2022
Por:
Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica
O poeta popular paraense Zé Vicente, pseudônimo de Lindolfo Marques de Mesquita, nasceu em Belém, no dia 11 de janeiro de 1898.
Na década de 1920, fez carreira no jornalismo. Trabalhou como repórter da Folha do Norte, onde criou uma coluna com crônicas humorísticas, intitulada Na Polícia e nas Ruas, sob o pseudônimo de Zé Vicente, passando depois a colaborar com O Estado do Pará, também como cronista-humorista.
Com a Revolução de 1930, perdeu o emprego no jornal, por ser funcionário público e se identificar com o regime deposto. Em fevereiro de 1932, lançou pela
Guajarina, um folheto de cordel autobiográfico narrando a situação:
Eu já quase não sabia
Se ainda era brasileiro,
Pois até os meus patrícios
Me expulsaram do terreiro
E eu vivia, minha gente,
Na minha terra – estrangeiro.
- Você não presta, safado,
Você vai pra Arumanduba –
Disse-me um dia um sujeito,
Fazendo logo um “truba”,
Como se eu tivesse sido
Algum moleque cotuba.
Eu vendo a coisa difícil
Fui ao Lloyd brasileiro
E comprei uma passagem
Para o Rio de Janeiro
Onde em novembro cheguei
Com muito pouco dinheiro
Lá no Rio de Janeiro
Muita coisa me encantou,
Mas, também, comi o pão
Que satanás enjeitou
Pois o dinheiro que tinha
Em pouco tempo acabou [...]
De volta ao Pará, alia-se aos novos donos do poder, principalmente ao major Joaquim Cardoso de Magalhães Barata, aderindo à Revolução e tornando-se um revoltoso:
Foi boa a Revolução,
Foi da “pontinha”, “daqui”
Porque veio reabillitar
A região do Jari
Que eu sei ser muito bonita
Por um escrito que li.
É provável, que seu primeiro folheto publicado pela Guajarina tenha sido O azar, a cruz e o diabo: divertida história do homem mais azarado do mundo (com 38 sextilhas), porém não há indicação da data de impressão. Publicou ainda, antes de 1930, O Pixininga (22 sextilhas), que conta a história de um novilho, assim denominado.
Em maio de 1931, época em que se encontrava “exilado” no Rio de Janeiro, escreveu o cordel A santa de Coqueiros, narrando um caso místico ocorrido nas proximidades da capital mineira, Belo Horizonte. Em 1932, esse folheto foi publicado pela Guajarina, assim como outros dois: O rapto misterioso do filho de Lindbergh e A batalha naval de Itacoatiara.
Além de jornalista, ativista político e poeta de cordel, Lindolfo Mesquita ocupou diversos cargos na administração pública e na política no seu estado natal. Foi prefeito da cidade paraense de Vigia, durante o Estado Novo (1933); diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP), em 1943; diretor da Biblioteca e Arquivo Público, de 1944 a 1947; deputado estadual de 1947 a 1950; juiz do Tribunal de Contas do Estado do Pará (1951) e seu presidente por dois mandatos (1957/1958 e 1967), ocupando ainda, no período 1965 a 1966, o cargo de vice-presidente. Aposentou-se no dia 8 de fevereiro de 1968.
Autor de diversos folhetos de cordel, no final da década de 1930 escreveu o clássico A greve dos bichos, com 62 sextilhas, uma crítica de costumes sobre a inutilidade das greves no mundo dos animais. Lançado pela Guajarina, em 1939, possui inúmeras edições publicadas tanto no Pará como em estados do
Nordeste do Brasil.
Zé Vicente abordava assuntos políticos e sociais, assim como histórias de animais e de valentões.
Na década de 1930, engaja-se no ciclo das revoluções, produzindo, em 1937, O golpe do seu Gegê ou O choro dos deputados, uma obra-prima da ditadura de Getúlio Vargas, com 62 sextilhas. Do mesmo ano é também o cordel Peleja de Armando Salles e Zé Américo, outra sátira política sobre o Estado Novo.
Nos anos de 1940, sua produção versa sobre a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), produzindo sete folhetos sobre o tema. A seguir uma relação alfabética dos cordéis de sua autoria:
• O afundamento do cruzador alemão “Graff Spee” (1940);
• Agora sou revoltoso (1932);
• Alemanha comendo fogo (1945);
• A Alemanha contra a Inglaterra (1940);
• O azar, a cruz e o diabo (sem indicação de data);
• A batalha da Alemanha contra a Rússia (1941);
• A batalha naval de Itacoatiara (1932);
• O Brasil rompeu com eles (1943);
• Combate e morte de Lampião (1938);
• O fim da guerra (sem indicação de data);
• O golpe de seu Gegê ou O choro dos deputados (1937);
• A greve dos bichos (1939);
• A guerra da Itália com a Abissínia (1935);
• Histórias completas em versos do afamado e célebre Zé Vicente, o guerreiro de Ponte Nova e Furtado de Campos (sem indicação de data);
• O Japão vai se estrepar (1941);
• O macaco revoltoso (1938);
• A neta do Cancão de Fogo: história completa de Chica Cancão (1938);
• Peleja de Armando Salles e Zé Américo (1937);
• Peleja de Chico Raimundo com Zé Mulato (1937);
• O rapto misterioso do filho de Lindbergh (1932);
• A santa de Coqueiros (1931).
Lindolfo Mesquita, o Zé Vicente, morreu na cidade de Belém, no dia 11 de janeiro de 1975.
Recife, 17 de outubro de 2012.
Fontes consultadas
LINDOLFO Marques de Mesquita. Disponível em: http://www.tce.pa.gov.br/index.php/lindolfo-m-mesquita. Acesso em: 11 out. 2012.
LINDOLFO Marques de Mesquita [Foto neste texto]. Disponível em: http://www.tce.pa.gov.br/centrodememoria/index.php/conselheiros-presidentes. Acesso em: 24 de janeiro de 2018.
LACERDA, Franciane Gama. Imprensa e Poesia de Cordel no Pará nas primeiras décadas do século XX. In: ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA, 19, 2008, São Paulo. Anais [...] Poder, Violência e Exclusão. São Paulo: ANPUH/SP-USP, 2008.
SALLES, Vicente. Repente & cordel: literatura popular em versos na Amazônia. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional do Folclore, 1985.
ZÉ Vicente. Introdução e seleção Vicente Salles. São Paulo: Hedra, 2000.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Zé Vicente (Lindolfo Mesquita). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/ze-vicente/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)