O bairro da Várzea está localizado na RPA 4 (Região Político Administrativa 4), na Zona Oeste, e é o segundo maior bairro em extensão do município do Recife, medindo 2.255 hectares e com população residente de 70.453 habitantes, segundo o último Censo, de 2010. É um bairro bastante arborizado, cortado pelo rio Capibaribe, e de clima muito agradável.
A palavra várzea significa planície ou terreno plano, extenso e cultivável junto a rios e ribeirões; por isso, a região recebeu o nome de Várzea do Capibaribe, fazendo referência ao rio que corta o bairro, que, em 1630, era apenas um povoado, tornando-se mais tarde uma freguesia, que tinha como padroeira Nossa Senhora do Rosário, nome da primeira capela construída, em 1612. Por conta do crescimento populacional, a capela tornou-se a Matriz da Várzea, onde foi sepultado o corpo de Dom Antônio Felipe Camarão, governador dos índios e um dos heróis da Restauração.
Naquela época, as terras eram férteis e com água em abundância. Acredita-se que, por esse motivo, a região foi escolhida pelos colonos portugueses na primeira metade do século XVI para o plantio da cana-de-açúcar. O primeiro engenho foi o de Santo Antônio, porém o engenho São João ficou sendo o mais conhecido, porque era lá que se discutiam os planos de revolta contra os holandeses no período da Guerra da Restauração (1645-1654) e, por um período, funcionou como capital de Pernambuco.
Até 1880, a Várzea era uma disputada colônia de férias, pois as águas do rio eram cristalinas e diziam ter poder de cura, atraindo recifenses de toda parte da cidade. Atualmente, o rio encontra-se poluído, mas, mesmo assim, ainda é um belo cartão-postal ao pôr do sol, fazendo com que a Várzea ainda seja “o melhor cantinho da cidade.”
A região é conhecida pelas diversas atividades culturais e religiosas que desenvolve. Entre elas, a Bandeira de São João e o Acorda Povo, que saem sempre no dia 23 de junho da casa-capela, residência de algum morador ou moradora do bairro escolhido no ano anterior, como “padrinho” ou “madrinha”. Este(a) tem a missão de guardar o andor com a imagem de São João do Carneirinho e o estandarte com a foto do Santo. A procissão percorre as ruas, convidando a comunidade a participar do cortejo, através de um canto entoado pelo responsável do ritual e demais componentes. O trajeto percorre os principais pontos do bairro, suas igrejas e praças, chegando ao largo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, onde acontece uma confraternização com bebidas e comidas típicas e a escolha do próximo “padrinho” ou “madrinha”; O Festival de Inverno da Várzea (FIV), que acontece no mês de agosto e tem por objetivo combater todo tipo de discriminação, proporcionando o encontro de gerações por meio da música, dança, arte de rua, brincadeiras populares, poesia, artesanato e gastronomia; o Maracatu Real da Várzea, que é um projeto social sem fins lucrativos, com a finalidade de difundir ritmos afros-brasileiros; o Bloco Lírico Flor do Capibaribe, que resgata a memória dos antigos carnavais, transcendendo o próprio ciclo carnavalesco, e compartilhando um saber popular, levando ao povo a história dos blocos, dos ranchos, dos pastoris e presépios; além também das rodas de capoeira e ligas de dominó e baralho, que ajudam a integrar os moradores.
Todas as atividades acontecem na Praça Pinto Damásio, conhecida popularmente como Praça da Várzea. Em 1936, o paisagista Burle Marx concebeu para a Praça um projeto de jardinagem, com parquinho, coreto, lago com fonte, caramanchão e palmeiras imperiais, que estão lá até hoje. A Praça é considerada por alguns moradores como o marco zero do bairro, por sua localização, e por ser ponto de encontro de vários grupos sociais e culturais.
É na Várzea que se encontram o Instituto Ricardo Brennand (com um acervo de peças medievais), o ateliê de Francisco Brennand (que retrata esculturas em argila), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), e a Escola de Arte João Pernambuco, que oferece cursos de música, dança, teatro e artes visuais. O bairro apresenta também vários casarões, como o antigo prédio onde funcionou o Hospital Odontológico Magitot. Apesar de se encontrar em ruínas, serve também de palco para movimentos culturais e está, desde 2008, com uma proposta para ser restaurado e transformado em um centro cultural.
Pode-se citar, ainda, o Educandário Magalhães Bastos, que, segundo placa comemorativa, destinava-se ao asilo da infância desvalida de ambos os sexos, tendo sido construído em 1897, por Napoleão Duarte e fundado pelo comandante Antônio José de Magalhães Bastos, comerciante da cidade na época; e a Secretaria de Educação de Pernambuco, onde funcionou uma tecelagem e que é vizinha ao Instituto Santa Maria Mazzarello, que, no início, era uma escola para crianças filhas dos operários da tecelagem.
O bairro também possui escolas, creches, cemitério, delegacia, uma Unidade de Tecnologia, restaurantes, barzinhos, feira livre, um comércio bastante variado e até uma Upinha em fase de conclusão, localizada na Afonso Olindense, principal avenida do bairro.
Recife, de de 2019
* Este texto faz parte do projeto Interagindo com a História do Seu Bairro, uma parceria da Fundação Joaquim Nabuco com o Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores.
Fontes consultadas
ACORDA povo e bandeira de São João da Várzea. In: Blog Inventário Várzea. Recife, 28 de jun. de 2016. Disponível em: http://inventariovarzea.blogspot.com/2016/06/acorda-povo-e-bandeira-de-sao-joao-da.html. Acesso em: 15 de jun. de 2019.
BARBOSA, Bruna et al. Bairro da Várzea. In: Blog Professor Biu Vicente. Recife, 6 de jun. de 2009. Disponível em: https://profbiuvicente.blogspot.com/2009/06/bairro-da-varzea.html. Acesso em: 28 de ago. de 2019.
CENSO Demográfico, 2010. Resultados do universo: características da população e domicílios. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 15 de jun. de 2019.
FREYRE, Gilberto. Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife. 5. ed. São Paulo: Global, 2007.
SILVA, Leonardo Dantas. Várzea (Bairro, Recife). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2010. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/varzea-bairro-recife/. Acesso em: 28 de ago. de 2019.
Como citar este texto
SILVA, Edvane Neves da Silva; PIRAUÁ, Isabela Cabral de M. Dantas; SANTOS, Maria de Fátima Lira Borges dos; SANTANA, Maria José dos Santos; SANTOS, Sônia Gomes da Silva dos. Várzea Revisitado (Bairro, Recife). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2019. Disponível em: pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/boa-viagem-revisitado-bairro-recife/. Acesso em: dia mês ano (Ex.: 6 nov. 2021).