Selma do Coco: Patrimônio da Cultura de Pernambuco (cantora e compositora)
Última atualização: 05/08/2022
Encantou-se, virou estrela
Mulher negra guerreira
É a nossa Rainha do Coco
Que um dia foi Selma Ferreira.
(Rainha do Coco. Williams Santana, o Chicó da Burra).
Selma Ferreira da Silva nasceu em 10 de dezembro de 1935 na cidade de Vitória de Santo Antão, na zona da Mata de Pernambuco. Desde criança Selma entrou em contato com a música tradicional pernambucana, especialmente o coco de roda, nas festas juninas que frequentava acompanhada de seus pais. Viveu no interior até os dez anos, quando a família veio morar em Recife onde ainda muito jovem se casou.
Selma viveu por 15 anos no bairro da Mustardinha, no Recife e depois quando ficou viúva aos 30 anos, foi morar em Olinda onde passou a vender tapioca. No intuito de atrair os fregueses, começou a cantar o coco, assim encantava os turistas e aumentava as vendas.
A mulher batalhadora e otimista nas horas de folga passou a organizar rodas de côco.
Foi Chico Science e os demais jovens do movimento Manguebeat, que descobriram nos anos 90 a irreverência de Selma e começaram a elogiar suas músicas. Assim, a artista passou a se tornar mais conhecida e a se apresentar em festas populares onde vendia fitas cassete gravadas com suas músicas.
O festival Abril Pro Rock do ano de 1996 marcou a primeira apresentação de Selma do Coco para um grande público que provocou instantaneamente uma guinada radical em sua carreira artística.
Em 1997, o côco apresentado no festival intitulado “A Rolinha” que foi também gravado por outros artistas, fez sucesso tanto no carnaval de Recife quanto de Olinda.
Foi convidada a se apresentar em São Paulo e de lá para a Europa, especialmente na Alemanha, onde fez diversos shows.
O primeiro CD, Minha História, em parceria com seu filho Zezinho, que foi gravado na Alemanha em 1998 e depois lançado pela gravadora Paraddoxx, rendeu à artista o Prêmio Sharp no ano seguinte.
De acordo com Selma (201?), no primeiro CD estão presentes diversas composições de sua autoria como a música título, "Santo Antônio", "Dá-lhe Manoel" e "A rolinha".
“Minha História” apresentava as seguintes faixas:
1. Minha História (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
2. Odete (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
3. A Rolinha (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
4. Dá-lhe Manoel (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
5. Santo Antônio (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
6. Areia (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
7. Ô Moreninha Do Dente De Ouro (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
8. Peixe Desconhecido (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
9. Coco Para Barreiros (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
10. Coco Para Berlim (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
11. Submarino Alemão (Dona Selma Do Coco / Zezinho)
12. Encerramento (Dona Selma Do Coco / Zezinho).
Nos anos seguintes, Selma se apresentou no Festival Lincoln Center, em Nova York, e no Festival de Jazz de Nova Orleans, bem como começou a fazer shows em diversos países da Europa: Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Suíça e Portugal.
Gravou o disco Heróis da Noite ao lado de cantores africanos durante a excursão pela Europa, atendendo a um convite do Instituto Cultural de Berlim.
Em 2003 foi lançado “Raízes da cultura”, gravado em Olinda.
Dona Selma: bodas de ouro em coco, com faixa multimídia, foi gravado e produzido entre 2008 e 2009.
Há, ainda que fazer menção à participação da artista em coletâneas:
• Heróis da Noite
• Cultura Viva
• Pernambuco em Concerto.
O filho Zezinho fez a produção geral e a direção musical do disco Jangadeiro, seu segundo CD, gravado em 2004, com as músicas:
1. Chamada para Dona Selma
2. Jangadeiro
3. Rolinha 2
4. Tuninha
5. Cabo de Santo Agostinho
6. Meu sabiá
7. Fazendo vento
8. Usina maravilha
9. Mano
10. Cordão de prata
11. O que é que Selma tem
12. Itapissuma
13. Eu vou pra Olinda
14. Não erre, cantador
Todos os discos independentes de Selma estaviram sob a coordenação do filho Zezinho, único filho vivo naquela época, que, lamentavelmente faleceu em abril de 2010.
O coco, assim como outras manifestações da cultura popular, sofre para manter sua tradição e para terem visibilidade no cenário social. Para vencer a invisibilidade da cultura popular e a dificuldade em se manterem devido à baixa rentabilidade financeira, os grupos de coco, de forma independente, organizam periodicamente suas apresentações em bairros da periferia, onde a cultura nasce e é fomentada. Esses grupos contribuem para manter viva a cultura popular e o coco de roda. Ximenes (2015) nos apresenta alguns deles:
Coco dos pretos
Criado no bairro Chão de Estrelas, em março de 2006, o grupo afirma que o batuque de seus instrumentos está arraigado às raízes do ritmo, que influenciam diretamente os componentes - ainda assim, estão sempre ampliando as possibilidades quando vão tocar, para que as apresentações sejam inovadoras. A agenda do grupo é intensa. Por coincidência, no dia da morte de Selma do Coco, o grupo estava tocando no evento "Onde é que tá o Coco?", em Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. É possível acompanhá-los através de sua página no Facebook, onde, além da agenda, há fotos postadas e vídeos das sambadas.
Sambada de Coco da Tabajara
Mensalmente, o Mestre Juarez e o Coco do Seu Mané apresentam uma sambada na Cidade Tabajara, onde difundem a missão do coletivo: contribuir com o processo de afirmação da cultura popular e incentivar o intercâmbio cultural entre os mestres, artistas e grupos de diferentes comunidades onde essa cultura é gerida e realizada, para que a troca de vivências fortaleça a arte e fomente os ritmos populares naquele universo, dando vez e voz aos artistas independentes e autogestionados. Nas sambadas, eles também fazem feiras sociais com arte e moda local, criando rentabilidade para o evento. Para saber mais e acompanhar sua agenda, visite a página do grupo no Facebook.
Grupo Bongar
O grupo foi fundado em 2001, nas proximidades da comunidade Xambá, em Olinda, com o propósito de levar aos palcos a tradicional festa do Coco da Xambá, que se realiza na comunidade há mais de 40 anos, no dia 29 de junho. O Bongar tem sua formação musical voltada para o universo popular, cujas músicas têm influência dos cultos afro-brasileiros vivenciados pelos integrantes. Além das apresentações nos palcos, o grupo realiza também oficinas de percussão, dança popular, confecção de instrumentos e palestras. Sua agenda e outras notícias podem ser lidas na página do grupo no Facebook.
Os cocos nordestinos expressam aspectos sociais e humanos de forma muito expressiva e alegre: “o coco me adotou, me chamam rainha do coco, o povo é meu amor” cantava Selma do Coco com emoção.
Quando Selma cantava, de repente soltava um “a-há”, que de acordo com Burh (201?) a própria artista revelou que não tinha nenhuma relação com orixás ou outras entidades, e que o grito acontecia enquanto o pensamento ia rodando, procurando no repertório o próximo coco a ser executado.
Morena do dente ouro, qual é o teu feitiço? Cantando e dançando um coco sincopado, matreiro e cheio de duplo sentido, Selma sabe que agrada. E gosta do que faz. Embrenhando-se no meio poético-musical do coco de roda, entramelando-se nas devoções de um coco que sutilmente também batuca, o grito de guerra “a-há” antecede o canto e faz a amarração de uma performance cheia de ginga, simpatia e irreverência. (BURH, 201?).
Selma do Coco, considerada um patrimônio da cultura do estado de Pernambuco, faleceu após passar 28 dias internada para tratar da fratura de um fêmur, causada após uma queda em sua casa. Devido a uma parada cardíaca seguida de falência múltipla dos órgãos, no dia 9 de maio de 2015, ela se despediu do coco porém, nos deixou um legado: a solidificação do coco como uma referência da identidade popular nordestina.
Recife, 30 de novembro de 2017.
Fontes consultadas
ALCÂNTARA, Clênio Sierra de. Celebrando o legado de Selma do coco. In: A Cidade e a História, 30 jul. 2015. Disponível em: http://acidadeeahistoria.blogspot.com.br/2015/07/celebrando-o-legado-de-selma-do-coco.html. Acesso em: 30 nov. 2017.
BUHR, Priscilla. Selma do Coco (in memoriam). Cultura Pe, [201?]. Disponível em: http://www.cultura.pe.gov.br/pagina/patrimonio-cultural/imaterial/patrimonios-vivos/selma-do-coco/. Acesso em: 30 nov. 2017,
SELMA do coco. [Foto neste texto]. Disponível em: http://www.cultura.pe.gov.br/pagina/patrimonio-cultural/imaterial/patrimonios-vivos/selma-do-coco/. Acesso em: 21 nov. 2017.
SELMA do coco. [201?]. Disponível em: http://www.cantorasdobrasil.com.br/cantoras/selma_do_coco.htm. Acesso em 30 nov. 2017.
FALECEU artista Selma do coco. Diario de Pernambuco, 09 maio 2015. Disponível em: goo.gl/PzQwb6. Acesso em: 30 nov. 2017.
TELES, José. Dona Selma do Coco vibra com a comenda recebida do presidente Lula e celebra seus 50 anos de carreira. Disponível em: http://www.onordeste.com/portal/selma-do-coco/. Acesso em: 30 nov. 201.
XIMENES, Lara. Selma do coco e a resistência da cultura popular. Blog do dia 11 de maio de 2015. Disponível em: goo.gl/Ybu2tr. Acesso em: 30 nov. 2017.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia Albuquerque. Selma do Coco: Patrimônio da Cultura de Pernambuco (cantora e compositora). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2017. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/selma-do-coco-cantora-e-compositora-patrimonio-da-cultura-de-pernambuco/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)