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Xangô

Xangô é um dos orixás mais populares, respeitados e divulgados dos candomblés e terreiros do Brasil.

Xangô

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 08/06/2022

Por: Maria do Carmo Gomes de Andrade - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Biblioteconomia

Filho de Oxalá e Iemanjá, Xangô é considerado rei dos orixás. No culto afro-brasileiro, Xangô é definido como a divindade das tempestades, dos raios e dos trovões. Na mitologia, Xangô cuida da administração, do poder e da justiça, representando a autoridade constituída no panteão africano. Pode-se dizer que Xangô é um dos orixás mais populares, respeitado e divulgado dos candomblés e terreiros do Brasil. O dia votivo de Xangô é a quarta-feira e a festa especial a ele dedicada acontece no dia 30 de setembro.

A representação material do Xangô é um meteoro, seu símbolo é a lança e a machadinha de dois gumes, feita com pedras de raio ou pedras de trovão formadas pelo relâmpago. No sincretismo religioso (fusão de elementos culturais diferentes), Xangô corresponde aos santos católicos São Jerônimo, Santa Bárbara, Santo Antônio e São João Batista. Os negros traficados para o Brasil eram proibidos de professarem a sua fé religiosa. Para driblar a vigilância dos seus opressores, eles davam a seus orixás nomes de santos do catolicismo, religião dos colonizadores do Brasil.

Orixá é uma designação genérica das divindades cultuadas pelos iorubas no Sudoeste da atual Nigéria, e também de Benin e Norte do Togo, de onde foram trazidos os negros escravizados para o Brasil e com eles suas crenças, às quais foram sendo incorporadas por outras manifestações religiosas. Os Orixás, também chamados Santos, são entidades sobrenaturais que servem como intermediários entre Deus e os homens. A maior parte deles é a personificação de forças e fenômenos da natureza. Além de todos os Orixás apresentarem dimensão espiritual, existe ainda a dimensão material, que pode ser representada por um objeto ou conjunto de objetos sobre o qual sua força espiritual é assentada através do ritual de consagração chamado de assentamento.

Com o assentamento, a representação material do Orixá, ou seja, seus objetos físicos passam a ser mais do que símbolo da sua presença, são ao mesmo tempo a morada do Orixá e o próprio Orixá. A realidade do santo se expressa também através do transe, isto é, quando um membro do culto incorpora seu espírito, que passa então a ficar presente entre os homens.

Dessa forma, observa-se que há diferentes níveis de percepção da divindade (Orixá), cuja realidade deve ser assimilada e experimentada pelos adeptos na prática do culto: a força da natureza; a manifestação concreta nos fenômenos naturais; os objetos materiais mantidos nos templos e a manifestação do orixá no corpo através da incorporação.

O Orixá Xangô é apresentado como sendo um homem jovem de físico forte com estrutura óssea bem desenvolvida, ágil, sensual, arrebatando, através da dança, suas devotas. Os cânticos em louvor de Xangô têm ritmo acelerado e vibrante. Um chocalho especial chamado xereré é usado para animar as filhas de santo. A dança é executada com passos guerreiros ao som de instrumentos percussivos. Os assistentes, entusiasmados, reverenciam o santo incitando-o aos gritos de “Ôkê! Ôkê!”. Xangô vem armado com uma lança, trazendo ao pescoço colares de contas brancas e vermelhas, pulando e rodopiando vigorosamente. Seu grito é “êi-í-í”.

No local do culto (terreiro), também denominado de Xangô, há um altar ou congar chamado de Peji, onde são colocadas oferendas e comidas para o santo. O poderoso Orixá Xangô gosta de comer amalá (quiabo com camarão ou carne servido com angu de inhame ou farinha) e bejiri (quiabo com inhame, azeite, camarão, sal e cebola). Nas quartas-feiras, dia da semana consagrado a Xangô, renova-se a comida e a água do santo.

Os cultos afro-brasileiros disseminados pelo Brasil pouco diferem um dos outros no que diz respeito aos ritos, às divindades, às categorias protetoras ou às finalidades dos seus cerimoniais. Inspirado na liturgia Nagô, o Xangô (rito) é praticado por diversos grupos étnicos brasileiros, ficando conhecido por diferentes denominações, como Macumba, no Rio de Janeiro; Candomblé, na Bahia; Xangô, em Pernambuco e Alagoas; Casas de Mina ou Nagô, no Maranhão; Terreiros, no Pará, Pernambuco e Bahia; Canjerê, em Minas Gerais e Rio Grande do Sul; e Babaçuê (também chamado Batuque de Santa Bárbara), praticado na região Norte, principalmente no Pará.

Os grupos de Xangô são cultos independentes entre si, concentrados em torno da figura de um sacerdote-adivinho, com uma infraestrutura de pessoas hierarquicamente qualificadas, outras ritualmente iniciadas (filhas de santo) ou candidatas à iniciação, e os simpatizantes. As práticas rituais e das crenças religiosas foram ao longo do tempo sofrendo influências do catolicismo e das tradições indígenas. Todavia, seguem em geral o modelo das tradições religiosas dos Ewe-Fon (Jeje) e dos Yoruba (Nagô), povos da Costa da Mina (corresponde à atual região do Golfo da Guiné, de onde veio grande parte dos escravos traficados para as Américas), cujas culturas se impuseram no domínio religioso sobre as dos demais povos introduzidos.

Essas tradições consagram o culto a uma série de divindades subordinadas a um criador, descendentes de uma família mitológica, organizados em panteões com função de controlar as forças da natureza e de regular a conduta dos indivíduos.

Embora sejam observadas algumas variações de região para região e até mesmo diferenças entre grupos de um mesmo local, as linhas gerais da organização, o funcionamento e o sistema de crenças não apresentam diferenças significativas, quer no Brasil, quer em outras partes da América onde sua existência também é registrada, como em Cuba, Haiti, Porto Rico, Jamaica, Honduras Britânica, Guiana Holandesa e Trinidad.

 

 

Recife, 13 de março de 2013.

 

Fontes consultadas

BASTOS, Abguar. Os cultos mágico-religiosos no Brasil: xangô, candomblé, pará, macumba, cambinda, umbanda, quimbanda, catimbó, linha de mesa, babaçue, tombor-de-mina, pajelança, toré cabula: os aparatos, os cerimoniais, as alfaias, os feitiços. São Paulo: Hucitec, 1979.

CARNEIRO, Edison. Xangô. In: NOVOS estudos afro-brasileiros. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1988. 352p. (Série: Abolição, v.7). Fac-símile de: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.

CARVALHO, Jose Jorge de; SEGATO, Rita Laura. A tradição religiosa do Xangô do Recife. Humanidades, Brasília, n. 47, p. 70-86, nov. 1999.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 11. ed. São Paulo: Global, 2002.

HOUAISS, Antonio. Novo dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss; Editora Objetiva, 2009.

ÍNDICE Orixás. Disponível em: http://www.casaiemanjaiassoba.com.br/xango.html. Acesso em: 1 fev. 2013.

RIBEIRO, René. Xangôs. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Recife, n. 3, p. 65-79, 1954. 

XANGÔ. [Foto nesse texto]. Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/-Roph1O5L9-k/T4Xf3krHK6I/AAAAAAAABY4/yyPFG5l7dCM/s1600/Xango+e+Ians%C3%A3.jpg. Acesso em: 8 jun. 2016.
 

Como citar este texto

ANDRADE, Maria do Carmo. Xangô. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/xango/. Acesso em: dia mês ano. (Ex: 6 ago. 2020.)