O bolo de casamento é a principal iguaria nessa data festiva quando duas pessoas se unem em matrimônio. Essa deliciosa tradição possui uma história que está relacionada aos costumes da Roma Antiga. De acordo com Barrozo (2015?, p.2), as primeiras notícias que temos da confecção de bolos em casamento remontam à Roma Antiga. Os romanos eram na época os detentores das técnicas de fermentação e produziam um misto de bolo e pão recheado de frutas secas, mel, nozes e especiarias. O bolo, que mais se assemelhava a um pão, era rasgado sobre a cabeça dos noivos e quanto mais farelos caíssem sobre eles, mais prosperidade e fertilidade teriam.
O bolo de casamento de três andares teria, segundo Barrozo (2015?, p.9), um sentido: o primeiro andar seria o compromisso, o segundo, o casamento, o terceiro, a eternidade. Para as cortes europeias, a altura do bolo demonstrava o poder e a riqueza das famílias que se uniam; portanto, quanto mais altos, melhor.
De acordo com Bass (2015, p.2), vem do século XIX (quando os bolos de vários andares se tornaram comuns) o costume de guardar a camada superior do bolo de casamento para ser servido no batizado do primogênito do casal, normalmente um ano após o casamento. Essa prática evitava a tarefa de planejar um bolo para o batizado, porém, com o passar do tempo, esse costume foi abolido devido ao fato de a maioria dos casais não planejarem ter um filho no primeiro ano de casamento. Atualmente comer juntos o bolo de noiva guardado no aniversário do primeiro ano de casamento faz com que o casal relembre aquele momento de felicidade e renove a alegria de estar juntos celebrando novamente o amor e a união.
A tradição pede que a primeira fatia do bolo seja cortada pelos noivos, ambos segurando a faca para cortá-la, sendo a noiva a primeira a experimentar a iguaria, depois o noivo e, posteriormente, os convidados. Esse momento tão românico do casal cortando o bolo juntos nasceu da necessidade de a noiva ser ajudada por causa da dificuldade de cortar as diversas camadas.
O bolo de noiva em Pernambuco é diferente dos bolos de casamento do restante do Brasil e tem uma história relacionada com a presença dos ingleses no estado. O sociólogo Gilberto Freyre escreveu um livro sobre a rica culinária pernambucana onde apresenta as receitas mais famosas e suas histórias. Freyre considera o açúcar um dos principais ingredientes na mesa do pernambucano, pois muitos são os doces típicos do estado, entre eles os bolos, tão apreciados nas "merendas" e festas familiares. O bolo de noiva ou bolo de frutas também recebe destaque por estar presente não só em casamentos, mas também em diversos momentos da vida dos pernambucanos.
O mês de maio é tipicamente conhecido como o mês das noivas. “E Maio é chamado de mês das noivas, hábito europeu, porque nele a primavera do hemisfério norte explode em flores e cores” (BRAGA, 2008, p.2) e é quando se celebram muitas bodas em todo o país, inclusive Pernambuco. Nesse período, é quando entra em cena e se destaca a receita tradicionalíssima do bolo de noiva do Nordeste que é inspirada no bolo de frutas inglês.
De acordo com Stradley (2004, p.1), a mais antiga referência que encontramos sobre um bolo de frutas remonta à época romana. A receita inclui sementes de romã, pinhões e passas que misturavam-se em mash de cevada. Durante a Idade Média foram adicionados o mel, especiarias e frutas cristalizadas. Eram feitos inicialmente para os Cruzados e os caçadores se alimentarem durante os longos períodos de tempo fora de casa. E foi no século XV que os britânicos começaram seu caso de amor com o bolo de frutas, época em que chegaram os frutos secos do Mediterrâneo.
A receita original do Christmas Cake, ou bolo inglês, vem de uma antiga tradição que remonta à Revolução Francesa. Teve origem nas papas de aveia utilizadas para aliviar a fome por causa dos jejuns na noite de Natal. Com o tempo foram recebendo outros ingredientes, como os frutos secos, o mel e as especiarias. No século XVI, a aveia foi substituída por ovos, farinha e manteiga. O bolo era feito com muita antecedência, guardado numa caixa e borrifado semanalmente com brandy ou uísque até a noite de Natal.
No século XVIII, o bolo de frutas já era inteiramente conhecido em toda a Europa Continental. Segundo Stradley (2004, p. 2), entre 1837 e 1901, o bolo passou a ser extremamente popular e um "chá" não estaria completo se não fosse servida a iguaria. A própria Rainha Victoria teria esperado um ano para comer um bolo de frutas que ela recebeu na ocasião do seu aniversário.
A versão básica do bolo inglês mais conhecida no Brasil consiste em uma massa branca recheada com frutas cristalizadas e passas.
No estado de Pernambuco, foram feitas adaptações da receita do bolo inglês acrescentando alguns ingredientes como ameixas e vinho que somados às passas e frutas cristalizadas conferiu à massa um sabor muito marcante, resultando num bolo de consistência úmida e doce. Para incrementar ainda mais a receita, foi incluída também a cobertura de glacê à base de açúcar, claras de ovos e suco de limão para dar a beleza e o toque pessoal de cada doceira. Mais recentemente, também é utilizada a pasta americana para cobrir os bolos possibilitar lindas decorações.
O bolo de noiva é tão famoso no Estado que existem receitas de família guardadas a sete chaves, repassadas de geração a geração e que divergem de outras basicamente na quantidade de ingredientes utilizados, mas a tradição do bolo de frutas se mantém independentemente da disputa pelo título de melhor receita.
Receita do bolo de noiva preparado pela doceira pernambucana Ana Paiva:
Dificuldade: Média
INGREDIENTES:
½ kg de açúcar refinado
MODO DE PREPARO:
Bata a manteiga, com o açúcar e o sal, até que ela fique esbranquiçada
COBERTURA:
2 claras
DOCE DE AMEIXA:
Bata ½ kg de ameixas sem caroço no liquidificador com 250 ml de água
CURIOSIDADE: Na Inglaterra, era costume dos convidados solteiros do casamento colocarem uma fatia do bolo sob seu travesseiro à noite para que sonhassem com a pessoa com a qual se casariam.
Fontes consultadas
BARROZO, Ruy. Bolo de casamento: história e significados. [2015?]. Disponível em: <https://www.hagah.com.br/roteiros/bolo-de-casamento-historia-e-significados-3353950>. Acesso em: 18 maio 2015.
BASS, Janece. Por que comer o bolo de casamento um ano depois?. Tradução de Camille Sampaio. Disponível em: >. Acesso em: 18 maio 2015.
BOLO DE CASAMENTO [imagem neste texto]. Disponível em: <http://www.muitochique.com/variedades/bolos-de-casamento-dicas-estilos-precos.html> Acesso em: 16 jun. 2015.
BRAGA, Ana. História do bolo de noiva pernambucano. 2008. Disponível em:<http://aninha-braga.blogspot.com.br/2008/08/histria-do-bolo-de-noiva-pernambucano.html>. Acesso em: 20 maio 2015.
CASAMENTO & Cia. Bolo de casamento e sua tradição. Disponível em: <http://www.casamentoecia.com.br/?option=com_cerimonias_home&content=outras&id=520>. Acesso em: 20 maio 2015.
FREYRE, Gilberto. Açúcar: em torno da etnografia, da historia e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil. 3.ed. rev. aum. Recife: Fundaj, Massangana, 1987.
NO MÊS das noivas, aprenda a fazer o bolo de casamento típico do Nordeste. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/comida/1087371-no-mes-das-noivas-aprenda-a-fazer-o-bolo-de-casamento-tipico-do-nordeste.shtml>. Acesso em: 28 nov. 2018.
STRADLEY, Linda. History of Fruitcake. 2004. Disponível em: <http://whatscookingamerica.net/History/Cakes/Fruitcake.htm>. Acesso em: 20 maio 2015.
UOL comidas e bebidas. Inspirado em receita inglesa, Bolo de Noiva é tradição no Nordeste: entrevista com a doceira Ana Paula Paiva. São Paulo, 2013. Disponível em: <goo.gl/QVp9wA>. Acesso em: 20 maio 2015.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia Albuquerque. O bolo de casamento ou bolo de noiva. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2015. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/o-bolo-de-casamento-ou-bolo-de-noiva/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)