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Geraldo Vandré

Data Nasc.:
12/09/1935

Ocupação:
Cantor, Compositor, Advogado

Formação:
Direito

Geraldo Vandré

Artigo disponível em: ESP

Última atualização: 07/03/2022

Por: Maria do Carmo Gomes de Andrade - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Biblioteconomia

"Vem vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...”
(Geraldo Vandré).


Cantor, compositor e advogado, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nasceu em 12 de setembro de 1935 em João Pessoa, Paraíba, filho primogênito de Maria Eugênia e Vandregisilo, principal inspirador do seu nome artístico.

Vandré estudou em regime de internato no Colégio São José em Nazaré da Mata, cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Desde cedo, ele revelou vocação musical, se apresentando em festivais realizados pelo Colégio.

Por volta dos 14 anos, já particitava de programas de calouros na Rádio Tabajara de João Pessoa. Com a mudança de sua família para o Rio de Janeiro, em 1951, Geraldo Vandré viu facilitado seu acesso ao mundo artístico. Lá chegando, logo conseguiu se apresentar no programa de calouros de Cesar de Alencar com o pseudônimo de Carlos Dias.

Decidido a seguir a carreira artística, contou com o apoio financeiro de sua mãe na produção de um disco (talvez uma espécie de demo) onde cantava imitando Orlando Dias e Francisco Alves, o qual acabou servindo como “passaporte” para shows em boates e apresentações nas rádios. Convivendo no meio artístico, teve oportunidade de conhecer diversos artistas inclusive o folclorista, compositor e apresentador Valdemar Henrique, responsável por sugerir o pseudônimo artístico Geraldo Vandré para o colega.

Na faculdade, Geraldo Vandré não demorou a fazer parte do movimento estudantil e a integrar-se ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), onde conheceu seu primeiro parceiro musical, Carlos Lyra. Suas primeiras composições com o parceiro foram Quem quiser encontrar um amor e Aruanda, gravadas por Carlos Lyra. Seguiu compondo canções ao lado de parceiros como Alaíde Costa e Baden Powell. Em 1962, gravou com a cantora Ana Lúcia a canção Samba em prelúdio, de Vinicius de Morais e Baden Powell.

No mesmo ano, graduou-se em Direito. Começou a trabalhar como fiscal da Companhia Federal de Abastecimento (Cofap), enquanto planejava abrir um escritório de advocacia. Nesse meio tempo, a música Samba em prelúdio tornou-se um sucesso aumentando a demanda pelas apresentações que ele realizava com Ana Lúcia.

Em 1964, ele se casa com Nice Tranjon e lança seu primeiro disco, obtendo boa repercussão na mídia.

Em 1965, atendendo ao convite do cineasta Roberto Santos, Geraldo Vandré compôs a trilha sonora do filme A hora e a vez de Augusto Matraga. Nesse mesmo ano, interpretou a composição Sonho de um carnaval de Chico Buarque de Holanda no Primeiro Festival de Música Popular Brasileira, na extinta TV Excelsior de São Paulo, se classificando em sexto lugar. Ainda em 1965, lançou seu segundo disco intitulado Hora de lutar.

Em 1966, venceu o Festival Nacional de Musica Popular, também na TV Excelsior de São Paulo, interpretando a canção Porta-estandarte, composta em parceria com Fernando Lona. A vitória no festival abriu caminho para a realização de uma turnê pelo Nordeste brasileiro, em companhia do Trio Novo, composto por Théo de Barros, Airto Moreira e Heraldo do Monte. Ao final da temporada, Hermeto Pascoal agregou-se ao grupo formando assim o Quarteto Novo.

Participou do Segundo Festival de Musica Popular Brasileira realizado também em 1966, pela TV Record de São Paulo, apresentando a canção Disparada, composição em parceria com Théo de Barros, interpretada por Jair Rodrigues e o Trio Marayá, conquistando o primeiro lugar, empatando com A Banda de Chico Buarque de Holanda. Obteve ainda o segundo lugar no Primeiro Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro com O Cavaleiro, composto em parceria com Tucá.

Seu terceiro disco, intitulado Cinco anos de canção, foi lançado em 1966. Em 1967, apresentou os programas: Disparada na TV Record; Canto geral, depois chamado de Canto permitido, na TV Bandeirantes, e Caminhando, na TV Globo. Permaneceu participando de festivais de canção pelo país, lançando seu quarto disco Canto geral, ainda em 1967.

Em 1968, participou do Festival Internacional da Rede Globo com a composição Caminhando também conhecida como Pra não dizer que não falei das flores, que ficou em segundo lugar. A composição tornou-se um hino de protesto contra a ditadura militar vigente. A canção chegou a ser considerada por alguns críticos, como um dos elementos deflagradores do Ato Institucional nº 5, conhecido como AI-5. Nesse mesmo ano, lançou o disco Caminhando rapidamente proibido pela censura do regime militar.

Geraldo Vandré compôs Che, musicada por Marconi Campos e apresentada pelo Trio Marayá no Festival Internacional de Música da Bulgária, sagrando-se a música vencedora do evento. Em seguida, foi convidado pelos padres dominicanos de São Paulo para compor a trilha e os versos para o episódio da crucificação de Jesus. Paixão segundo Cristino é uma releitura que foge do convencional. A essa altura, a situação do Brasil estava cada vez mais difícil com a ditadura militar e Geraldo Vandré se vê obrigado a partir para o exílio no Chile.

No Chile, participou de alguns festivais universitários, mas por não ter registro para trabalhar como músico profissional, teve que abandonar o país. Viajou para assistir a um festival de arte negra na Argélia e de lá seguiu para a Alemanha, onde gravou alguns programas na TV da Baviera. Com o dinheiro obtido, comprou um carro e continuou viajando, passando pela Grécia, Áustria e Bulgária, entre outros países. Apresentou-se em diversos lugares em troca de comida, sempre cantando em português.

Na Itália, Sergio Endrigo regravou músicas de Vandré. Em Paris, França, um grupo de artistas brasileiros reapresentou a Paixão segundo Cristino, montada na Igreja de Saint-Germain, na Páscoa de 1970. Na França, com o Quinteto Violado gravou o seu quinto disco, Das terras do benvirá, que seria lançado no Brasil pela Philips em 1973, ano do seu retorno ao Brasil. Contudo, sua carreira artística não seria a mesma em decorrência da vigilância cerrada por parte ditadura militar.

Geraldo Vandré voltou, mas sua voz se calou. Durante os anos de silêncio, surgiram várias histórias e boatos em torno de sua carreira artística. Entre outras, dizia-se que ele foi constrangido a gravar depoimento negando sua militância político-partidária em troca de sua volta ao país. Para espanto dos seus fãs e admiradores de esquerda, em 1995, Geraldo Vandré compôs a música Fabiana em homenagem às Forças Armadas Brasileiras. Em março de 1995, se apresentou no Memorial da América Latina, em São Paulo, durante um concerto realizado pelo IV Comando Regional (CONAR) em comemoração a Semana da Asa, ocasião em que lançou a música Fabiana, acompanhado por um coral de cadetes.

Perguntado por que havia se afastado da vida artística, em entrevista especial para o jornal O Globo, Vandré respondeu: Falta de razão para cantar.

Muitos outros artistas gravaram e regravaram músicas de Geraldo Vandré. Entre outros, o grupo Quinteto Violado lançou o CD Quinteto violado canta Vandré em 1997, incluindo antigos sucessos e uma música inédita do compositor República brasileira.

 



Recife, 29 de fevereiro de 2012.
 

Fontes consultadas

GERALDO Vandré [Foto neste texto]. Disponível  em: <http://humbertodealmeida.com.br/vandre-faz-hoje-80-anos-viva-geraldo-parabens/>. Acesso em: 26 set. 2018.

VANDRÉ, Geraldo. In: DICIONARIO Cravo Albin da Musica Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2001. Disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br>. Acesso em: 23 fev. 2012.

VANDRÉ, Geraldo. Homenagens a Vandré. Biografia: Enciclopédia de Musica Brasileira. Art Editora e Publifolha. Disponível em: <http://www.mpb.com.br/musicos/geraldo.vandre/>. Acesso em: 23 fev. 2012.

VANDRÉ, Geraldo. Consegui ser mais inútil do que qualquer artista. Geraldo Vandré quebra o silencio em que mergulhou desde 1973. O Globo, 2010.  Entrevista concedida ao jornalista Geneton de Moraes Neto. Disponível em: <www.velhosamigos.com.br/HoraMusica/musica36.html>. Acesso em: 23 fev. 2012.

Como citar este texto

ANDRADE, Maria do Carmo. Geraldo Vandré . In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/geraldo-vandre/.  Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 9 ago. 2020.)