Delano ( Flanklin Delano de França e Silva)
Última atualização: 10/05/2022
Eu gosto mesmo é de pintar[...] Pinto o que estou vendo na minha frente. Se eu morasse num lugar que só tivesse pedra, eu ia pintar pedra. Mas eu convivo com pessoas, vejo as maquiagens, as expressões padronizadas, o ar blasé ante um momento cultural. Por outro lado se eu assisto na televisão uma cena de guerra, eu pinto aquilo. A selvageria também tem sua expressividade. (Delano, Olinda, 2001).
Pintor, desenhista e gravador, Flanklin Delano de França e Silva nasceu no município de Buíque, Pernambuco, em 1945.
Delano, como ficou conhecido, começou a desenhar desde criança, copiando e inventando gibis, com a mão esquerda, até que uma professora, na escola que estudava em Serinhaém, falou que ele estava com a mão “errada”. Aí eu passei o lápis pra outra mão e continuei a fazer a mesma coisa. Eu gostava muito do número quatro, porque quando eu virava de cabeça pra baixo achava parecido com uma cadeira [...].
Em 1961, fez um curso de desenho no Movimento de Cultura Popular (MCP), onde recebeu orientações artísticas de Abelardo da Hora, Zé Cláudio e Wellington Virgolino. Ia a pé do Prado, bairro onde morava, até o Sítio da Trindade, em Casa Amarela, onde ficava o MCP.
[...] Não tinha dinheiro pra gastar com ônibus. Depois das aulas voltava e passava o resto do tempo desenhando, desenhando, o pessoal me chamava pra jogar pelada, mas eu preferia ficar rabiscando, rabiscando. Levei muito a sério isso. [...] comprava dez folhas de papeel ofício, lápis, borracha. Não! Borracha não se usava, porque Abelardo dizia que não se devia usar borracha, consertasse o desenho no próprio traço. [...]
[...] O primeiro material nobre que eu conheci e usei foi o nanquim, ainda no tempo do Abelardo. Era uma peninha com a qual você tinha que ser muito cuidadoso senão ela escarrapachava logo. E comecei a fazer bico de pena. Passei um longo tempo nisso, o que é bom, porque é importante você tomar contato com o traço.[...]. O desenho é fundamental [...]
Abelardo da Hora acredita que Delano tenha compartilhado com ele o interesse pelas figuras femininas, desde a época do MCP.
Delano morou em São Paulo, onde trabalhou como freelance, desenhando, fazendo caricaturas e charges para jornais. Foi ilustrador do Jornal da Tarde. Chegou a vender alguns desenhos em São Paulo, mas por questão de sobrevivência, passou do desenho à pintura.
Entre os anos de 1965 e 1966, participou de diversas mostras coletivas, entre as quais a Exposição de Arte Nordestina, realizada em Natal, Rio Grande do Norte; a Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia; a exposição Seis artistas Nordestinos, no Museu de Arte do Rio Grande do Norte, e de algumas exposições no Ateliê de Arte Sacra do Recife.
Em 1967, passa a fazer parte do Ateliê + 10, em Olinda, ao lado de Anchises Azevedo, Montez Magno, Wellington Virgolino, Maria Carmem, Liêdo Maranhão e João Câmara, com quem criou, em 1974, a Oficina Guaianases de Gravura, um dos movimentos artísticos mais importantes e duradouros de Pernambuco.
As exposições, principalmente as individuais, nunca foram o seu forte:
[...] Eu tenho horror a exposição. Uma exposição requer tempo, prazo. Se alguém quiser fazer a exposição com o que eu tenho no ateliê, eu faço. Mas, trabalhar pra uma exposição, aí eu não sei quando vai ser esta exposição. E nenhuma galeria nem empresário vai querer isso. [...] Eu gosto mesmo é de pintar. Sem me preocupar com mais nada.[...]. Quando me perguntam porque exponho tão pouco, em tom de brincadeira, mas que pode ser verdade, digo que é porque não gosto de elaborar o indefectível curriculum vitae, coisa chata de ler.Cada ano que passa vou exlcuindo o que não acho importante. Um dia, de tão resumido, deverá restar apenas meu monograma. [...]
Segundo sua esposa, Macira Farias que trabalha na prática como sua agente, em 32 anos de casada só foram realizadas quatro exposições individuais do marido.
A primeira delas foi realizada, em 1974, no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco; a segunda, no Mercado da Ribeira, em Olinda, dez anos depois, em 1984; a terceira, intitulada Ateliê Pernambuco, em 1999, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife, ao lado de Maria Carmem e Ferreira, e a última, Delano: pintura e desenho, em 2006, no Museu de Arte Contemporânea, em Olinda (MAC), onde a maioria das obras expostas – cerca de 60, entre pinturas, desenhos, aquarelas e gravuras, elaboradas entre 1982 e 2006 – eram inéditas.
De 5 a 24 de junho de 2010, participou da exposição 11 de Cá, uma mostra-homenagem ao futebol, realizada no Paço Alfândega, no Recife, ao lado de onze artistas pernambucanos, entre os quais Gil Vicente, Félix Farfan, Roberto Ploeg, Maurício Arraes e José Cláudio.
Delano morreu em Olinda, aos 65 anos, no dia 27 de dezembro de 2010, em consequência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), sendo enterrado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista.
Recife, 10 de janeiro de 2011.
Fontes consultadas
BEZERRA, Eugênia. Delano morre vítima de um acidente vascular. Jornal do Commercio, Recife, 28 dez. 2010. Caderno C, p. 6.
CÂMARA, João. Paisagens e figura. Continente Multicultural, Recife, ano 1, n. 3, p. 62-63, mar. 2001.
MONTEATH, Raquel. O adeus do artista plástico Delano. Continente online, Recife. Disponível em: <http://www.revistacontinente.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5770&Itemid=62>. Acesso: 29 dez. 2010.
MINDÊLO, Olívia. Delano. Enciclopédia Nordeste, 2009. Disponível em: <http://fotolog.terra.com.br/filosofiadofutebol:2062>. Acesso em: 29 dez. 2010.
POLO, Marco. As cores da ironia: Delano. Continente Multicultural, Recife, ano 1, n. 3, p. 54-65, mar. 2001.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Delano (Flanklin Delano de França e Silva). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2011. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/delano-franklin/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)