O cuscuz é um prato originalmente africano, mais precisamente da região do Magrebh preparado com grãos de sêmola, trigo ou polvilho, que foi disseminado pelo mundo. (FARIAS, 2014, p.35).
A região do Magrebh compreende a Tunísia, Marrocos e Argélia e existem registros de que o “Kuz-kuz” já era consumido cerca de dois séculos antes de Cristo.
O português conheceu e usou do cuscuz porque aprenderam dos berberes (primeiros povos que habitaram o norte do continente africano) que segundo alguns autores foram os criadores desse prato. O cuscuz era, segundo Cavalcanti (2010), prato popular em Portugal quando o Brasil apareceu na rota da Índia. O prato teria chegado, segundo algumas hipóteses, à Europa com a invasão muçulmana à Península Ibérica (formada pelos territórios de Gibraltar pertencente ao Reino Unido, Portugal, Espanha, Andorra e uma pequena fração do território da França), no século XIII.
A versão original do cuscuz conforme nos foi apresentado ainda permanece, na região africana continuam a utilizar os tipos clássicos de trigo, sorgo, sêmola de arroz, milheto, bem como milho e é, quase sempre, mesclado com carnes, crustáceos e legumes. A base do cuscuz brasileiro é a farinha de milho e está vinculada aos hábitos dos indígenas porque o milho já fazia parte da alimentação diária dos índios antes mesmo da chegada dos colonizadores. O cuscuz passou a ser de milho que é um produto americano quando o Zea mays (milho) foi disseminado no decorrer do século XVI. A cultura do milho foi a que teve maior impacto na economia mundial. Alguns autores relatam que o conhecimento dessa cultura trouxe grandes mudanças na agricultura dos continentes.
Os primeiros europeus a conhecerem e relatarem sobre o milho foram Cristóvão Colombo e seus marujos no período de (1451-1506) os indígenas da América Central o chamavam mahis, daí vem o nome maiz em espanhol.
No Brasil, pela humildade do fabrico, era manutenção de famílias pobres e circulando entre consumidores modestos. Julgava-se comida de negros, trazida pelos escravos porque provinha do trabalho obscuro da gente de cor, distribuído à venda dos tabuleiros, apregoados pelos mestiços, filhos e netos das cuscuzeiras anônimas. (CASCUDO, 2004, p. 190).
Existem no Brasil variações regionais na forma de preparo: no Nordeste é cozido no vapor podendo também ser consumido com leite (a adição do leite de coco não ocorre em nenhuma região africana); o Paulista é feito acrescentando-se outros ingredientes como a sardinha, o ovo cozido, o tomate e outros; o mineiro é recheado com peixe desfiado e, finalmente, o Amazônico leva palmito e camarão em sua receita.
De acordo com Câmara Cascudo, um dos maiores escritores da cultura brasileira, o cuscuz também pode ser preparado com arroz (como no Maranhão), com mandioca, macaxeira (aipim) e inhame, mas, o de milho é consumido numa proporção de 95% no Brasil cotidianamente figurando no café da manhã ou na ceia ao anoitecer.
Curiosidades:
- Os africanos dizem que o nome cuscuz deriva do som da sêmola chiando na cuscuzeira durante o cozimento a vapor.
- Para alguns autores o cuscuz teria chegado antes na Sicília. A localização geográfica dessa ilha italiana, muito próxima da costa africana, principalmente da Tunísia, torna muito viável essa teoria. Os sicilianos se agarram com força e muito prazer à tradição. Todo o ano, na cidade de San Vito Lo Capo, realiza-se a Cous Cous Fest em que são convidados países que tem a cultura do cuscuz. O objetivo é reunir as receitas representativas no mundo. (CHAVES, 2011).
RECEITA BÁSICA DE CUSCUZ NORDESTINO:
Rende 1 cuscuz pequeno
Ingredientes:
1. Em um recipiente, adicione o fubá e umedeça com a água e acrescente o sal e misture.
Dicas:
- Coloque 1 colher (sopa) de vinagre na água do fundo da cuscuzeira, isso vai evitar que a panela escureça.
Fontes consultadas
CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. 3 ed. São Paulo: Global, 2014.
CAVALCANTI, M. L. M. História dos sabores pernambucanos. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2010.
CHAVES, Guta. A história do cuscuz em três receitas. 2011. Disponível em: <goo.gl/mR2GJ>. Acesso em: 18 mar. 2015.
CUZCUZ [Foto neste texto]. Disponível em: <goo.gl/zBxqHB>. Acesso em: 5 maio 2015.
DÓRIA, C.A. A formação da culinária brasileira. São Paulo: Três Estrelas, 2014.
FARIAS, Patrícia de Oliveira Leite et al. O cuscuz na alimentação brasileira. Contextos da Alimentação – Revista de Comportamento, Cultura e Sociedade, v. 1, n. 3, 2014. <goo.gl/XUMF6S>. Acesso em: 18 mar. 2015.
FREIXA, D; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no Mundo. Rio de Janeiro: Senac, 2009.
LIMA, C. Tachos e panelas: historiografia da alimentação brasileira. Recife: Editora Aurora, 1999.
SALDANHA, R. M. Histórias, lendas e curiosidades da gastronomia. Rio de Janeiro: SENAC, 2011.
SOUTO MAIOR, Mário. Comes e bebes do Nordeste. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia Albuquerque. Cuscuz nosso de cada dia. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2015. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/cuzcuz-nosso-de-cada-dia/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2021.)