A descoberta do látex (1763) – seiva produzida pela seringueira, planta originária da Amazônia – e, principalmente, do processo de vulcanização (1839) fez com que a borracha se tornasse uma das matérias-primas mais procuradas do mundo. No Brasil, as cidades de Belém e Manaus se transformaram em centros culturais por terem seu desenvolvimento atrelado à produção e comercialização da borracha (1879-1912). Elas abrigavam inúmeras pessoas de várias regiões do Brasil e do exterior que vinham para trabalhar e investir na coleta do látex.
A construção de um teatro na cidade de Manaus foi uma exigência daquela região que passou a conhecer um progresso econômico e cultural sem precedentes a partir do interesse mundial na seiva das seringueiras da floresta amazônica. Era um teatro de elite para aquela sociedade enriquecida.
Foi nesse período, conhecido como ciclo da borracha, que o deputado A. J. Fernandes Júnior apresentou à Assembleia Provincial do Amazonas o projeto arquitetônico, de autoria do Gabinete Português de Engenharia e Arquitetura de Lisboa, para erguer o Teatro Amazonas. Coordenadas pelo arquiteto italiano Celestial Sacardim, as obras começaram em 1884, tomaram impulso nos anos de 1890-1891, foram interrompidas, retomadas em 1893 e, finalmente, o Teatro foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1896.
Para a realização da obra foram trazidos da Europa não apenas profissionais como arquitetos, construtores, pintores e escultores, mas, também, diversos materiais: mármores de Carrara, lustres de Murano, peças de ferro trabalhado da Inglaterra e telhas da França. O decorador Crispim do Amaral ficou encarregado da decoração interna, exceto o Salão Nobre, que foi entregue ao artista italiano Domenico de Angelis. Nesse Salão, que tem características barrocas, o piso de madeira brasileira e européia exige cuidados para que sua beleza se perpetue. Nele, os barões da borracha se encontravam quando do intervalo das representações teatrais e dele se utilizavam para realizar os seus bailes. A pintura do teto, obra-prima de autoria de Domenico, é denominada A Glorificação das Bellas Artes na Amazônia.
O visitante fica surpreso com o luxo de sua decoração: lustre dourado com cristais, importado de Veneza; cortinas estofadas; poltronas; teto pintado na França, representando a Torre Eiffel vista de baixo, e cortina pintada por Crispim do Amaral, que faz referência ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões. “Destacam-se os ornamentos sobre as colunas do pavimento térreo, com máscaras em homenagem a dramaturgos e compositores clássicos famosos, tais como Ésquilo, Aristófanes, Moliére, Rossini, Mozart, Verdi e outros. Sob o teto abobadado estão afixadas quatro telas pintadas em Paris pela Casa Carpezot - a mais tradicional da época -, em que são retratadas alegorias à música, à dança, à tragédia e uma homenagem ao grande compositor brasileiro Carlos Gomes”.
No início do século XX, a produção da borracha no Brasil entrou em crise. Países como a Malásia, Ceilão (atual Sri Lanka) e África tropical passaram a fabricar látex com maior eficiência, com custos menores e, por isso, assumiram o controle do comércio mundial. A estagnação da economia da região amazônica foi quase imediata e deixou marcas profundas: queda na receita dos Estados, desemprego, êxodo rural e urbano, sobrados e mansões completamente abandonados, e, principalmente, completa falta de expectativas em relação ao futuro para os que insistiram em permanecer na região.
O Teatro Amazonas não foi poupado. Em 1924, fechou. A partir de então, abriu raras vezes ora para pequenos espetáculos ora para eventos cívicos.
Em 1966, foi o primeiro monumento tombado em Manaus pelo Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional (Iphan). Sofreu reformas em 1929, 1962, 1974, 1985, 1990 e 2001, quando recebeu uma restauração nas argamassas das fachadas e pintura. Em 1990, foi reinaugurado.
A partir da primeira edição do Festival Amazonas de Ópera (1997) e outras edições que se seguiram, o Teatro Amazonas retomou o seu apogeu.
Recife, 23 de abril de 2012.
Fontes consultadas
BATTAGGION, Victor. A ópera de Manaus. História Viva, São Paulo, ano 9, n. 103, p. 76-77, 2012.
IPHAN. Arquivo Noronha Santos. Teatro Amazonas. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/ans/inicial.htm. Acesso em: 24 abr. 2012.
TEATRO Amazonas. Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/teatro-amazonas/. Acesso em: 12 abr. 2012.
TEATRO Amazonas. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_Amazonas. Acesso em: 11 abr. 2012.
TEATRO Amazonas. [Fotografia neste texto]. Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/_TrB06CGAm5M/SldqcBm8S5I/AAAAAAAAJoY/fSwIcbZI1jY/s1600-h/Manaus+Teatro+Amazonas+by+Viagens+%26+Imagens.jpg. Acesso em: 24 abr. 2012.
VALLADARES, Clarival do Prado. Restauração e recuperação do Teatro Amazonas. Manaus: Governo do Estado, 1974.
Como citar este texto
BARBOSA, Virginia. Teatro Amazonas (Manaus, AM). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/teatro-amazonas-manaus-am/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)