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Talismãs e Amuletos

Desde a Antiguidade, os homens acreditam que alguns objetos trazem sorte ou têm o poder de protegê-los contra o mau-olhado, inveja, bruxarias, doenças e afastar energias negativas. São conhecidos como talismãs e amuletos.
 

Talismãs e Amuletos

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 31/03/2022

Por: Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica

Desde a Antiguidade, os homens acreditam que alguns objetos trazem sorte ou têm o poder de protegê-los contra o mau-olhado, inveja, bruxarias, doenças e afastar energias negativas. São conhecidos como talismãs e amuletos.

Segundo o dicionário Houaiss (2009), talismã é objeto a que seu portador atribui o poder mágico de realizar os seus desejos e amuleto objeto, fórmula escrita ou figura (medalha, figa etc.) que alguém guarda consigo e a que se atribuem virtudes sobrenaturais de defesa contra desgraças, doenças, feitiços, malefícios etc.

Os talismãs são exclusivamente defensivos, sendo confeccionados para criar uma aura protetora em torno do seu portador. Os amuletos têm a função de absorver as energias negativas contra seu dono. Ambos funcionam como catalisadores de bons e maus fluidos. Recebem e acumulam as energias positivas e dispersam as negativas, imunizando o indivíduo. Tanto um quanto outro tem efeito psicológico. É preciso acreditar, estimulando a força mental.

No Brasil, acredita-se que os amuletos estão ligados aos cultos afro-brasileiros, o que nem sempre é verdade. A figa, por exemplo, muito utilizada pelos escravos, tem origem na Europa, especificamente da região do Mediterrâneo e foi incorporada pela cultura afro-brasileira. 

Trazidos pelos escravos africanos, esses objetos “encantados” eram mais presentes na Bahia e em Pernambuco, estados que recebiam uma grande quantidade de negros, com sua cultura, ritos e magias. 

Talismãs, amuletos e outros objetos aos quais são atribuídos significados sobrenaturais eram muito utilizados, principalmente pelas mulheres africanas e afro-brasileiras.

Entre os talismãs e amuletos mais conhecidos no Brasil destacam-se: pencas de balangandãs; figas; patuás; pés de coelho; cristais e pedras; trevos de quatro folhas; ramos de arruda e alecrim; escapulários; medalhas e santinhos.

A penca de balangandã é um conjunto de enfeites ou berloques, feitos de vários materiais, como ouro, prata, ferro, pedra, madeira, dente, osso, semente. Era comum entre escravas e alforriadas na Bahia. Eram usadas sempre na cintura e algumas vezes próximas ao baixo ventre. Nem todos os objetos da penca tem simbologia africana ou afro-brasileira, havendo alguns símbolos de origem cristã.

Hoje, as pencas de balangandãs continuam a ser fabricadas, algumas em prata, grande parte em alpaca, havendo também as de latão dourado e até em cobre, sendo usadas como adorno. Seus objetos são maiores e trazem normalmente figa, coco d’água, romã, cacho de uvas, frutas tropicais como abacaxi, caju, além de vários outros como chaves, moedas, figuras de animais (cachorro, cavalo, burro, ovelha, galo, papagaio, peixe) e partes do corpo humano (cabeça, braços, pernas e pés). São produzidas em série para atender a demanda dos turistas que a consideram um dos principais símbolos típicos da Bahia. 

A figa é um dos mais antigos amuletos da sorte. Já era conhecida e utilizada pelos etruscos no Império Romano. É representada por uma mão humana fechada, com o polegar colocado entre o indicador e o dedo médio. De origem italiana é chamada de Mano Fico. Mano significa mão e fico é a representação da genitália feminina, por isso a figa era associada antigamente à fertilidade e ao erotismo. Atualmente é usada contra o mau-olhado, a inveja e as energias negativas, atraindo boa sorte para quem a usa. 

Os patuás são saquinhos de plástico ou de tecido contendo ervas para proteção. Recebem cores de acordo com o simbolismo dos orixás, como por exemplo: Amarelo para Oxum, azul para Oxóssi e branco para Oxalá. Alguns são colocados em fios de conta, usados na altura da nuca ou nas costas, local onde também podem ser encontrados figas, moedas e outros objetos.

Existem ainda patuás secretos usados por baixo da roupa, junto aos seios, umbigo, costas e outras partes.

Os pés de coelho são normalmente usados no bolso esquerdo da calça e ajudam seu portador a ter sorte.

Os escapulários são cordões com imagens de santos católicos, que os devotam carregam normalmente pendurados no pescoço ou nas costas. Tanto os escapulários, como as medalhas e os santinhos para darem proteção ao seu dono devem ser consagrados.

Há pelo mundo, diversos outros objetos que são usados como talismãs e amuletos:

• a estrela-de-Davi, com cinco pontas, era sinônimo de sorte e prevenção contra doenças para os gregos. Foi posteriormente apropriada por judeus e árabes, para evocar sabedoria e proteção contra o mau-olhado;
• o olho grego, contra a inveja e o mau-olhado, símbolo de sorte e um poderoso instrumento contra energias negativas, usado como pingentes em pulseira, colares e tatuagens; 
• o âmbar, um material orgânico fossilizado, derivado de uma espécie de pinheiro, muito utilizado na Europa para proteger contra o mau-olhado e outros males;
• bolsas de mandinga, pequenas bolsas onde eram colocadas versos e orações árabes, usadas principalmente em volta do pescoço, para trazer proteção e poder ao seu portador. O povo mandinga habitava a região do império Mali, na África subsaariana, e se especializou em práticas mágicas, para proteger seus governantes contra os inimigos e a si próprios contra doenças, pragas e malefícios. Misturavam crenças tradicionais africanas às mulçumanas. 

 

Recife, 17 de maio de 2013.

 

Fontes consultadas

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. 

LODY, Raul. Pencas de balangandãs da Bahia: um estudo etnográfico das joias-amuletos. Rio de Janeiro: Funarte, Instituto Nacional do Folclore, 1988.

PAIVA, Eduardo França. Pequenos objetos, grandes encantos. Nossa História, Rio de Janeiro, ano 1, n. 10, p. 58-62, ago.2004.

 

Como citar este texto

GASPAR, Lúcia. Talismãs e amuletos. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/talismas-e-amuletos/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)