[...] A floresta rugindo as comas curva.
As asas foscas o gavião recurva,
Espantado a gritar.
O estampido estupendo das queimadas
Se enrola de quebradas em quebradas,
Galopando no ar.
[...] A queimada! A queimada é uma fornalha!
A irara — pula; a cascavel — chocalha...
Raiva, espuma o tapir! [...]
Castro Alves, A queimada (poema)
A queimada é um processo de queima de biomassa que pode ocorrer por razões naturais ou ser provocada pelo homem. Sua evolução passa pelos estágios de ignição, chamas, brasas e extinção. A ignição depende do material a ser queimado (biomassa) e de fatores ambientais como temperatura, umidade relativa do ar e vento.
É uma prática utilizada em todo o mundo, com maior intensidade na África e na Ásia, o que vem acarretando prejuízos à biodiversidade, à dinâmica dos ecossistemas e a diversos tipos de agricultura do planeta, impactando significativamente os processos de mudanças climáticas na terra e do aquecimento global.
Por ser um processo de baixo custo, destinado a limpar uma área, é bastante usado por pequenos agricultores, que são os responsáveis pelo maior número de focos de incêndio. Os agricultores têm como objetivos para a queimada, além de limpar a área de cultivo, renovar a pastagem ou facilitar a colheita da cana-de-açúcar. Apesar de trazer alguns benefícios em curto prazo, as queimadas prejudicam bastante o equilíbrio ambiental. Com o aumento da erosão do solo, interfere na qualidade do ar, além de, em alguns casos, acarretar danos a redes elétricas e outros elementos do patrimônio público.
Grande parte dos incêndios florestais tem motivos econômicos. São provocados para ampliar áreas visando à criação de gado ou culturas agrícolas. Ocorrem também queimadas nas margens das rodovias brasileiras, na sua maioria, causadas por fuligem incandescente proveniente dos escapamentos de caminhões e ônibus com o motor desregulado. Existem também em menor escala, incêndios causados por pessoas descuidadas que jogam pontas de cigarro nas margens das estradas, ateiam fogo a lixões e ainda aqueles causados por balões.
Deve-se ressaltar que existe diferença entre a queimada e o incêndio. Este último pode ser definido como uma queimada sem controle. Há também o processo conhecido como queima controlada, permitida pelo Decreto 2.661, de 8 de julho de 1998 (artigo 2º), destinado a práticas agropastoris e florestais, desde que sejam observadas as normas e condições estabelecidas pelo Decreto. Consiste no uso do fogo em vegetação nativa ou exótica, sob determinadas condições ambientais que permitam que o fogo mantenha-se confinado em uma determinada área e ao mesmo tempo produza uma intensidade de calor e velocidade de espalhamento desejável aos objetivos do manejo.
No Brasil, os focos de queimadas se concentram mais na região Centro-Oeste e em algumas partes das regiões Norte e Nordeste. O monitoramento das queimadas no país é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) por meio de sensoriamento remoto por satélites.
Dados do Inpe revelam que e o Brasil é o líder em quantidade de focos de incêndio entre os países da América Latina. Durante o período de junho a novembro, ocorrem queimadas praticamente em todas as regiões brasileiras, sendo os meses de agosto e setembro os mais críticos.
No Nordeste, a ocorrência é maior no período de outubro a janeiro, no Centro-Oeste e na região Amazônica, nos meses de julho a outubro.
Mato Grosso e Pará são os estados onde mais ocorrem queimadas, havendo também muitas ocorrências em Rondônia e Mato Grosso do Sul.
No Ceará, o final de ano é o período com maior número de queimadas, em áreas de florestas nativas, devido ao processo de desertificação, à vegetação mais seca e a intensidade dos ventos.
As regiões mais áridas, com elevada temperatura e baixa umidade relativa do ar, são as mais susceptíveis à propagação dos focos de incêndio.
Algumas medidas podem diminuir muito as estatísticas brasileiras de ocorrência de incêndios: fazer queimadas só com a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e de maneira controlada; apagar o fogo feito em acampamentos utilizando água, para evitar que a brasa seja levada pelo vento para as matas; não jogar pontas de cigarros acesas próximas de vegetação; não utilizar qualquer tipo de fogo em reservar ecológicas ou parques florestais.
A seguir, uma tabela com uma série histórica sobre a ocorrência de queimadas no Brasil, por estado da federação, no período de 1999 a 2007.
Números de queimadas identificadas entre 2000 e 2007:
Mato Grosso - 33.635
Pará - 27.468
Maranhão - 17.314
Roraima - 11.197
Tocantins - 8.129
Bahia - 7.841
Piauí - 5.789
Minas Gerais - 5.059
Ceará - 3.911
Mato Grosso do Sul - 3.854
São Paulo - 3.730
Goiás - 3.180
Amazonas - 2.587
Paraná - 1.502
Acre - 1.358
Pernambuco - 975
Paraíba - 575
Roraima - 463
Alagoas - 217
Rio de Janeiro - 210
Espírito Santo - 199
Amapá - 160
Santa Catarina - 143
Rio Grande do Norte - 126
Rio Grande do Sul - 110
Sergipe - 65
Distrito Federal - 57
Local não identificado - 34
Números de queimadas entre 1999 e 2007:
1999 134.608
2000 99.441
2001 145.604
2002 359.488
2003 584.939
2004 1.192.363
2005 928.222
2006 520.012
2007 880.085
Recife, 06 de março de 2012.
Fontes consultadas
FREITAS, Edmar Viana de. Queimadas no Brasil: causa real nas rodovias. Itabira, 2010. Disponível em: http://queimadas.cptec.inpe.br/~rqueimadas/material3os/queimadas_ed_viana.pdf. Acesso em: 16 maio 2012.
FREITAS, Saulo R. et al. Emissões de queimadas em ecossistemas da América do Sul. Estudos Avançados, São Paulo, ano 5, v. 19, n. 53, p. 167-185, jan./abr. 2005.
IBAMA. O que é ICQ? Disponível em: http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas/o-que-e-icq. Acesso em: 27 fev. 2012.
QUEIMADAS no Brasil 2011, regiões mais afetadas. [Foto utilizada neste texto]. Disponível em: http://www.temtudu.com/queimadas-no-brasil-2011-regioes-mais-afetadas.html. Acesso em: 27 fev. 2012.
ROSSETTO, Luciana. Inpe aponta novas áreas de queimadas no Brasil. G1, São Paulo, 14 ago. 2010. Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/08/inpe-aponta-novas-areas-de-queimadas-no-brasil.html. Acesso em: 27 fev. 2012.
SANTOS, Antoir Mendes. O desmatamento no semiárido nordestino. Disponível em: http://redacaocajarana.blogspot.com/2010/05/queimadas-no-nordeste-crimes-sem.html. Acesso em: 24 fev. 2012.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Queimadas no Brasil. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/queimadas-no-brasil/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)