Os papangus do Carnaval de Bezerros, cidade do agreste de Pernambuco (107 quilômetros do Recife) são uma tradição centenária.
Segundo o professor Ronaldo J. Souto Maior, fundador do Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore dos Bezerros, a origem dos Papangus de Bezerros data de 1881: “o papa-angu nasceu de uma brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saiam mascarados, mal vestidos, para visitar amigos nas festas de entrudo – antigo carnaval do século dezenove –, e comiam angu, comida típica do Nordeste (agreste) pernambucano. Por isso, as crianças passaram a chamar os mascarados de papa-angu”*.
Há versões populares sobre a origem desses personagens no carnaval de Bezerros. Uma, vem de uma história muito antiga: dois irmãos que comiam muito angu, resolveram cortar as pernas das calças e cobrir o rosto com capuz para não serem reconhecidos, mas o disfarce não funcionou. Foram descobertos pela gula. Outra, é que, no século 19, os mascarados ganharam esse nome depois que uma senhora resolveu preparar angu de xerém para alimentá-los.
Antigamente o papangu tinha a máscara confeccionada com coité (cuia do fruto), cuja pintura era feita com azeitona preta, açafrão e folha de fava. Possuía chocalhos ao redor da roupa, que era enfeitada com palha de banana e na mão levava um maracá de coco seco com pedra dentro.
Atualmente, a matéria–prima usada nas máscaras é o papel colé e maché. Os papangus vestem túnicas compridas, dos pés à cabeça, colocam as máscaras para ficarem totalmente cobertos, pois a meta é se esconder, ganhando a farra sem ser identificados.
Antes de cair na folia, costumam comer angu, que é normalmente fornecido pelos moradores locais.
Quando vai chegando a época próxima do carnaval, os foliões procuram confeccionar suas fantasias em segredo, para não correrem o risco de ser desmascarados antes da festa.
Em Bezerros, a cultura do papangu é vivenciada durante o ano inteiro, através das oficinas de máscaras, da culinária desenvolvida com variados pratos feitos com angu, além das oficinas de dança e música carnavalesca.
No domingo de carnaval, a partir das 9h da manhã, a BR-232 fica lotada de papangus. Os blocos de panpangu são acompanhados de orquestra de frevo e carro de som, desfilando pelas principais ruas da cidade até a Praça da Bandeira, quartel-general do carnaval, onde outros papangus incorporam-se à festa.
A tradição dos papangus é comum a quase todo o interior de Pernambuco, mas se mantém mais forte no município de Bezerros.
Recife, 2 de setembro de 2003.
* O professor Ronaldo José Souto Maior é pesquisador da história do município pernambucano de Bezerros. A sua fonte para as informações foi a Ata da Câmara de Vereadores de Bezerros, além de 50 anos de pesquisa. Os dados aqui registrados foram enviados pelo professor por e-mail, para a coordenação do projeto Pesquisa Escolar.
Fontes consultadas
BEZERROS tem a cara dos papangus. Suplemento Cultural do Diário Oficial de Pernambuco, Recife, a. 15, p. 26, fev. 2001.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Papangus de Bezerros (PE). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2003. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/papangus-de-bezerros-pe/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)