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Nelson Rodrigues

Data Nasc.:
23/08/1912

Data de falecimento.:
21/12/1980

Ocupação:
Dramaturgo, Romancista, Jornalista

 

 

Nelson Rodrigues

Artigo disponível em: ENG ESP

Última atualização: 15/09/2022

Por: Maria do Carmo Gomes de Andrade - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Biblioteconomia

Nelson Falcão Rodrigues, dramaturgo, romancista e jornalista brasileiro, nasceu no Recife, PE, em 23 de agosto de 1912. Foi o quinto dos quatorze filhos do casal Maria Esther Falcão e do jornalista Mário Rodrigues. Além de Nelson, nasceram no Recife, Milton, Roberto, Mário Filho, Stella e Joffre. No Rio de Janeiro nasceram: Maria Clara, Augustinho, Irene, Paulo, Helena, Dorinha, Elisinha e Dulcinha.

Quando Nelson estava com cinco anos de idade, seu pai, deputado e jornalista do Jornal do Recife, por problemas políticos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar como redator parlamentar do jornal Correio da Manhã. D. Maria Esther e seus filhos foram mais tarde. Chegando ao Rio de Janeiro ficaram hospedados, por algum tempo, na casa de Olegário Mariano.

Aos sete anos, em 1919, Nelson foi matriculado na escola pública Prudente de Morais. Em 1926, já morando no bairro da Tijuca, foi expulso do Colégio Batista por rebeldia. Estava na segunda série do ginásio (hoje ensino fundamental II) e vivia contestando seus professores, principalmente os de Português e História. Matriculou-se depois no Curso Normal de Preparatórios.

Por envolvimento em questões políticas, o pai de Nelson foi preso e o jornal que ele dirigia silenciado pelo governo durante oito meses. Ao sair da prisão, Mário resolveu fundar seu próprio jornal: A Manhã. Foi nesse jornal que Nelson Rodrigues, com apenas treze anos de idade, iniciou sua carreira jornalística como repórter de polícia e esportivo. Além dele, trabalhavam no jornal seus irmãos mais velhos, Milton, Roberto e Mário Filho. A essa altura, Nelson, mesmo contra a vontade de seu pai, já havia abandonado os estudos, na terceira série ginasial do Curso de Preparatórios.

Com o tempo, conquistou a confiança da direção do jornal e o direito de escrever uma coluna assinada na principal página, onde publicava seus artigos. O primeiro deles, A tragédia de pedra..., saiu na edição do dia 7 de fevereiro de 1928, publicando depois Gritos bárbaros e outros. Tudo ia muito bem, quando ele resolveu publicar um artigo atacando Rui Barbosa. O pai, antevendo possíveis problemas, fê-lo retornar à seção de polícia, onde trabalhou por alguns meses.

Voltou à página principal, mas, por problemas administrativos e financeiros, o sócio de seu pai, que havia saldado as dívidas do jornal, tornou-se sócio majoritário. Ofereceu, entretanto, o cargo de diretor do jornal a Mário Rodrigues, que aceitou, porém logo desistiu, pois não admitiu a intervenção do novo dono em seus artigos e deixou o jornal, juntamente com seus filhos.

Em 21 de novembro de 1928, Mário Rodrigues lançou, com grande sucesso de vendas, seu novo jornal: A Crítica. Porém o tenente coronel Carlos Reis, mandou a polícia prender todos os Rodrigues que encontrasse, sob a alegação de que um deles era mandante do assassinato de Carlos Pinto, repórter de A Democracia. Nelson escapou da prisão porque estava no Recife, tentando se curar de uma depressão. Quando voltou ao Rio de Janeiro, foi imediatamente para a redação do A Crítica, onde haveria de presenciar uma tragédia.

Em decorrência de matéria publicada no dia 26 de dezembro de 1929, uma senhora indignada, invadiu a redação do jornal procurando Mário Rodrigues. Não o encontrou, mas sim o seu filho Roberto e simplesmente dá-lhe um tiro mortal. Essa tragédia marcaria para sempre a vida de Nelson Rodrigues, que mais tarde, publicou uma série de crônicas falando sobre o impacto desse episódio em sua vida. Pouco mais de dois meses depois, ainda em decorrência da morte do filho, Mário Rodrigues sofre uma trombose cerebral e morre aos 44 anos de idade.

Os Rodrigues continuaram com o jornal, mas chegou um momento em que, ainda por defender determinadas posições políticas, as redações e oficinas de diversos jornais foram invadidas e empasteladas. Entre todos eles, só o jornal da família Rodrigues não voltaria a circular. Os irmãos começaram a procurar emprego, passando por uma fase muito difícil e de grande aperto financeiro.

Depois de bater em várias portas, finalmente em 1931, Roberto Marinho convida Mário Filho para assumir a página de esportes de O Globo. Mário aceita o emprego na condição de poder levar seus irmãos Nelson e Joffre. O dinheiro que Nelson recebia em O Globo entregava todo para sua mãe, que lhe devolvia uma quantia suficiente para comprar seus cigarros. Para arranjar mais algum dinheiro, trabalhou como redator da firma Ponce & Irmão, distribuidora de filmes, no Rio de Janeiro.

Na tentativa de combater uma insistente febre, Nelson, aos 21 anos de idade, já havia arrancado todos os dentes e usava dentadura. Só mais tarde foi diagnosticado que a tal febre era tuberculose. Ele vai para Campos do Jordão, SP, para tratamento, onde permaneceu de abril de 1934 a junho de 1935. Seria a primeira de várias outras internações durante sua vida. No ano seguinte, a tuberculose atacou também seu irmão Joffre, que foi levado para tratamento em sanatório. Nelson ficou ao lado do irmão até ele morrer em dezembro de 1936.

Apesar de enfrentar dificuldades de toda ordem, casa-se no civil, às escondidas, em 29 de abril de 1940, com Elza Bretanha, que era secretária no mesmo jornal que ele trabalhava, por quem se apaixonou. Em 17 de maio do mesmo ano, finalmente com o consentimento da mãe de Elza, casaram-se no religioso. O casal teve dois filhos. O primeiro se chamou Joffre e o segundo Nelsinho, que seria um dos terroristas mais procurados pelas Forças Armadas, conhecido pelo codinome de “Prancha”.

Em maio de 1941, Nelson Rodrigues escreveu sua primeira peça: A mulher sem pecado, que foi levada à cena sob a direção de Rodolfo Mayer, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, mas não teve repercussão. Foi com Vestido de Noiva, a segunda peça, que ele revolucionou a dramaturgia brasileira, sob a direção de Zibgniew Ziembinski, foi representada em 1943. Ganhou fama como autor e, desde então, passou a ser considerado pela crítica o fundador do moderno teatro brasileiro.

Os críticos afirmam que Nelson consegue expor em suas peças a natureza humana, com domínio do trágico e do grotesco, transmitindo uma visão de mundo quase sempre pessimista e desesperada. Suas peças são consideradas o que se fez de melhor no teatro brasileiro durante quase quarenta anos. Escreveu entre outras:

- Álbum de família (1946)
- Anjo Negro (1947)
- Senhora dos afogados (1947)
- Dorotéia (1949)
- Valsa n. 6 (1951)
- A falecida (1953)
- Perdoa-me por me traíres (1957)
- Viúva, porém honesta (1957)
- Os sete gatinhos (1958)
- Boca de ouro (1959)
- Beijo no asfalto (1960)
- Oto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária (1962)
- Toda nudez será castigada (1965)
- Anti - Nelson Rodrigues (1973)
- A serpente (1979).

Das peças que chegaram ao cinema, destacam-se:

- Boca de ouro(Nelson Pereira dos Santos, 1962 e por Valter Avancine, 1990)
- Asfalto selvagem (J. B. Tanko, 1964)
- A falecida (Leon Hirzsman, 1965)
- A dama do lotação (Neville D’Almeida, 1978)
- Toda nudez será castigada (Arnaldo Jabor, 1973)
- Bonitinha, mas ordinária (Braz Chediak, 1980)
- Engraçadinha (Haroldo Marinho Barbosa, 1981)
- Perdoa-me por me traíres (Braz Chediak, 1983)

Entre suas obras adaptadas para a televisão, destaca-se Engraçadinha, (TV Globo, 1995). Além de obras para teatro, escreveu também cerca de nove romances, desde Meu destino é pecar, (1944) até O casamento (1966), a maioria sob o pseudônimo de Suzana Flag. Houve uma época em que publicou, em diversos jornais, crônicas que mostravam sua vocação para o exagero. Essas crônicas ficaram conhecidas pelo uso freqüente de expressões que depois se tornaram populares, como por exemplo: “óbvio ululante”, “idiota da objetividade”, “padre de passeata”, “freira de minissaia” e outras frases de efeito, que mais tarde foram selecionadas por Ruy Castro e publicadas sob o título: Flor de obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues (São Paulo: Companhia das Letras, 1997).

Manteve ainda, no jornal Ultima Hora, uma coluna diária, A vida como ela é..., onde publicava breves contos de temática rotineira, trabalhos mais elaborados, às vezes, bem acabadas peças literárias.

Separado da sua primeira mulher, Elza, o casal voltou a viver junto em 1977.

Em 1979, ele escreveu sua grande e última peça: A serpente. No dia 23 de agosto, dia do aniversário de Nelson Rodrigues, seu filho Nelsinho é autorizado a deixar a prisão e assistir ao nascimento da filha Cristina e em 16 de outubro recebeu liberdade condicional, mas não pôde ver seu pai que estava inconsciente no hospital.

Nelson Rodrigues morreu no dia 21 de dezembro de 1980. Dois meses depois, Elza cumpriu o seu pedido de, ainda em vida, gravar o seu nome ao lado do dele na lápide, sob a inscrição: Unidos para além da vida e da morte. E só Nelson Rodrigues teve uma vida muito conturbada, intensa, marcada pela polêmica, pela censura, por casamentos e amantes, pela tragédia, o assassinato do irmão Roberto, a morte prematura do pai, a filha Daniela, cega e com paralisia cerebral, o filho Nelsinho, preso e torturado pelo regime militar, a morte do irmão Paulinho, soterrado com a esposa e filhos, em decorrência de desabamento do prédio onde moravam em Laranjeiras, em fevereiro de 1967 e o suicídio, em dezembro do mesmo ano, de sua cunhada, a viúva de seu irmão Mário Filho. A crítica afirma que Nelson foi um personagem dele mesmo.

 

 

 

Recife, 27 de abril de 2007.
 

Fontes consultadas

CASTRO, Ruy. Anjo Pornográfico. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1995.

GRANDE Enciclopédia Barsa. São Paulo: Barsa Planeta Internacional, 2005.

UMA JUSTA homenagem: Nelson Rodrigues agora dá nome ao teatro BNH. É o reconhecimento do gênio da dramaturgia do País. Interior, Rio de Janeiro, ano 10, n. 54, p. 8-9, jan./fev. 1984.

NELSON RODRIGUES [Foto neste texto]. Disponível em: <http://bootlead.blogspot.com/2007/08/nelson-rodrigues-decifrando-o-brasil.html>. Acesso em: 2 ago. 2011.

RELEITURAS: resumo biográfico e bibliográfico. Disponível em: <http://www.releituras.com/nelsonr_bio.asp>.  Acesso em: 7 abr. 2007.

Como citar este texto

ANDRADE, Maria do Carmo. Nelson Rodrigues. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2007. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/nelson-rodrigues/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)