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Maxixe: o tango brasileiro

A dança surgiu no Rio de Janeiro e teve influência do tango que na mesma época despontava na Argentina e Uruguai. Por conta disso, apelidaram o maxixe de “tango brasileiro”.
 

Maxixe: o tango brasileiro

Última atualização: 02/08/2022

Por: Cláudia Verardi - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Doutora em Biblioteconomia e Documentação
Lara Nogueira - Monitora da Fundação Joaquim Nabuco

O maxixe é uma dança de salão brasileira que esteve na moda entre o fim do século XIX e o início do século XX e, com o passar do tempo, além de alguns passos terem sido absorvidos pelo samba, o gênero se mantém até hoje presente na cultura do país.

A dança surgiu no Rio de Janeiro e teve influência do tango que na mesma época despontava na Argentina e Uruguai. Por conta disso, apelidaram o maxixe de “tango brasileiro”.

O maxixe surgiu primeiro como dança porque na verdade sua execução coreográfica estava a princípio condicionada à polca, à habanera, ao lundu e posteriormente ao tango brasileiro (conhecido como tanguinho), ou seja, a dança foi formada assimilando elementos rítmicos e melódicos de outras danças. Algum tempo depois, por volta de 1902 a 1903, surgiram as primeiras partituras a apresentarem o nome maxixe como gênero musical.

Alguns estudiosos levantam a hipótese do maxixe ter tido sua origem nos ritmos africanos. Lira ( p.253) nos apresenta a seguinte definição: “estilização brasileira com aproveitamento do batuque dos negros, o maxixe é pura dança tropical”. Por ser uma dança de caráter tanto lúdico quanto sensual, foi alvo de preconceitos por boa parte da sociedade que a julgava “indecente”, o que motivou o apelido "tango brasileiro" para que as composições fossem aceitas.

 

O maxixe tem sua origem no batuque estilizado. É dançado em ritmo sincopado e lembra a polca e a habanera. A influência do temperamento ardente do africano nesta dança empresta-lhe um quê de sensualismo, motivo pelo qual foi excluída do repertório das danças sociais de salão. E o samba, de estilo coreográfico menos excitante, passou a ocupar o seu lugar. (FELICITAS, 1968, p. 212).

O preconceito com a dança fez com que o maxixe se popularizasse apenas através dos clubes carnavalescos e do teatro de revista e fosse  divulgada pelos grupos de choro, bandas de música e pianistas populares. Sendo a primeira dança urbana do Brasil, segundo Maxixe (2013, p.1), era dançado no Rio de Janeiro, por volta de 1875, em locais que não atendiam a moral e aos bons costumes da época, tais como: forrós, gafieiras da cidade nova e cabarés da Lapa. Curiosamente os homens de classes mais abastadas frequentavam esses bailes buscando a sensualidade da dança. 

 

Por enlaçar pelas pernas e braços e apoiarem as testas dos pares, a maneira de dançar lhe valeu o título de dança escandalosa e excomungada. Foi perseguida pela polícia, igreja, chefes de família e educadores. Para que pudessem ser tocadas em casa de família, as partituras de maxixe eram chamadas com o impróprio nome de "Tango Brasileiro", por exemplo: “Odeon” e “Brejeiro” de Ernesto Nazareth e ”O corta jaca” de Chiquinha Gonzaga. (MAXIXE, 2013, p. 1).

Chiquinha Gonzaga, a primeira maestrina brasileira, compreendendo o valor e a cadencia do ritmo, compôs alguns sucessos desse gênero musical, a exemplo de “Lição de Maxixe”, porém, a letra de Corta Jaca é a que mais revela a magia do ritmo e a disfarçada cobiça da sensualidade por trás dos movimentos:

Neste mundo de misérias
Quem impera
É quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca
Nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição

Ai, ai, como é bom dançar, ai!
Corta-jaca assim, assim, assim
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho assim, assim!

Esta dança é buliçosa
Tão dengosa
Que todos querem dançar
Não há ricas baronesas
Nem marquesas
Que não saibam requebrar, requebrar

Este passo tem feitiço
Tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo
Nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó

Quem me vir assim alegre
No Flamengo
Por certo se há de render
Não resiste com certeza
Com certeza
Este jeito de mexer

Um flamengo tão gostoso
Tão ruidoso
Vale bem meia-pataca
Dizem todos que na ponta
Está na ponta
Nossa dança corta-jaca, corta-jaca!

No início do século XX, assim como o tango, que surgiu na mesma época, o maxixe foi também exportado para a Europa e Estados Unidos. O dançarino brasileiro Antônio Lopes de Amorim Diniz: o Duque, levou requinte e notariedade para a dança apresentando-a à França e Inglaterra entre 1914 e 1922.

De acordo com Botelho (2014, p. 6) em 26 de outubro de 1914, Nair de Teffé, segunda esposa do Presidente da República, o Marechal Hermes da Fonseca, que governou o Brasil entre 1910 e 1914, aproveitando as solenidades de despedida da gestão do marido, abriu espaço, em um jantar oficial, para a música brasileira. Acompanhada de seu amigo Catulo da Paixão Cearense, tocaram o maxixe "Corta-Jaca", escrito por Chiquinha Gonzaga e Machado Careca em 1895. Esse episódio bastante polêmico ficou conhecido como “A Noite do Corta-Jaca”.

O maxixe influenciou Donga e Sinhô, os primeiros compositores do samba, que o substituiria mais tarde como principal gênero musical brasileiro.

Na atualidade, o maxixe ainda existe no samba preservando muitas de suas estruturas rítmicas e está presente em grande variedade de passos e figurações como o parafuso, saca-rolha, balão, carrapeta, corta-capim, etc. Outra dança que recebeu influência do maxixe foi a lambada,  um gênero musical que teve suas origens na Região Norte do Brasil, mais especificamente no estado do Pará e foi sucesso nos anos 1980.

Em 1995, segundo Mattos e Ramos (2016, p.9), Michel Teló liderava o Grupo Tradição (MS), que popularizou a Vanera a nível nacional. Nesse contexto surgiu o Gaúcho da Fronteira lançando o seu Vanerão Sambado e o famoso Forrónerão que teve projeção nacional e, a nível estadual, através de um projeto da Zero Hora dominical, surgiu a nova onda musical chamada “Tchê Music”.

O Maxixe ressurgiu com força total nas periferias de Porto Alegre, nos bailes tradicionais gaúchos onde predominava o Vanerão, porém, a parte negra da população só começou a frequentar os Centros de Tradições Gaúchas com a inclusão de elementos do axé e do pagode no som da Tchê Music. Começaram então a rebolar e adaptar o seu ritmo ao som da sanfona. As pessoas achavam engraçado a dança e a imitavam, surgindo assim o modo gaúcho de dançar o maxixe.  Apesar de contrariar os representantes da tradição campeira e dos valores da família gaúcha, que não concordavam com a forma sensual da dança e chegaram a proibi-la nos Centros de Tradição Gaúcha, o maxixe ficou cada vez mais conhecido nesta capital. E assim durante o século XX, mais especificamente no ano de 1999, a dança “Maxixe Gaúcho” ganhou fama e se apresentava de uma forma sem precedentes em todos os bailes e fandangos e demais lugares por onde esses grupos musicais se apresentavam no Rio Grande do Sul.

Atualmente existem diversos grupos organizados, como o Bonde dos Maxixeiros, DN -Danadas Maxixeiras, Tradição Maxixeira, SWAT - Elite Maxixeira e os pioneiros da Patrulha Maxixeira (o primeiro a se organizar e hoje um dos maiores e mais ativos). (WIKIDANÇA, 2013, p. 2).

No Rio Grande do Sul também acontecem concursos de “maxixeiros” a exemplo do “1º Concurso de Maxixe da Região” no dia 6 de abril de 2014 na cidade de Montenegro.

No ano de 2015 ocorreu o Primeiro Congresso de Maxixe Gaúcho, organizado por líderes de grupos de dança, com a ideia de inovar e integrar as pessoas nessa modalidade.  A dança do Maxixe (fortemente presente nos bailes gaúchos) conta atualmente com mais de 30 grupos atuantes no estado.

 

CURIOSIDADES:

1- O maxixe era basicamente dançado com os corpos colados e os pés praticamente fixos no chão e com acentuados requebros de cintura.

2- No início, o maxixe era apenas uma forma de dançar certas músicas europeias que foram popularizadas no Brasil, mas depois assumiu personalidade própria e foi espalhada pelo mundo por marinheiros, viajantes e dançarinos.

3- Existe muita controvérsia em torno da origem do nome Maxixe. Segundo a versão de Villa-Lobos, esse nome vem de um indivíduo apelidado Maxixe que, durante um carnaval, dançou o lundu de uma maneira diferente e foi imitado. Outros autores como Jota Efegê não corroboram esta versão. Existe outra versão que fala que o nome maxixe é oriundo de uma planta rasteira e a palavra passou a ser associada a tudo o que fosse pouco refinado. Existe ainda a hipótese de o ritmo ter sido trazido por escravos de Moçambique de uma cidade chamada Maxixe.

 

 

 

Recife, 25 de março de 2020. 

Fontes consultadas

BOTELHO, Paulo César. O maxixe (II). 2014. Disponível em: <http://pcbotelho.blogspot.com.br/2014_09_01_archive.html>. Acesso em: 25 jan. 2017.

EFEGÊ, Jota.   Maxixe: a dança excomungada.  Rio de Janeiro:  Conquista, 1974. (Coleção Temas Brasileiros, v. 16).

FELICITAS. Danças do Brasil. Rio de Janeiro: Tecnoprint Gráfica S. A., 1968. (Coleção Brasileira de Ouro).

LIRA, Mariza. Brasil Sonoro: gêneros e compositores populares. Rio de Janeiro:  Ed. S. A. A Noite, s.d.

MATTOS, Girua de;   RAMOS, Henrique.  A provável história do maxixe gaúcho. Canoas, 2016. Disponível  em: < http://www.slideshare.net/GiruadeMattos/a-provvel-histria-do-maxixe-gacho>. Acesso em: 25 jan. 2017.

MAXIXE. 2013. Disponível em:  <http://www.wikidanca.net/wiki/index.php/Maxixe>. Acesso em: 13 jan. 2017.

MAXIXE BRASILEIRO. [Foto neste texto]. Disponível em: <goo.gl/CK85rO>. Acesso em: 25 jan. 2017.

BORGES, Caroline de Miranda. Influências do mundo na música brasileira. Revista Digital, Buenos Aires, a. 14, n.142, mar. 2010. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd142/influencias-do-mundo-na-musica-brasileira.htm>. Acesso em: 13 jan. 2017.

 

Como citar este texto

VERARDI, Cláudia Albuquerque; NOGUEIRA, Lara. Maxixe: o tango brasileiro. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2020. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/maxixe-o-tango-brasileiro/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6.ago.2020.)