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Madeira do Rosarinho (Bloco Carnavalesco)

A sede do bloco, no bairro do Rosarinho (Rua Salvador de Sá, 64), é um local de entretenimento para a comunidade e para os recifenses em geral.

Madeira do Rosarinho (Bloco Carnavalesco)

Artigo disponível em: ENG

Última atualização: 28/06/2022

Por: Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica

Um dos blocos carnavalesco mistos mais tradicionais do Recife, o Madeira do Rosarinho,  foi criado por Joaquim de França e um grupo de dissidentes, no dia 7 de setembro de 1926, por causa de divergências com a diretoria do antigo bloco Inocentes do Rosarinho. 

Inicialmente, o grupo pensou em chamar o de gogoia, por estar reunido embaixo de uma árvore dessa espécie, mas houve um consenso de que o nome não “soava bem”. Cogitou-se então chamá-lo Madeira que Cupim não Rói, por ser a gogoia uma madeira resistente. Por fim, optou-se por Madeira do Rosarinho.

Seu símbolo é um escudo, semelhante aos de clubes de futebol, nas cores  vermelha, branca e verde, com uma figura mascarada no centro. 

A sede do bloco, no bairro do Rosarinho (Rua Salvador de Sá, 64), é um local de entretenimento para a comunidade e para os recifenses em geral. Com capacidade para cerca de mil e quinhentas pessoas, o bloco realiza festas e bailes nos seus salões durante o ano todo, além dos dias de Momo.

Na quarta-feira de cinzas, o Madeira do Rosarinho sai às ruas com o Bacalhau do Madeira, bloco que arrasta uma multidão de foliões pela comunidade e seu entorno.

São destaques no seu repertório musical as marchas Me apaixonei por você, Pára-quedista (grafia da época) e, a mais famosa delas, Madeira que cupim não rói, composta por Capiba, em 1963, como uma forma de protesto contra o resultado do concurso de blocos daquele ano, que concedeu o primeiro lugar ao Batutas de São José, como diz, principalmente, a segunda estrofe da música. 

 

Madeira que Cupim não Rói
Capiba

Madeira do Rosarinho
Vem à cidade sua fama mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão original

Não vem pra fazer barulho
Vem pra dizer e com satisfação
Queiram ou não queiram os juízes
O nosso bloco é de fato campeão

E se aqui estamos, cantando essa canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeiras de lei que cupim não rói


A rivalidade entre os blocos sempre foi uma constante e era expressa principalmente por meio de músicas. Em 1954, época de acirrada disputa entre os blocos Inocentes do Rosarinho e Madeira do Rosarinho, o presidente do Inocentes solicitou ao compositor Chico Baterista (Francisco da Silva Oliveira) uma canção para provocar o bloco rival, surgindo assim a marcha Mágoa:

 

Na vida há três dias
De glória e prazer
Tristeza e desilusão
Desiludido é assim teu viver
Com mágoa no coração
E o “Inocentes” tem a primazia
É o espelho de glória a brilhar
Na liderança gozar simpatia
Exemplo no Carnaval

 

Não tenhas mágoa

É carnaval
Se somos ricos de glória e prazer
É o nosso ideal
Sei que a inveja, quer ocultar 
Bem, reconheces que estais bem distante
Do Carnaval

Posteriormente, após ser preterido na ordem da apresentação do desfile, diante do palanque na Federação Carnavalesca Pernambucana, o Inocentes colocou nas ruas a marcha Xô! Xô! Pára-quedista (grafia da época), também com letra de Chico Baterista: 

 

Deixa de ser presunçoso
Teu lugar é lá atrás
Pois nesta fila só brinca
Quem é bacharel
E tem diploma no Carnaval
Toma juízo vai pra trás, estás errado
Ocupa a tua posição
És um errado, enfim um vigarista
Xô! Xô! pára-quedista

Olha bem de perto
E presta atenção
Pois não está certo
Esta presunção
Deixa de prosa...
Sai daí, seu atrevido.
Não insista! 
Xô! Xô! Pára-qudista 

No ano seguinte, devido a uma crise interna, o Inocentes do Rosarinho não desfilou no carnaval e o seu rival Madeira do Rosarinho providenciou uma resposta, por meio da marcha Quá! Quá! Quá! Quá! gravada com o título Pára-quedista, com letra do cantor Roberto Bozan, introdução e arranjo  musical de Luís Amaral:

Quem me chamou pára-quedista
Não pense que eu vou chorar
A vida só é boa assim
Compõe tu de lá e eu de cá!

É muito jovem
Pra comparar
Com esse Madeira Tradicional
Agora, chegou a minha vez de gargalhar 
Quá! Quá! Quá! Quá!

Essa música Pára-quedista é atualmente uma das mais executadas no carnaval recifense e inspirou a criação do bloco Pára-quedista Real, criado em 1999, pela comunidade do Poço da Panela. Em 2012, o ensaio do Bloco foi realizado na sede do Madeira do Rosarinho, uma das suas inspirações. 

O Madeira participa do Concurso de Agremiações Carnavalescas do Recife e é detentor de um hexacampeonato e mais de vinte títulos, entre os quais o de Campeão da Primeira Categoria, em 2005, e do Grupo I, em 2007. Seu desfile acontece no domingo de Carnaval.

Conta com um coral profissional, uma orquestra com vinte músicos e cerca de 190 componentes distribuídos em onze alas, além de diversas fantasias nas cores tradicionais do Bloco. Seus ensaios acontecem sempre nas segundas-feiras.

No final de 2008, a sede do Bloco passou por uma grande reforma para substituição do piso do salão principal, revestimento em cerâmica nas paredes e pilastras, pintura geral, construção de banheiros e rampas para deficientes físicos, melhoramentos na portaria social, sinalização, ambientação e criação do seu Memorial, com recursos da Prefeitura do Recife, do trade turístico e de outros patrocinadores. A obra foi inaugurada no dia 10 de janeiro de 2009, pelo Prefeito do Recife. Após a reforma, a agremiação passou a fazer parte do circuito turístico da cidade. 

 

 

Recife, 18 de janeiro de 2013.

Fontes consultadas

BAIRROS do Recife. Algomais Tudo, Recife, ano 2, n. 2, p. 37, nov. 2011. 

CATÁLOGO de agremiações carnavalescas do Recife e Região Metropolitana. Recife:  Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco; Prefeitura do Recife, 2009. p. 90-91.

CÉSAR, Thiago. Tradição e paixão pelo Carnaval. 2009. Disponível em:  . Acesso em: 16 jan. 2012.

JOAQUIM, Luiz. Madeira do Rosarinho conta sua história. Jornal do Commercio, Recife, 1º ago. 2000. Caderno C. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2013.

SILVA, Leonardo Dantas (Org.). Blocos carnavalescos do Recife: origens e repertório. Recife: Governo de Estado de Pernambuco, Secretaria do Trabalho e Ação Social, Fundo de Amparo ao Trabalhador, 1998. 

Como citar este texto

GASPAR, Lúcia. Madeira do Rosarinho (Bloco Carnavalesco). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/madeira-do-rosarinho-bloco-carnavalesco/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)