Leprosário da Mirueira
Última atualização: 28/06/2022
O conjunto edificado que veio a ser conhecido como Leprosário da Mirueira foi construído no ano de 1941 por iniciativa de Carlos de Lima Cavalcanti, o então interventor em Pernambuco àquela época. A intenção era de complementar o sistema de combate à lepra no Estado, que, até aquele momento, só contava com o antigo Hospital de Lázaros, fundado ainda no século XVIII e sem atendimento às exigências da Medicina moderna.
A instituição do leprosário foi motivada pela vigência, naquele período, do Plano Nacional de Combate à Lepra — lançado em 1935, pelo Governo brasileiro, com base nas decisões publicadas um ano antes, logo após a Primeira Conferência Nacional de Lepra, realizada em 1933, no então Distrito Federal (Rio de Janeiro).
Com tal plano, a hanseníase passou a ser abordada a partir de recursos e conhecimentos médicos cientificamente embasados pela primeira vez no Brasil.
Essas novas diretrizes incorporavam como princípios o conhecimento clínico e o controle sobre o ir e vir dos diversos pacientes — as atividades de triagem, classificação de casos, separação e isolamento dentre as várias classes de sujeitos (por sexo, idade, relações familiares, grau de gravidade da doença) eram sistematizadas e espacialmente organizadas para viabilizar o tratamento dos internos nas suas diferentes fases da doença, ao mesmo tempo em que se prevenia, também, o contágio de funcionários, visitantes e familiares sãos.
Esses princípios de classificação, controle e isolamento viriam a ser refletidos em uma organização espacial rígida, que se iniciava já pela separação da colônia em três zonas principais, a depender das pessoas que as ocupavam: “sadia”, “neutra” e “doente”.
Com tal precisão, o leprosário era idealizado como uma verdadeira colônia — um local não só de internação, mas até mesmo de moradia prolongada. Sendo assim, abrigava não só os internos e seus familiares — para garantir o isolamento social de todos em potencial risco de contágio e transmissão —, mas, também, pessoas filiadas a ordens religiosas, que se integravam voluntariamente aos serviços e cuidados.
O local de implantação, situado no município do Paulista, atualmente componente da Região Metropolitana do Recife, foi escolhido por ser afastado mais de 10 km do centro da cidade, mas tendo acesso fácil por meio de estrada, além de estar inserido em um ambiente de natureza exuberante, com morros e trechos de mata nativa.
O projeto de arquitetura é referencial no universo dos edifícios de saúde brasileiros, e foi elaborado em 1936 pela Diretoria de Arquitetura e Construção (DAC), equipe sob a coordenação do arquiteto mineiro Luís Nunes — também responsável por outras obras do mesmo período em Pernambuco, como a Caixa D’água de Olinda, o Pavilhão de Verificação de Óbitos da Faculdade de Medicina e o Hospital da Polícia Militar, dentre tantas.
O que chama atenção nos edifícios, como nas demais obras da DAC, é a decisão deliberada pela expressão dos princípios do movimento moderno em suas composições, inclusive nas casas de habitação coletiva e nas casas geminadas da administração. Com volumetria simples, sem ornamentos, aplicando sistemas construtivos baseados no uso de materiais industriais (como o concreto armado) e, sempre na tentativa de adequação ao clima local, com beirais e elementos vazados — o que faz tal linguagem arquitetônica ser muitas vezes comparada à da chamada “escola carioca”, encabeçada por Lúcio Costa e seus alunos, como Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy.
Recife, 25 de janeiro de 2021.
Fontes consultadas
ALECRIM, Laura Karina Nobre. Arquitetura profilática: leprosários brasileiros (1918-1949). 2012. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Urbano) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.
Como citar este texto
NASCIMENTO, Cristiano Felipe Borba do. Leprosário da Mirueira. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2021. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/leprosario-da-mirueira/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 10 fev. 2021.)