Festas Juninas no Brasil
Última atualização: 17/10/2022
Durante todo o mês de junho ocorrem as festas em homenagem aos santos católicos: São João, São Pedro e Santo Antônio. A origem do nome da festa que a princípio era chamada de “joanina” vem provavelmente do fato de ocorrer em junho, mas existe outra versão que diz que o nome tem origem em países católicos da Europa e seria em homenagem apenas a São João.
Alguns historiadores afirmam que essa festividade foi trazida para o Brasil durante o período colonial pelos portugueses e incorporou traços da cultura indígena e africana. No país se comemora o “São João” em todas as regiões, porém é no Nordeste que a festa tem maior expressividade. “As festas juninas mais tradicionais acontecem em Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), existindo inclusive uma leve rivalidade entre os dois estados” (SILVA, 2016, p.3).
Essas festas vão além da tradição que alegra o povo, pois também representam um importante momento econômico devido ao fato de que a magia da época atrai os turistas. Muitos brasileiros e até estrangeiros vindos, sobretudo, da Europa visitam as cidades nordestinas para acompanhar os festejos e vivenciar os costumes típicos da época.
Entre as principais tradições que envolvem o período junino e que chamam a atenção de turistas estão as fogueiras, as quadrilhas, as comidas típicas e as decorações. Os portugueses trouxeram o costume de soltar balões para o Brasil, tradição que se mantém até hoje em Portugal, principalmente na cidade do Porto onde as pessoas atam aos balões pequenos papéis com pedidos. Era costume soltar alguns balões para marcar o início das festividades, porém, devido ao risco de incêndio e mortes, essa prática está proibida em alguns lugares do mundo, inclusive no Brasil (A Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, em sua Seção II, que trata dos crimes contra a flora proíbe fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano, com pena de um a três anos de detenção e/ou multa). Por conta disso, no Brasil, os balões hoje em dia são utilizados apenas como parte da decoração junina juntamente com as típicas bandeirinhas coloridas.
As fogueiras têm sua origem, segundo a tradição católica, em um trato feito entre Isabel (mãe de São João Batista) e Maria (mãe de Jesus Cristo) que eram primas. Isabel acendeu no topo de uma montanha uma fogueira para avisar à prima Maria que seu filho havia nascido. Reza a tradição que se deve saltar a fogueira no mínimo três vezes e em número ímpar para ficar protegido de todos os males durante o ano todo.
Os fogos de artifício estão relacionados com a tradicional fogueira junina e seus efeitos visuais. É comum haver espetáculos pirotécnicos organizados normalmente pelos governantes dos municípios e organizadores de festas particulares para, segundo a tradição, “despertar” São João Batista. As crianças também costumam soltar fogos de menor efeito conhecidos por bombinha, traque, rojão, chuvinha, buscapé, cobrinha, entre outros.
A dança tradicional das festas juninas brasileiras é a quadrilha. Com origem na França, a dança de pares era bastante comum na Europa entre o início do século XIX e a Primeira Guerra Mundial e, no Brasil, incorporou alguns traços da vida do campo e invandiu os centros urbanos nas tradicionais festas de São João.
As quadrilhas consistem em casais vestidos com roupas que lembram a vida no campo, ou seja, vestidos como caipiras ou matutos. Com passos marcados ao som da sanfona como principal instrumento, os casais participam da celebração e comemoração de um casamento, para tanto um dos casais se veste como noivos no estilo caipira. Existe um responsável que comanda as ações dos participantes da quadrilha e dita todos os passos através de algumas frases e palavras habituais. Os passos mais utilizados na quadrilha são: grande passeio, cumprimento às damas e aos cavalheiros, a troca de lados, balancê, túnel, caminho da roça, grande roda e despedida.
Na Região Sudeste, em alguns estados, a exemplo de São Paulo e Minas Gerais, é tradicional a realização de quermesses com barraquinhas de comidas típicas e jogos para animar os visitantes; geralmente, durante esse tempo, também acontecem as apresentações de quadrilhas.
Na Região Sul a dança comum nessa época do ano é o fandango, que teve sua origem na Península Ibérica. Diferente do fandango nordestino (que é praticamente um auto marítimo para celebrar o ciclo natalino), nessa região, sobretudo nos estados de Santa Catarina e Paraná, o fandango é a dança dos tradicionais bailes que celebram o sucesso na colheita, que comemoram casamentos e está também presente nas festas religiosas. A coreografia se baseia no sapateado dos homens, no valseado de casais que formam pares fixos do início ao fim da música e pela valsa intercalada por movimentos de rodopio e sapateado.
Na Região Centro-Oeste, as festas juninas adotam misturas das tradições dos países da fronteira. É comum, por exemplo, a polca paraguaia, dança típica da Argentina e do Paraguai. A quadrilha tradicional está presente, mas, especialmente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o cururu também faz parte da tradição. Trata-se de uma dança comum onde os violeiros fazem desafios entre si com rimas em uma roda dançante. Um dos pratos típicos da festa é a “sopa paraguaia” que na verdade é uma torta de farinha de milho com queijo (famosa no Mato Grosso). Outro prato bastante apreciado nessa época é o arroz de carreteiro. Quanto ao ritmo, a música sertaneja embala o São João por toda a região, sobretudo no estado de Goiás, que é berço de várias duplas sertanejas.
No Nordeste do Brasil, o milho é o principal prato dessa época, sendo servido cozido ou assado ou estando presente nas comidas como bolos, pamonhas e canjicas que fazem parte do cardápio das festas juninas.
Além das quadrilhas, a principal dança típica do Nordeste é o forró, que anima o povo e embala festas o ano todo, não somente durante o ciclo junino. No final da década de 1940, o cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga apresentou o forró ao Sul do país, fato que chamou a atenção do resto do Brasil para os problemas do Nordeste e despertou o interesse pelas suas tradições.
Em Caruaru, durante as festas juninas, desde os fins do século XIX se reúnem os Bacamarteiros. Essa tradição é bastante primitiva e não possui regulamentos ou formalidades, basta ter um bacamarte e saber atirar obedecendo ao “sargento”.
Bacamarte é uma arma de fogo, de cano curto e largo, também conhecida como granadeira, reiuna, reuna ou riuna, principalmente, no Nordeste brasileiro. As granadeiras ou bacamartes que serviram na Guerra do Paraguai, em 1865, foram modificadas para que as armas se adaptassem ao uso dos bacamarteiros nas festas do interior de Pernambuco (GASPAR, 2009).
Durante o mês de junho havia um trem partindo da Capital (Recife) e seguindo para Caruaru, em que os passageiros viajavam dançando nos vagões ao ritmo do forró. Desde 1991, no entanto, o famoso "Trem do Forró" animado por um Trio de Forró com zabumba, triângulo e sanfona em cada vagão, faz um percurso de ida e volta entre Recife e o cabo de Santo Agostinho.
Em diversas cidades do Nordeste, as festas juninas acontecem atraindo grande público e geralmente são acompanhadas de concursos de quadrilha e shows de artistas famosos, principalmente bandas de forró e cantores sertanejos. As cidades do interior montam os palcos e oferecem diversas atrações aos visitantes que podem apreciar as comidas típicas, geralmente encontradas em barracas montadas especialmente para as festas, assistir aos shows e às diversas manifestações típicas da época, como as quadrilhas, por exemplo, ou dançar um forró num cenário alegre e colorido.
Curiosidades:
- O mês de junho é conhecido também como o mês das noivas porque dia 13 de junho é o dia de Santo Antônio, considerado o santo casamenteiro. Inspiradas pela tradição e pela brincadeira que causa curiosidade, muitas mulheres solteiras que querem se casar fazem simpatias para o santo. Nesse dia também as igrejas católicas distribuem o “pãozinho de Santo Antônio”. Acredita-se que o pão traz sorte para as moças solteiras que desejam matrimônio e para que nunca falte o alimento nos lares que o recebem.
- As comidas típicas mais representativas dessa festa tornaram-se presentes em razão das boas colheitas na safra de milho nessa época do ano.
Recife, 15 de junho de 2016.
Fontes consultadas
CASTRO, JRB. Da casa à praça pública: a espetacularização das festas juninas no espaço urbano [online]. Salvador: EDUFBA, 2012. Disponível em: <http://static.scielo.org/scielobooks/tqvcj/pdf/castro-9788523211721.pdf>. Acesso em 06 jun. 2016.
FESTAS juninas [Foto neste texto]. Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globocidadania/noticia/2013/02/festas-juninas-hora-de-celebrar-cultura-e-identidade-brasileiras.html>. Acesso em: 15 jun. 2016.
GASPAR, Lúcia. Bacamarteiros. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/undefined/pesquisaescolar>. Acesso em: 14 jun. 2016.
HISTÓRIA da Festa Junina e tradições. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/musicacultura/historia_festa_junina.htm>. Acesso em 14 jun. 2016.
SILVA, Débora . Festa junina no Brasil. 2016. Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/festa-junina-no-brasil-historia-e-tradicoes/>. Acesso em 15 jun. 2016.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia Albuquerque. Festas Juninas no Brasil. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2016. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/festas-juninas-no-brasil/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)