Fábrica da Torre é o nome pelo qual ficou conhecida a Companhia Fiação e Tecidos de Pernambuco. Localizada no bairro da Torre, no Recife, a fábrica foi um agente importante no processo de industrialização do estado de Pernambuco, iniciado na segunda metade do Século XIX.
Dominado até então pela monocultura açucareira, a partir de meados do século XIX, o cultivo do algodão passou a representar uma das atividades econômicas de destaque em Pernambuco. Nesse momento surgiram as primeiras indústrias têxteis no estado, sendo a mais antiga delas a Fábrica da Torre, fundada em 1874, seguida pela Fábrica de Camaragibe, de 1892, e as Fábricas de Paulista e Goiana, fundadas em 1893.
As atividades da indústria tiveram início nos primeiros meses de 1875, com a razão social de Pernambuco Barroca Ltda (posteriormente alterada para Companhia Fiação e Tecidos de Pernambuco), no bairro da Madalena. Com o aumento na produção de tecidos e as melhoras na qualidade do material surgiu a necessidade de ampliar as instalações fabris, e, por esse motivo, ocorreu a mudança para o bairro da Torre, em 1884. Lá, a fábrica chegou a realizar, na primeira metade do século XX, uma das maiores produções têxteis do estado.
O Cotonifício atuava desde o tratamento do algodão natural até o enfardamento dos tecidos de todas as variedades. A fábrica apareceu no anuário estatístico de Pernambuco de 1927 como a terceira em valor da produção no estado, ficando atrás apenas da Companhia de Tecidos Paulista e da Societé Cotonniére Belge-Bresiliense, na cidade de Moreno.
O processo de desenvolvimento do Bairro da Torre está inegavelmente atrelado à dinâmica fabril, foi ela quem o moldou e deu equipamentos que fizessem com que esse arrabalde crescesse e se desenvolvesse ao redor do núcleo inicial da fábrica. O crescimento do número de residências operárias no seu entorno se deu em razão de uma iniciativa da própria direção da Companhia Fiação e Tecidos. A direção tinha o objetivo de ampliar a quantidade de vilas operárias no entorno da fábrica, a fim de evitar que os trabalhadores perdessem parte do dia numa longa jornada entre a sua residência e o local de trabalho e, também, de ter um controle maior da sua própria mão de obra.
Além disso, a Fábrica dotou o bairro da Torre, até então pouco habitado, de aspectos citadinos, construindo e favorecendo o surgimento de equipamentos, como comércio e pequenas indústrias, que tornavam o lugar quase autossuficiente do resto da cidade. Por outro lado, esse crescimento e a dinâmica urbana da área fizeram com que a fábrica se inserisse mais facilmente no cotidiano do restante do Recife de tal modo que os seus dirigentes chegaram até mesmo a fundar um clube de futebol, chamado Torre Sport Club, que teve torcedores ilustres como o governador Estácio Coimbra. Fundado em 13 de Maio de 1909, o Madeira Rubra como era chamado pela torcida, organizou campeonatos próprios, com times do bairro da Torre e conquistou diversos títulos durante o seu período de atividade, sendo as mais importantes os Campeonatos Pernambucanos nos anos de 1926, 1929 e 1930.
A partir de meados dos anos 1970, ocorreu no Brasil um processo de reestruturação empresarial, fazendo com que muitas empresas fechassem. Foi quando se deu um grande desmonte de vila operárias e núcleos fabris ao longo do país, a Fábrica da Torre não escapou desse processo. Com as atividades encerradas em 1982, as instalações fabris foram compradas pelo BANORTE, e a partir daí a maior parte das construções começaram a ser desocupadas e demolidas, restando hoje poucos exemplares de um patrimônio construído ao longo de quase um século de atividade fabril.
Recife, 11 de setembro de 2013.
Fontes consultadas
CORREIA, Telma de Barros. Moradia e trabalho: o desmonte da cidade empresarial. ENCONTROS NACIONAIS DA ANPUR, 2013, Recife. Anais... Recife: [s. n.], 2013. p. 715-727. Disponível em:<http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/view/1710>. Acesso em: 6 set. 2013.
COTONIFÍCIO da Torre. In: COELHO, Arnaldo Barbosa; LINS, João Batista; CARNEIRO LEÃO, Hilton. Documentário ilustrado do Tricentenário da Restauração Pernambucana. Recife: [s.n.], 1945. p. 163-164.
DOMINGUES, Luís Manuel. O processo de industrialização em Pernambuco (1890-1920). Revista SymposiuM, Recife, ano 4, n. 1, p. 57-76, jan./jun. 2000.
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PEREZ, Apolônio. O algodão e sua indústria em Pernambuco. Monografia apresentada na Conferência Algodoeira do Rio de Janeiro, julho de 1916.
PERRUCI, Gadiel. A República das usinas. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1978.
Como citar este texto
CANTARELLI, Rodrigo. Fábrica da Torre (Recife, PE). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/fabrica-da-torre-recife-pe/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago, 2020.)