O município de Recife se constitui de 94 bairros, distribuídos em seis regiões político administrativas (RPA´s). O bairro de Campina do Barreto, encontra-se na RPA-02, na região Norte da Cidade, a qual se constitui de 18 bairros, conforme a Divisão Territorial do Município de Recife-PE, pela lei 16.293/97.
O bairro de Campina do Barreto possui população residente de 9.484 habitantes; sendo a maioria composta de mulheres (53,29%); com predominância da cor parda (55,67%); faixa etária predominante entre 25 a 59 anos (47,44%) e a taxa de alfabetização da população de 10 anos ou mais é de 89,7 (%). Quanto à densidade demográfica, o bairro possui 182,67 (habitante/hectare) sendo a média de moradores por domicilio 3,4 (habitante/domicílio). Possuindo valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios de R$ 1.088,80, a proporção de mulheres responsáveis pelo domicílio é de 48,68 %.
O surgimento desse bairro se deu a partir da ocupação do espaço de periferia entre Olinda e Recife, no século XVI, a partir da criação das capitanias hereditárias. Duarte Coelho recebeu a capitania de Pernambuco em 1535, e em 1537, fundou a Vila de Olinda, na margem esquerda do rio Beberibe. Dentro de uma perspectiva de desembarque de mercadorias vindo do porto de Recife, criou-se núcleos no grande estuário dos Rios Capibaribe e Beberibe. Iniciando assim o grande processo de apropriação de terras de povoamento do Brasil, sobretudo no estado de Pernambuco, com grande importância nesse curso histórico (CABRAL, 2014, pág. 20).
É nesse contexto que esse espaço de periferia localizado na zona norte de Recife, na bacia hidrográfica do Beberibe pelo baixo curso de seu rio, constituído pelas comunidades Cabo Gato, no bairro de Peixinhos, Olinda (margem esquerda do rio) e pelo bairro de Campina do Barreto (antigo Fundão de Dentro), na margem direita do Beberibe tem seu surgimento, com ocupação ao longo dos anos. A partir da primeira metade da década de 70 a ocupação já não de dá mais pela atração do rio que nessa época já se encontrava bastante poluído e sim por outros setores da economia que criaram a relação periferia-centro.
O bairro Campina do Barreto, de acordo com Cabral (2014, p. 64), “antes de ser uma campina, era um sítio de coqueiros e mangueiras que passou a pertencer ao português conhecido como ‘Seu Barreto’ que era proprietário de toda área e seu entorno". O nome “Barreto" teria sido escolhido em sua homenagem. O Sr. Barreto vendia os frutos do seu sítio, porém, passou a dedicar-se a pecuária, desmatando a área a fim de alimentar o gado com o capim que plantou, e assim, se deu o nome do bairro. O nome “Campina” segundo nos contou o Sr. Luís Negomonte (morador do bairro), vem do fato de terem existido na localidade várias campinas com bastante área verde para alimentar o gado. Daí a origem do nome do bairro "CAMPINA DO BARRETO".
Com a abolição da escravatura, em 1888, a localidade foi povoada por palafitas, também conhecidas como mocambos, pelos ex-escravos em busca de moradia e os benefícios que o rio proporcionaria para o trabalho e o transporte. O que posteriormente aconteceu com a inauguração do Matadouro Público de Peixinhos, em Olinda, no ano de 1919, que ficava do outro lado do rio.
Dentro do bairro localiza-se a comunidade de Chão de Estrelas, que ocupa cerca de 2/3 da área total. É uma localidade conquistada pelos moradores das margens do Rio Beberibe.
Chão de Estrelas é uma comunidade dentro do bairro de Campina do Barreto, que surgiu em 1981, dentro de um movimento de luta e resistência pelo direito à moradia. Construída na beira do rio Beberibe, teve diversos nomes. Porém, após uma votação entre os moradores, ficou definido “Chão de Estrelas”, logo, “chão simboliza a nossa luta árdua e as estrelas eram nossa única fonte de iluminação, segundo a Diretora do Centro de Organização Comunitária do Bairro, Josineide Andrade”.
Através do programa PROMORAR/BEBERIBE, o governo federal financiou a construção de um conjunto habitacional para a população ribeirinha que sofria com as enchentes. A partir de 1979, começaram os cadastramentos das famílias, a maioria advinda da favela Cabo Gato, em Peixinhos, Olinda, que já vinham do interior do estado. A comunidade de Cabo Gato tinha este nome em homenagem ao apelido, do morador e cabo da Polícia Militar, Severino Pereira de Moraes, que lutou contra Lampião, e morava em Campina do Barreto.
Neste mesmo ano, o terreno do Sítio Santa Terezinha (Campina do Barreto) recebeu os ribeirinhos, que começaram coletivamente a construção das casas, junto com a luta das lideranças comunitárias. Nas quais até hoje resistem com os movimentos de apoio aos moradores, através de ONG’s, centros culturais e sociais intervindo com o governo.
Como atividades econômicas e sociais encontradas no bairro podemos encontrar escolas comunitárias, assim como de ensino fundamental da rede municipal e da rede estadual com ensino médio; ONG’s, como o Oratório da Divina Providência, que proporciona ao bairro cursos recreativos e profissionalizantes, assim como apoio psicológico; CRAS (Centro de Referência Social); associações de moradores; consultórios médicos populares, posto de saúde, uma Policlínica Municipal; mercadinhos, padarias, oficinas, mercearias e fiteiro, bares, igrejas evangélicas, católicas, centros espíritas e umbandistas; pracinhas e campo de futebol, apesar de existerem poucos espaços de esporte e lazer; centro urbano e comunitário; blocos de carnaval, como Violão de Ouro; e os movimentos culturais, como o Daruê Malungo, que desenvolve assistência social e cultural à comunidade de Chão de Estrelas, através de oficinas de música, capoeira, dança e artesanato, desde 1984.
Muitos projetos vêm sendo implementados favorecendo a população para garantir uma moradia melhor como à construção de conjuntos habitacionais que retiram parte da comunidade ribeirinha das palafitas e oferece moradia mais digna, a pavimentação de do trecho que vem da Academia da Cidade de Chão de Estrelas até a Rua dos Craveiros (rua da escola). Nas margens do Rio Beberibe, neste mesmo percurso haverá a construção de uma ciclovia, que beneficiará os moradores dando condição de acesso em parte do trajeto. Esse projeto que está em fase de execução e tendo como previsão a finalização até o fim de 2017.
Recife, 17 de novembro de 2017.
*Este texto faz parte do projeto Interagindo com a História do Seu Bairro, uma parceria da Fundação Joaquim Nabuco com o Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores.
Fontes consultadas
CABRAL, Augusto Antônio Campelo; ALMEIDA, Janusy Mara de Alencar; PAULA, Ovídio Ferreira de. O direito de morar, o direito de viver do Cabo do Gato a Chão de Estrelas: a história de luta de um povo pelo direito a moradia. Recife: CEPE, 2014.
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. Recife e suas ruas: se essas ruas fossem minhas. Recife:Poço Cultural, 2015.
CAVALCANTI, Carlos. Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Poço Cultural, 2012.
CENSO Demográfico, 2010. Resultados do universo: características da população e domicílios. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em outubro de 2017.
GABRIEL, Antônio. Bairros que contam histórias. Disponível em: http://raizesdomangue.wixsite.com/site/single-post/2015/08/07/Coluna-Bairros-que-contam-hist%C3%B3rias-Por-Ant%C3%B4nio-Gabriel Acesso: 23/10/2017
Como citar este texto
SILVA, Anita Presbitero da; VERARDI, Cláudia Albuquerque; HENRIQUE, Viviane Villarouco de Andrade. Campina do Barreto (Bairro, Recife). In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2017. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/campina-do-barreto-bairro-recife/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6.ago.2021.)