Recife (cidade): a “Veneza brasileira”
Última atualização: 29/03/2022
A cidade do Recife é a capital do Estado de Pernambuco no Brasil. É conhecida como a “Veneza brasileira”, por ser recortada por rios, canais e pontes que ligam um bairro ao outro.
As mais antigas referências ao nome “Recife” apareceram ainda no período colonial entre 1537 e 1631.
De acordo com a estimativa mais recente do IBGE (2019), Recife possui uma população de aproximadamente 1.645.727 pessoas em uma área territorial de 218,843 km² (censo de 2010).
A ocupação das terras no Brasil, ao contrário do que possa parecer, não se deu simplesmente com a chegada de colonos que se intitulavam donos das propriedades (simplesmente por haver ocupado a terra) devido às pré-existentes diferenças sociais já observadas no “Novo Mundo”. Essas diferenças também estariam presentes no local onde pouco a pouco se desenvolveria a cidade do Recife tendo por base o controle sobre o acesso à propriedade.
A povoação dos Arrecifes pela sua função portuária, pela sua posição de intermediação entre o setor rural e o mercado metropolitano, e consequente capacidade de se apropriar de parte da renda gerada na colônia apresentava as condições de sua própria expansão, alimentando um processo de diferanto de marinheiros quanto de mercadorias. Existiam poucas construções que correspondiam às necessidades do sistema mercantil, portanto iniciaram-se as construções de acordo com os interesses do sistema colonial. Isso explica a forte influência holandesa principalmente na arquitetura da cidade.
Evocação do Recife
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
— Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muito rosa
Terá morrido em botão…)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.
Rua da União…
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade…
…onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora…
…onde se ia pescar escondido
— Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras
Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo…
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife…
Rua da União…
A casa de meu avô…
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife…
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Recife, 26 de novembro de 2019.
Fontes consultadas
CASTRO, Josué de. Fatores de localização da cidade do Recife. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948.
EVOCAÇÃO do Recife (Poema de Manuel Bandeira). Disponível em: <https://www.escritas.org/pt/t/11088/recife>. Acesso em: 26 nov. 2019.
FREYRE, Gilberto. Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2005.
MALHEIROS, Artur. Cidade do Recife. Recife: CEPE, 1976.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. O Chamado Foral de Olinda, de 1537”. In: Revista do Arquivo Público, Recife, v.11-18, n. 13-30, p. 39-58, 48, jan./dez., 1957-1974.
PORTO do Recife [Foto 2 neste texto]. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/boa-viagem/as-cores-do-artesanato-no-porto-de-recife-6690216>. Acesso em: 26 nov. 2019.
REZENDE, ANTONIO Paulo (Org.). Recife: que história é essa? Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1987. (Tempos e Espaços, 1).
RIO CAPIBARIBE [Foto 1 neste texto]. Disponível em: <http://estradasecaminhos.blogspot.com/2011/06/recife-veneza-brasileira.html>. Acesso em: 26 nov. 2019.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia Albuquerque. Recife (cidade): a “Veneza brasileira”. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2019. Disponível em:. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)