Raul Santos Seixas, um dos pioneiros do rock brasileiro, nasceu em Salvador, Bahia, no dia 28 de junho de 1945, filho de Raul Varella Seixas e de Maria Eugênia Santos Seixas.
Avesso aos estudos, sua frequência na escola era descontínua. Preferia ler os livros da vasta biblioteca do seu pai, ficar em casa sozinho, no quarto, pensando horas após horas. Disse ele: “Meu mundo interior é, e sempre foi muito rico e intenso. Por isso, o mundo exterior naquela época não me interessava muito. Eu criava o meu”.
Seu primeiro contato com o rock and roll foi por intermédio de alguns discos de Elvis Presley, Little Richard, Fats Domino, Chuck Berry, que conseguiu emprestado de amigos. “O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas. [...] Eu tinha assumido uma maneira de vestir, falar e agir que ninguém conhecia. Claro que eu não tinha consciência da mudança social que o rock implicava”, disse Raul em entrevista.
Em "sociedade" com o amigo Waldir Serrão, Raul Seixas fundou o fã-clube de Elvis Presley – Elvis Rock Club. No início dos anos 1960, criou o grupo Os Relâmpagos do Rock com os colegas e irmãos Délcio e Thildo Gama. Quatro anos mais tarde, o grupo passou a se chamar The Panters e gravou duas músicas (Nanny e Coração Partido) que não foram lançadas comercialmente. Quase trinta anos depois é que Raul inseriu uma delas (Nanny) no álbum O Baú do Raul. Ainda na década de 1960, The Panters passou a se chamar Raulzito e Os Panteras. Nesse período, Raul conheceu a americana Edith Wisner e, por causa dela, voltou a estudar, fez o vestibular e foi classificado nos primeiros lugares para o curso de Direito, embora não desse importância a isso: “Eu queria provar às pessoas, à minha família, como era fácil isso de estudar, passar em exames”.
Em 1967, retornou ao grupo Os Panteras e casou com Edith, com quem teve uma filha, Simone. No ano seguinte, a convite do cantor Jerry Adriani, Raul, esposa e Os Panteras foram para o Rio de Janeiro, onde gravaram, pelo selo Odeon, o LP (long play) Raulzito e Os Panteras que passou desapercebido pelo público e pela crítica. Sem êxito, o grupo acabou e Raul voltou para Salvador.
A trajetória artística de Raul Seixas foi impulsionada depois que Evandro Ribeiro, diretor da então gravadora CBS (hoje Sony Music) lhe deu a oportunidade de trabalhar como produtor de discos na CBS, Rio de Janeiro. Ali conheceu e conviveu com vários artistas e grupos musicais como Trio Ternura, Renato e Seus Blue Caps, Tony e Frankie, Diana e Sérgio Sampaio. Foi nos estúdios da CBS que Sérgio, Raul, Miriam Batucada e Edy Star produziram e lançaram o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10. O disco, que pouco vendeu, era “Uma verdadeira sessão de escracho, com paródias e pastiches musicais temperadas com um humor corrosivo, que trazia algumas parcerias de Sérgio e Raul, como o xote elétrico Quero ir e o acid rock Doutor Pacheco” (SÉRGIO..., 2000). O empreendimento, concebido e realizado na ausência de Evandro Ribeiro, foi o motivo da expulsão de Raul da CBS.
Com a experiência adquirida na CBS, Raul aprendeu “os macetes todos [...] a fazer música fácil, comercial, intuitiva e bonitinha, que leva direitinho o que a gente quer dizer” (PASSOS, 2000). Em 1972, resolveu ser "popular", chamar a atenção do público e, incentivado pelo amigo Sérgio Sampaio, inscreveu duas músicas no VII Festival Internacional da Canção: Eu sou eu, Nicuri é o diabo e a outra, uma mistura de rock com baião, Let me Sing, Let me Sing, interpretada por Raul travestido de Elvis Presley. Ambas foram classificadas e tiveram ampla repercussão junto ao público e a imprensa, além de impulsionar sua carreira como cantor e compositor.
O maior sucesso veio, em 1973, com a canção Ouro de Tolo, uma das faixas do LP Krig-Ha, Bandolo!. Nesse mesmo ano, cria com Paulo Coelho (hoje escritor brasileiro de sucesso mundial) a Sociedade Alternativa e dedicam-se aos estudos esotéricos, baseados na obra do mago inglês Aleister Crowley. A participação nessa Sociedade lhe valeu a expulsão do país, uma vez que os militares acreditavam que ela era um movimento revolucionário contra o governo. No ano seguinte, outro sucesso, Gita (que deu a Raul o primeiro Disco de Ouro) e uma mudança na sua vida pessoal: separa-se da esposa Edith, que volta para os Estados Unidos e leva consigo a filha do casal.
Em 1975, casa-se com a americana Glória Vaquer, irmã de seu guitarrista, Gay Vaquer. Dessa união, nasceu sua segunda filha, Scarlet. O casamento durou apenas dois anos (1977) quando Glória, a exemplo da primeira esposa de Raul, voltou para os Estados Unidos com a filha. Além de Edith e Glória, foram suas companheiras: Tânia Menna Barreto (1978), Ângela Maria Afonso Costa – Kika Seixas – (1979), com quem tem uma filha, Vivian; e Lena Coutinho (1985).
Lançou o LP Há Dez Mil Anos Atrás (1976) e, logo após (1977), o álbum O Dia em que a Terra Parou que, embora não tenha agradado à crítica, levou os fãs a curtirem as canções Maluco Beleza, Sapato 36 e da faixa título, sucessos até hoje relembrados quando o assunto é Raul Seixas.
Em 1978, Raul vê-se obrigado a dar uma parada na sua vida pessoal e artística. Ele sofria de pancreatite agravada pelo consumo de bebidas alcoólicas e, para se recuperar, passou alguns meses na fazenda dos pais em Dias D’Avilla, interior da Bahia. De lá, transfere-se para São Paulo, onde faz cirurgia e perde metade do pâncreas.
Na capital paulista, em 1979, lança o LP Por quem os sinos dobram e inicia uma série de shows, inclusive uma temporada no Teatro Pinxinguinha que teve sucesso absoluto.
A década de 1980 foi de avanços e recuos na sua vida pessoal e artística. Assinou e rescindiu contratos com gravadoras, lançou álbuns e LPs, participou do Festival Música na Praia (SP), e de uma série de 50 shows, visitando os quatro cantos do Brasil.
Em 1983, lançou simultaneamente o LP Raul Seixas e o livro As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, editado pela Shogun Editora de Arte, do antigo amigo e parceiro Paulo Coelho. Após o sucesso do disco, do livro e dos shows Raul e Kika viajaram para os Estados Unidos. No mês de junho de 1984, já de volta ao Brasil, lançou o LP Metrô Linha 743.
Um fato importante na carreira de Raul Seixas foi a fundação, por Sylvio Passos, do Raul Rock Club, aonde o cantor passou a participar ativamente e, mais tarde, se chamou Raul Seixas Oficial Fã-Clube. Foi esse grupo que lançou, em 1985, o álbum Let me Sing My Rock and Roll, o primeiro disco produzido e distribuído por um fã-clube brasileiro.
A meteórica carreira artística de Raul Seixas se encerrou no dia 21 de agosto de 1989 quando ele sofreu uma parada cardíaca, em decorrência da pancreatite que o acompanhava fazia 10 anos.
Discografia
Álbuns de carreira (lançados em LP, K7 e CD)
1968 – Raulzito e Os Panteras
1971 – Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10
1973 – Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock; Krig-Ha, Bandolo!
1974 – Gita e O Rebu (Trilha Sonora Original – Raul Seixas & Paulo Coelho)
1975 – 20 Anos de Rock; Novo Aeon
1976 – Há Dez Mil Anos Atrás
1977 – Raul Rock Seixas; O Dia em que a Terra Parou
1978 – Mata Virgem
1979 – Por Quem os Sinos Dobram
1980 – Abre-Te Sésamo
1983 – Raul Seixas
1984 – Raul Seixas Ao Vivo – Único e Exclusivo; Metrô Linha 743
1985 – Let Me Sing My Rock and Roll – lançado somente em LP
1986 – Raul Rock Volume 2
1987 – Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum
1988 – A Pedra do Gênesis (fala sobre a controvertida Sociedade Alternativa)
1989 – A Panela do Diabo
Álbuns Postumos
1991 – Eu, Raul Seixas (Ao Vivo – Show na Praia do Gonzaga, Santos/SP 1982)
1992 – O Baú do Raul
1993 – Raul Vivo (Ao Vivo – Shows Em São Paulo 1983)
1994 – Se o Rádio não Toca (Ao Vivo – Show Em Brasília 1974)
1998 – Documento – CD
2003 – Anarkilópolis – CD
2005 – O Baú do Raul Revirado lançado somente em CD como brinde do livro O Baú Do Raul Revirado
Caixas (Edições Especiais)
1995 – Raul/Série Grandes Nomes (4 Cds e Livreto Ilustrado)
2002 – Maluco Beleza (6 Cds e Livro Ilustrado)
2009 – 20 Anos sem Raul Seixas [Cd + Dvd. reedição do CD e VHS "Documento" lançado em 1998, incluído a faixa inédita Gospel]
2010 – 10.000 Anos à Frente – (6 Cds + Libreto).
Recife, 27 de novembro de 2012.
Fontes consultadas
PASSOS, Sylvio. Raul Seixas, o moleque maravilhoso. [2000]. Disponível em: http://raulsseixas.wordpress.com/biografia-raul-seixas/. Acesso em: 22 nov. 2012.
RAUL Seixas [Foto neste texto de Dulce Helfer / Agencia RBS]. Disponível em: https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17481197.jpg?w=700. Acesso em: 30 jan. 2020.
RAUL Seixas Oficial Fã-Clube. Disponível em: http://raulsseixas.wordpress.com/biografia-raul-seixas/. Acesso em: 22 nov. 2012.
SEIXAS, Raul. Raul Seixas por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret, 1990.
SERGIO Sampaio. [2000]. Disponível em: http://sergiosampaio.uol.com.br/. Acesso em: 19 nov. 2012.
Como citar este texto
BARBOSA, Virginia. Raul Seixas. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/raul-seixas/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)