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Panos da Costa

O Pano da Costa faz parte do vestuário de mulheres africanas, sendo um acessório utilizado em diversos países do continente.

Panos da Costa

Artigo disponível em: ENG

Última atualização: 26/04/2021

Por: Lúcia Gaspar - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Documentação Científica

O Pano da Costa faz parte do vestuário de mulheres africanas, sendo um acessório utilizado em diversos países do continente, como Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Congo, Benin e Senegal. É uma espécie de xale, medindo normalmente dois metros de comprimento por sessenta de largura, usado de várias formas: sobre as costas; jogado no ombro - pendendo uma das pontas sobre o peito e a outra sobre as costas; à tiracolo; cruzados na frente; amarrados sobre o busto ou na cintura,  como uma faixa estreita ou larga e numa espécie de avental.

Ao chegar ao Brasil, o acessório incorporou-se aos trajes das mulheres negras que circulavam pelos engenhos, sobrados, ruas e praças, principalmente das províncias da Bahia, Pernambuco, Maranhão, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Há controvérsias sobre a origem do seu nome. Alguns pesquisadores afirmam que é assim chamado por ter vindo das costas da África (da Mina ou do Ouro), outros por ser utilizado, normalmente, pendendo do ombro para as costas.

O uso do Pano da Costa foi registrado por diversos artistas estrangeiros, que estiveram no Brasil no século XIX, a exemplo dos pintores viajantes Jean-Baptiste Debret, Johann Moritz Rugendas e Thomas Ender. 

Segundo o antropólogo Raul Lody (1977, p. 3), o Pano da Costa não é apenas um complemento da indumentária, mas um distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileiras. É uma peça indispensável no traje profano da baiana, definindo tipos de atividades econômicas ou agremiações. As baianas de rua ou vendedeiras e as quituteiras ou baianas de tabuleiro, tem por meio dos turbantes e dos Panos da Costa suas marcas características. 

Peça indispensável no traje da baiana pode indicar status social nos terreiros de Candomblé. Seu uso está intimamente ligado aos cultos afro-brasileiros e obedece às cores simbólicas dos Orixás: o pano da costa branco pertence a Oxalufan e Oxaguian; o vermelho e branco a Xangô; o azul e branco a Oxosse; o vermelho e amarelo a Ogum; o roxo e branco a Omulu e Nanã.

Os Panos da Costa eram feitos de algodão, normalmente em duas cores e em Madras (xadrez ou listras). Esse era o tipo usado pelas mucamas e pelas mulheres ligadas aos terreiros de Candomblés. A maioria do tecido vinha da África e era encontrado em feiras livres e mercados, assim como condimentos utilizados na alimentação ritual dos cultos afro-brasileiros, azeite de palma e dendê. Com o deslocamento constante da população escrava da África para o Brasil e o retorno dos ex-escravos para a Costa do Benin, estabeleceu-se um grande mercado para a comercialização do produto.

Existiam também os de textura fina, feitos com fios de seda, alguns com franjas, semelhantes aos xales usados pelas mulheres europeias.

O Alacá ou Alaká (grande pano) é um tipo de Pano da Costa tradicional usado por pessoas bem posicionadas na organização sócio-religiosa dos terreiros e de maior status social. É utilizado também por sobre o ombro, sendo o tecido enrolado pelo corpo, voltando ao ombro de origem, com uma ponta para frente outra para trás. Suas cores também estão associadas aos Orixás. Os de tecido mais fino são usados nas festas especiais dos terreiros, e os de algodão no dia a dia. 

É também conhecido como pano de cuia, apesar da expressão não ser mais usada, porque eram colocados dentro de cuias de cabaça para proteger o tecido, sendo vendido pelas mulheres negras nos mercados da Bahia.

Uma das peças de maior significado histórico no vestuário africano, a maneira de amarrá-lo, colocá-lo ou “enrolá-lo” varia de acordo com a situação, o ritual desenvolvido ou a posição hierárquica de quem o usa.

O Pano da Costa é encontrado, ainda, em forma de rodilha e amarrado na altura da cintura. Nesse caso, é usado por pessoa com certa posição na organização do terreiro, a exemplo das Ebambis, mulheres iniciadas há mais de sete anos.

O artesanato do Pano da Costa tradicional feito de algodão em tear manual está praticamente extinto no Brasil. Na Bahia, no entanto, ainda há tecelagem manual do produto elaborada por novos artesãos, o que possibilita às Mães e Filhas de Santo do Candomblé sua aquisição.  

Geralmente, as pessoas concebem o pano da costa como um tecido feito em peça única, o que não é verdade. O pano da costa é tecido em tiras, possuindo o comprimento original, e tendo a largura de aproximadamente 15 centímetros cada uma das tiras. São necessárias quatro dessas tiras, que, unidas através da costura manual, formam o pano da costa tradicional sob todos os aspectos, ou seja: textura do tecido, tamanho, técnica artesanal e condicionamento simbólico entre as cores e os Orixás. (LODY, 1977, p.10).

Atualmente, o Pano da Costa também tem outras demandas para comercialização devido a sua perfeição e beleza, o que encantam os turistas. 

 

Recife, 15 de março de 2013.

Fontes consultadas

LODY, Raul Giovanni. Pano da Costa. Rio de Janeiro: Funarte, 1977. (Cadernos de folclore, 15).

PANO da costa: apetrechos ritualísticos. In: Aprendizes do Conhecimento Divino, 19 maio 2012. Disponível em: http://aeacd.wordpress.com/2012/05/19/pano-da-costa/. Acesso em: 13 mar. 2013

PANO da costa. Salvador: Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC): Fundação Pedro Calmon, 2009. (Cadernos IPAC, 1). Disponível em: http://www.cultura.ba.gov.br/wp-content/uploads/2010/publicacoes/1.pano_da_costa.pdf. Acesso em: 13 mar. 2013.

Como citar este texto

GASPAR, Lúcia. Panos da Costa. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2013. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/panos-da-costa/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2009.)