Juarez Távora
Artigo disponível em:
ESP
Última atualização: 27/06/2022
Por:
Virginia Barbosa - Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco - Especialista em Biblioteconomia e História
O militar e político cearense Juarez do Nascimento Fernandes Távora, filho de Joaquim Antônio do Nascimento e de Clara Fernandes Távora do Nascimento, nasceu em Jaguaribemirim, atual cidade de Jaguaribe, no dia 14 de janeiro de 1898.
Aprendeu as primeiras letras com sua mãe e deu continuidade a seus estudos primários nos municípios próximos a sua terra natal. Com onze anos, seguiu com seu irmão Fernando para Quixadá com a finalidade de estudar no internato do Instituto Chaves. Seus estudos secundários foram realizados no externato do Colégio Pedro II (RJ), Asilo do Patrocínio (Juiz de Fora, MG) e no Ginásio Júlio de Castilhos (Porto Alegre, RS).
Ingressou no Curso de Engenharia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1915, mas teve de interrompê-lo devido a dificuldades financeiras da família. Para continuar seus estudos transferiu-se para a Escola Militar do Realengo (RJ) e de lá saiu, em 1919, aspirante-a-oficial da arma de engenharia. Nos anos de 1920 e 1921, foi promovido a segundo e primeiro-tenente passando a servir no 5º Batalhão de Engenharia de Curitiba (PR) e de Itajubá (MG).
No ano seguinte, foi designado auxiliar de instrutor da seção de engenharia da Escola Militar do Realengo, em substituição a Luís Carlos Prestes, que fora promovido a capitão. Nesse período, Juarez fez amizade com personalidades que viriam a se tornar líderes do movimento tenentista: Eduardo Gomes, Osvaldo Cordeiro de Farias, Luís Carlos Prestes e Odílio Denis, entre outros.
Em 1922, em represália às medidas repressivas do governo de
Epitácio Pessoa (principalmente a prisão do marechal Hermes da Fonseca e o fechamento do Clube Militar) e à eleição de Artur Bernardes para a presidência da República, Juarez participou do levante militar ocorrido na Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro, denominado Tenentismo. O movimento foi encabeçado pelo coronel João Maria Xavier de Brito Júnior, da Escola Militar do Realengo, que contava com a ação conjunta das forças da Vila Militar e do forte de Copacabana. Houve combate e o plano não teve sucesso. O coronel João Maria e os participantes do levante militar foram presos.
Em fevereiro de 1923, Juarez e outros detentos obtiveram um habeas corpus (ação judicial com o objetivo de proteger o direito de liberdade de locomoção lesado ou ameaçado por ato abusivo de autoridade) e puderam aguardar o julgamento em liberdade (concessão feita ao condenado, mediante requisitos e condições previstas na Lei de Execuções Penais, dando-lhe liberdade provisória antes do término da pena).
Em dezembro de 1923, informado que estava entre os 50 que seriam detidos pela Justiça, com a pena máxima de três anos de reclusão, perda da patente e exclusão automática do Exército, resolveu desertar e aderir à conspiração que se articulava contra o governo de Arthur Bernardes.
Nos anos seguintes, participou ativamente da organização desse movimento nos estados do Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, com incursões pelo interior e até com deslocamentos para países da América do Sul, como Argentina, Uruguai e Paraguai. Em alguns estados brasileiros, coordenou resistências sucessivas às tropas fiéis ao governo.
Juarez também fez parte da 1ª Divisão Revolucionária da Coluna Prestes (movimento liderado por militares, de 1925 a 1927, que faziam oposição à República Velha e às classes dominantes na época, sendo considerado o ponto culminante do Tenentismo), quando comandou a Brigada São Paulo, com 1.300 homens.
A Coluna Prestes foi constantemente perseguida pelas forças do governo que eram formadas por muitos integrantes do Exército, das polícias estaduais e por elementos comandados por coronéis (capangas). Percorreu 25 mil quilômetros compreendidos entre treze estados brasileiros e parte das terras paraguaias. Suas ações findaram em 1927, na Bolívia, onde muitos militantes se exilaram.
Em meio à atuação na Coluna Prestes, Juarez foi preso (1925) e conseguiu evadir-se, em janeiro de 1927, com a ajuda de ex-companheiros de prisão, passando a viver na clandestinidade. Nessa condição, seguiu para Montevideu, voltou ao Brasil (1928) e, por causa da intensa perseguição aos foragidos políticos, exilou-se em Buenos Aires (fevereiro de 1929).
Em 1930, de voltou ao Brasil, integrou e organizou, no Nordeste, o movimento para depor Washington Luís em favor de Getúlio Vargas, que governou o país de 1930 a 1945.
Após a posse de Getúlio, em 1931, assumiu o Ministério da Viação e Obras Públicas, foi designado delegado militar junto aos governadores dos estados do Norte e
Nordeste brasileiros e participou da fundação do Clube 3 de Outubro (agremiação que buscava conferir maior coesão à atuação dos "tenentes" revolucionários).
Távora teve intensa atuação política, militar e administrativa no Brasil. Por um longo período (1932 a 1967) exerceu várias atividades, dentre as quais se destacam: combate ao movimento constitucionalista (São Paulo); participação nos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, no debate em torno do petróleo brasileiro, e na organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a
Segunda Guerra Mundial e apoiou a renúncia de Vargas.
Foi membro da União Democrática Nacional (UDN); dirigiu a Escola Superior de Guerra (ESG), os Ministérios da Agricultura (1932) e o da Viação e Obras Públicas (1964-1967); exerceu a chefia de gabinete do governo de Café Filho (1954); foi candidato à presidência da República pela UDN e deputado federal pelo estado da Guanabara (atual Rio de Janeiro) (1954).
Publicou inúmeros artigos, conferências, discursos e pareceres, destacando-se:
À guisa de depoimento – sobre a revolução brasileira de 1924 (1927);
O ministro da Agricultura perante a Assembléia Nacional Constituinte (1934);
Petróleo para o Brasil (1955);
Produção para o Brasil (1956/1957);
Átomos para o Brasil (1958);
Organização para o Brasil (1959);
Uma política de desenvolvimento para o Brasil (1962);
Uma vida e muitas lutas (3 v.; 1973-1976).
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 18 de julho de 1975.
Recife, 24 de outubro de 2012.
Fontes consultadas
A ERA Vargas: dos anos 20 a 1945: Juarez Távora. Disponível em: . Acesso em: 19 out. 2012.
JUAREZ Távora [foto neste texto]. Disponível em: <goo.gl/tdkQn5>. Acesso em: 09 jan. 2018.
PANTOJA, Silvia; CAMARINHA, Daniel. Juarez Távora. In: BELOCH, Israel; ABREU, Alzira Alves de (Coord.). Dicionário histórico-biográfico brasileiro: 1930-1983. Rio de Janeiro: Ed. Forense-Universitária; FGV-Cpdoc; Finep, 1984. p. 3311-3325.
PRESTES, Anita Leocádia. O Arquivo Juarez Távora e a Coluna Prestes. Cultura Vozes, Petrópolis, RJ, ano 94, n. 3, p. 94-110, maio/jun. 2000.
Como citar este texto
BARBOSA, Virginia. Juarez Távora. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/juarez-tavora/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)