Iputinga é um bairro do Recife, situado na zona norte da cidade, às margens do rio Capibaribe, conhecido como bairro dos artistas. Iputinga, chamado de Ipueira nos documentos antigos, é um vocábulo de origem Tupi, usado pelos indígenas para designar lugares do campo que se enchem d’água no inverno, permanecendo alagada por algum tempo.
Consultando livros como Velhas igrejas e subúrbios históricos, de Flávio Guerra e Arredores do Recife, de Pereira da Costa, verifica-se que não há uma referência direta ao bairro da Iputinga. Na época da colonização, em meados do século XVI, foram as primeiras terras divididas entre os colonos.
Essas terras eram consideradas de excelente posição e ótimas para a agroindústria do açúcar. Muitos engenhos surgiram na várzea do Capibaribe, entre eles o Engenho São João, Engenho Santo Antônio e Engenho do Meio. Com o passar do tempo, foram surgindo nesses engenhos prósperos povoados, que deram origem aos bairros de hoje.
As terras da várzea do Capibaribe abrangem o que hoje são os bairros de Brasilit, Cidade Universitária, Iputinga, Monsenhor Fabrício, Engenho do Meio, Bomba Grande, Cordeiro aproximando-se da Madalena e Torre, daí concluir-se que a origem da Iputinga segue a mesma origem dos bairros da várzea do Capibaribe, especialmente ao próprio bairro da Várzea.
Das grandes casas dos tempos dourados do açúcar, no bairro da Iputinga, restam algumas ruínas, como o casarão do Engenho Barbalho. O rio Capibaribe, que há muito tempo não tem águas cristalinas, as favelas assentadas em suas margens e as enchentes periódicas, contribuíram para os moradores, principalmente os de melhores condições econômicas, fossem aos poucos se evadindo do bairro.
Depois da grande enchente de 1975, que quase acabou com o bairro, essa evasão cresceu muito. Val Bonfim, artista e professor que nasceu e continuou morando no bairro, criou o movimento artístico Iputinga Bairro dos Artistas, com o objetivo de trazer de volta os antigos moradores e artistas e irmaná-los no mesmo ideal, no sentido de tornar seus trabalhos mais conhecidos e, conseqüentemente, mais comercializados.
O grupo aos poucos foi se estruturando e conseguiu apoio das instituições governamentais. Esse movimento funcionou como combustível para revitalização do bairro. Foram surgindo novos artistas e antigos moradores voltaram ao bairro. Val Bonfim conseguiu identificar artistas domiciliados no espaço geográfico compreendido como sendo Iputinga: Monsenhor Fabrício, parte do Caiara, Engenho do Meio, Cordeiro, Bom Pastor e adjacências.
Entre as conquistas atribuídas à sociedade cultural dos artistas do bairro da Iputinga, destacam-se a descentralização da arte, no eixo Boa Viagem-Centro-Olinda, chamando a atenção dos turistas para a zona norte da cidade; implantação do único movimento dedicado aos artistas e modificação da feição da avenida Caxangá, através da exposição permanente de arte nos canteiros centrais.
Artistas de diferentes procedência e expressões de arte são filiados a Sociedade Cultural Iputinga Bairro dos Artistas (SCIBA). Há escultores, entalhadores, serigrafistas, pintores, fotógrafos e estampadores, cantores líricos, programadores visuais, ceramistas, poetas. Entre esses, alguns são também professores.
É do escultor e entalhador Corbiniano Lins, o Monumento ao Talento, existente no canteiro central da avenida Caxangá, na entrada de Monsenhor Fabrício. Trata-se de uma escultura com 3,10m de altura que, sem dúvida, homenageia os artistas e é ao mesmo tempo um cartão postal do bairro e da cidade do Recife.
Recife, 11 de agosto de 2004.
Fontes consultadas
COSTA, F. A. Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1981.
GALVÃO, S. de Vasconcelos. Diccionario chorographico, historico e estatistico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.
GUERRA, Flávio. Velhas Igrejas e subúrbios históricos. Recife: Prefeitura Municipal, Departamento de Documentação e Cultura, 1970.
REINAUX, Marcílio. Iputinga bairro dos artistas. Recife: Ed. Comunicarte, 1987.
Como citar este texto
ANDRADE, Maria do Carmo. Iputinga (Bairro, Recife). In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/iputinga-bairro-recife/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)