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Geoglifos

O solo escavado é geralmente colocado ao redor da estrutura, numa espécie de mureta.

Geoglifos

Artigo disponível em: ENG

Última atualização: 08/03/2022

Por: Júlia Morim - Consultora Fundação Joaquim Nabuco/Unesco - Cientista Social, Mestre em Antropologia

Geoglifos são valetas escavadas no solo, de maneira a formar desenhos geométricos (linhas, quadrados, círculos, octógonos, hexágonos, etc), zoomorfos (animais) ou antropomorfos (formas humanas), com dimensões monumentais. O solo escavado é geralmente colocado ao redor da estrutura, numa espécie de mureta. As trincheiras podem ter de 1 a 5 metros de profundidade. Os desenhos podem ser observados plenamente apenas do alto, principalmente em voos. São semelhantes a achados arqueológicos encontrados Nazca, no Peru.

Acredita-se que essas estruturas foram realizadas à época pré-colombiana por povos indígenas que habitavam a Amazônia Ocidental. (VIRTANEN, 2008). Além dos geoglifos, foram localizadas, nos sítios arqueológicos, muitas cerâmicas indígenas, o que indicaria a presença de antigas aldeias naquela região.  Os desenhos podem chegar a 350 metros de diâmetro, o que sugere que vários sujeitos foram necessários para a sua execução. (SCHAAN, 2008).

No Brasil, a maioria dos geoglifos identificados encontra-se no Acre. Entretanto, foram encontrados achados também no estado do Amazonas e em Rondônia, o que indica que as sociedades que construíram tais estruturas podem ter tido uma grande dispersão no território.

As primeiras investigações arqueológicas no Acre começaram em 1977, por conta do inventário nacional que estava sendo realizado pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônia (PRONAPABA). Os arqueólogos Ondemar Dias e Franklin Levy, do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB-RJ), juntamente com o então aluno Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre, começaram a busca por sítios arqueológicos na região. 

Já nessas primeiras expedições, os pesquisadores notaram as estruturas circulares em formas de valetas, porém apenas a partir de 1986 começaram a ser divulgadas imagens da descoberta, pelo agora paleontólogo e professor da Universidade Federal do Acre Alceu Ranzi, que nomeou de “geoglifos” (marcas na terra) tais estruturas. Ranzi sobrevoava a região quando percebeu um círculo duplo, atualmente conhecido como sítio AC-RB-06. Impressionado, Ranzi voltou a sobrevoar a localidade, trazendo o fotógrafo Edison Caetano, que registrou  as estruturas. Isso rendeu o interesse da mídia, com capas de jornal e reportagens em revistas nacionais. O professor conseguiu apoio financeiro da Lei de Incentivo à Cultura e ao Desporto do Governo do Acre, através da Fundação Elias Mansour,  que aprovou o projeto Geoglifos: Patrimônio Cultural do Acre, em 2001. Dessa forma, mais voos de exploração e registro foram realizados.

Em 2006, com o advento das imagens de satélite disponibilizadas pelo Google Earth, o professor seguiu a pesquisa, podendo catalogar cada vez mais essas estruturas. Nesse estudo, ele observou, por exemplo, que o rio Acre servia como um divisor: na parte sudeste do rio, 30 dos 32 geoglifos identificados são circulares, já na parte ao norte, cinco dos sete são retangulares (RANZI; FERES; BROWN, apud SCHAAN, 2008, p. 26). Atualmente foram registrados 150 geoglifos no estado do Acre, mas os pesquisadores sugerem que isso pode representar  apenas 10% dos existentes. Tais descobertas só foram possíveis por conta dos desmatamentos ocorridos na região nas últimas décadas, de maneira que muitos geoglifos podem estar escondidos pela vegetação natural. 

Os pesquisadores continuam debruçados sobre as motivações e objetivos da construção dos geoglifos.  Entre os possíveis usos, existem algumas hipóteses: os geoglifos seriam “locais cerimoniais, aldeias fortificadas, ou locais de encontro. Ou talvez todas essas coisas, tendo em vista sua variabilidade”. (SHAAN et al., 2007, p. 76). A falta de resposta sugere a necessidade de uma união de esforços entre arqueólogos, antropólogos e ciências afins para aprofundar e desvendar esses mistérios. 

 

Recife, 28 de maio de 2014.

Fontes consultadas

GEOGLIFOS. Disponível em: <http://www.geoglifos.com.br/geoglifos.htm>. Acesso em: 28 maio 2014.

SCHAAN, D.; PÄRSSINEN, M.; RANZI, A.; PICCOLI, J. C. Geoglifos da Amazônia ocidental: evidência de complexidade social entre povos da terra firme. Revista de Arqueologia, n. 20, p.67-82, 2007. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ra/article/viewFile/1681/1323>. Acesso em: 4 maio 2014. 

SCHAAN, Denise Pahl. Arqueologia do Acre: do pronapaba às pesquisas sobre os geoglifos. In: SCHAAN, D. RANZI, A (Org.). Arqueologia da Amazônia Ocidental: os geoglifos do Acre. Belém: Editora Universidade Federal do Pará (EUFPA); Rio Branco: Biblioteca da Floresta, 2008. p. 10-29.

VIRTANEN, Pirjo Kristiina. Observações sobre as possíveis relações entre os sítios arqueológicos do Acre e um povo Aruak contemporâneo. In: SCHAAN, D. RANZI, A (Org.). Arqueologia da Amazônia Ocidental: os geoglifos do Acre. Belém: Editora Universidade Federal do Pará (EUFPA); Rio Branco: Biblioteca da Floresta, 2008. p. 79-89.

Como citar este texto

MORIM, Júlia. Geoglifos. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2014. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/geoglifos/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)