Descobrimento do Brasil: “achamento” do país tropical
Última atualização: 11/05/2022
O descobrimento do Brasil se deu a partir de algumas expedições de navios europeus que chegaram ao Brasil antes mesmo da data oficial do descobrimento: a expedição do navegador português Duarte Pacheco Pereira a serviço do rei D. Manuel I em 1498, a expedição do italiano Américo Vespúcio em finais do ano de 1499 e, a expedição dos espanhóis Vicente Yañez Pinzón e Diego de Lepe que chegou ao Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500.
D. Manuel I nomeou Vasco da Gama, um experiente navegador que já havia cumprido inúmeras missões a serviço de D. João II, comandante da frota que visava descobrir o caminho marítimo para a Índia. Essa expedição era composta por três naus e um navio de mantimentos. A frota que partiu de Lisboa no dia 8 de Julho de 1497, chegou a Moçambique, na África, no dia 2 de Março de 1498. Em seguida avançou rumo a Melinde e de lá, com a ajuda de um piloto mouro, chegou em Calecute no dia 17 de maio de 1498. A frota permaneceu na região cerca de 4 (quatro) meses mas, tendo em vista as intrigas dos comerciantes árabes, Vasco da Gama temendo pela segurança dos navios sob seu comando, decidiu partir em Outubro de 1498 chegando em Lisboa, Portugal, em Agosto do ano de 1499.
O descobrimento do caminho marítimo para a Índia (dominada na época pelos mouros e italianos), contornando o Mar Mediterrâneo, através da viagem de Vasco da Gama fez com que D. Manuel I, considerando que precisavam se impor para comercializar, decidisse enviar uma frota maior, composta por treze embarcações e mais de mil homens.
Comandada por Pedro Alvarez Cabral, essa foi a maior esquadra, até aquele momento, enviada para o Oceano Atlântico. Era composta de dez naus, três caravelas e uma nave menor comandada por Gaspar de Lemos com mantimentos para aproximadamente dezoito meses.
Para capitão-mor da armada seria indicado o próprio Vasco da Gama, recentemente feito almirante do mar da Índia. Mas não foi o que aconteceu. Acabou sendo nomeado capitão-mor Pedro Álvares de Gouveia, depois conhecido por Pedro Álvares Cabral. Dele, como de tantos outros navegadores, pouco se sabe, mas algumas qualidades já teria mostrado decerto, para lhe ser entregue o comando da maior frota que até então zarpara de Portugal, rumo a paragens tão longínquas. (MAGALHÃES, 2005, p. 33).
Embora não comprovadas por documentos, pesquisas realizadas por historiadores do século XIX, indicaram que a nau comandada por Cabral era chamada São Gabriel e teria sido a mesma que foi comandada por Vasco da Gama na histórica viagem, realizada três anos antes, do caminho marítimo para as Índias.
Baseado em documento incompleto que localizou na Torre do Tombo, em Lisboa, Francisco Adolfo de Varnhagen identificou cinco das dez naus que compunham a frota cabralina. Seriam elas Santa Cruz, Vitória, Flor de la Mar, Espírito Santo e Espera. A fonte citada por Varnhagen nunca foi reencontrada, portanto a maioria dos historiadores prefere não adotar os nomes por ele listados. A armada, assim, continua quase anônima. (NOGUEIRA, 2018, p.10).
A missão de Cabral era realizar alianças e estabelecer negócios lucrativos em Calicute, na Índia. Para tanto, as naus estavam abastecidas de metais preciosos como ouro e prata no intuito de, entre outras coisas, comprar especiarias.
A época do ano era a mais adequada para a travessia do Atlântico Sul. Depois de uma navegação direta até o arquipélago de Cabo Verde, onde não se detém – passando embora à vista da ilha de São Nicolau -, rumou para o sul e depois descreveu uma larga volta pelo sudoeste, esta muito mais pronunciada que a efetuada pela armada de Vasco da gama, sem aproximar-se da costa africana. Era a rota certa para aquela época do ano. Fugia-se, assim, das calmarias equatoriais, e essa boa escolha parecia indicar que a esquadra sulcava rotas anteriormente conhecidas. (MAGALHÃES, 2003, p. 33)
A esquadra de Cabral, após pouco mais de um mês da partida de Lisboa, no dia 21 de abril de 1500, avistou alguns “sinais de terra”, como o próprio Cabral teria descrito. No dia seguinte, avistaram um monte no litoral brasileiro, no atual Estado da Bahia, ao qual o capitão batizou com o nome de Monte Pascoal, em virtude de ser aquele o período de Páscoa. Avistaram também terra com grandes arvoredos a qual nomeou “Terra de Vera Cruz”. Nesse mesmo dia, 22 de abril de 1500, desembarcaram no local atualmente chamado Santa Cruz de Cabrália, no Brasil.
Pedro Álvares Cabral permaneceu no litoral brasileiro por pouco mais de uma semana. Nesse período ele e sua esquadra reabasteceram suas naus e fizeram registros de tudo o que puderam observar na terra descoberta.
A carta escrita por Pero Vaz de Caminha é o documento mais famoso da descrição da experiência de Cabral e sua esquadra em terras brasileiras. A carta enviada ao rei de Portugal foi datada em 1º de maio de 1500, quando a pequena nau de mantimentos, comandado por Gaspar de Lemos retornou a Portugal com as notícias.
Uma pérola, sem dúvida essa carta; carta em que o autor vai aos mínimos detalhes narrando tudo o que vê. Não seria exagero afirmar ou reafirmar que Pero Vaz de Caminha foi um precursor excepcional do jornalismo de campo. Para ilustrar este palavrório, extraio da carta um dentre muitos exemplos que registrou: "(são) pardos - referência aos nossos primeiros habitantes -, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas". Na mesma carta-documento fala Caminha também da pureza e ingenuidade naturais dos nossos antigos silvícolas, da presteza desses silvícolas, do imenso respeito daqueles nossos irmãos nativos, mesmo diante de desconhecidos chegados de supetão aos seus domínios, assim sem mais nem menos, sem quê nem pra quê, sem aviso prévio nem permissão alguma, como foi o caso. (ÂNGELO, 2003, p. 2).
Quando os portugueses desembarcaram no litoral baiano, dando início ao processo de ocupação, logo perceberam que a região já estava ocupada pelos povos nativos e por acreditarem que haviam chegado às índias, deram a estes o nome de índios. Duas nações indígenas se encontravam ali: os tupinambás e os tupiniquins, ambos do grupo linguístico tupi.
Apesar de, na descrição de Caminha, o contato com os índios parecer absolutamente pacífico, quando os primeiros portugueses desembarcaram no “Novo Mundo” (América) tiveram os primeiros contatos com os indígenas, os via como “selvagens”. Na verdade, o que ocorreu no início do processo de colonização foi um desencontro de culturas que gerou muitos conflitos e causou a morte de muitos índios por causa de doenças trazidas pelos portugueses, como a gripe, a tuberculose e a sífilis.
Observando vários relatos históricos e de acordo com Carvalho (2018, p. 1), a colonização portuguesa teve como principais características a submissão e o extermínio de milhões de indígenas. Tendo um caráter semelhante a outras colonizações europeias, como por exemplo, a colonização espanhola, que conquistou e exterminou os povos indígenas.
A Primeira Missa do Brasil foi rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, no dia 26 de abril de 1500. Imediatamente após a missa, a frota de Cabral partiu para as Índias, que era na verdade o destino inicial da viagem.
O Brasil anteriormente foi conhecido por outros nomes: Pindorama (que na língua Tupi significa “Terra das Palmeiras”), Ilha de Santa Cruz e Terra de Santa Cruz.
Inúmeros historiadores questionam se o termo correto a ser utilizado é “descobrimento”, pois desconsidera a existência prévia de povos indígenas no território, na verdade o acontecimento simboliza a oficialização do início da colonização portuguesa no Brasil.
Houve uma modificação no ensino a respeito do descobrimento do Brasil a partir das reflexões em torno da ideia de “exploração” das riquezas do Brasil, bem como da escravidão de índios e negros, que vinha sendo repassada através dos livros escolares.
Em virtude da polêmica gerada a partir das comemorações do quinto centenário do descobrimento da América (1992), a chegada dos navegadores portugueses passou a ser vista como "invasão" ou como "conquista", ou ainda simplesmente foi desqualificado o feito como "descobrimento", uma vez que os navegadores portugueses já sabiam da existência das terras brasileiras e de seus habitantes naturais. Consequentemente alguns historiadores passaram a chamar o descobrimento do Brasil de “achamento”.
Recife, 20 de dezembro de 2018.
Fontes consultadas
ÂNGELO, Francisco de. A Nova Democracia, a. 1, n. 8, abril 2003. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-8/1178-o-achamento-do-brasil> . Acesso: 20 dez. 2018.
CARVALHO, Leandro. Portugueses e indígenas: encontro ou desencontro de culturas? Disponível em <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/portugueses-indigenas-encontro-ou-desencontro-culturas.htm>. Acesso em: 17 dez. 2018.
MAGALHÃES, Joaquim Romero de. Ao sabor das ondas. Nossa História, Rio de Janeiro, a. 2, n. 18, p. 32-36, abril 2005.
MONUMENTO ao descobrimento do Brasil - Lisboa, Portugal [Foto neste texto]. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/datas-comemorativas/descobrimento-brasil-1.htm>>. Acesso em 20 dez. 2018.
NOGUEIRA, Adeilson. As Moedas do 4º Centenário do Descobrimento. Joinville/SC: Clube de Autores Publicações S/A, 2018.
PINTO, Tales dos Santos. 2018. Disponível em: . Acesso em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/descobrimento-brasil.htm>. Acesso em: 17 dez. 2018.
URBIM, Emiliano. 1499: O Brasil antes de Cabral. SuperInteressante, São Paulo: Abril, p. 30-39, fev. 2014.
Como citar este texto
VERARDI, Cláudia Albuquerque. Descobrimento do Brasil: “achamento” do país tropical. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2018. Disponível em: https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/descobrimento-do-brasil-achamento-do-pais-tropical/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6.ago.2020.)