Dalcídio Jurandir foi romancista e jornalista. Nasceu em 10 de janeiro de 1909, em Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, Pará. Filho de Alfredo do Nascimento Pereira e Margarida Ramos, aos treze anos de idade foi morar na capital do estado, Belém, para estudar.
Em 1928, abandonou os estudos e viajou para o Rio de Janeiro. Lá, trabalhou como lavador de pratos e atuou como revisor da revista feminina Fon-Fon, sem receber remuneração. De volta a Belém em 1931, Jurandir assumiu alguns cargos públicos e começou a colaborar com a imprensa paraense, nos jornais Imprensa Popular e O Radical e na revista Diretrizes.
Casou em 1935 com Guiomarina Luzia Freire, com quem teve quatro filhos (um deles morreu na infância e outro na vida adulta, aos vinte e quatro anos). Comunista e participante ativo da Aliança Libertadora Nacional, enfrentou perseguição política e foi preso duas vezes durante a Era Vargas. Em 1938, Jurandir retornou à cidade onde nasceu, na Ilha de Marajó, passando a trabalhar como inspetor escolar.
Seu primeiro romance, Chove nos Campos de Cachoeira, publicado em 1941, ganhou o prêmio Vecchi-Dom Casmurro, tornando-o conhecido no meio literário. Esse livro deu início a uma série de dez relatos ficcionais, posteriormente chamada Ciclo do Extremo Norte. Desses romances, nove “formam um mosaico da vida cotidiana na Vila de Cachoeira, na foz do rio Amazonas, e na cidade de Belém do Pará”. (MALIGO, 1992, p. 49). O personagem principal desses livros é um rapaz chamado Alfredo. O autor trata de suas mudanças da Vila para Belém, e depois de Belém para Ilha, bem como da luta de sua mãe para enviá-lo para estudar na cidade grande buscando melhorias de vida. Já em Marajó (1947), livro que difere dos demais do Ciclo do Extremo Norte, Jurandir apresenta “outro conjunto de personagens; seu foco, todavia, também é a existência diária numa pequena comunidade naquela ilha”. (MALIGO, 1992, p. 49).
O principal assunto dos romances de Jurandir é a condição social das pessoas da Ilha de Marajó e de Belém do Pará, sua identidade, suas formas de sobrevivência e redes de apoio. Seus personagens apresentam uma complexa construção interior, e as transformações pessoais são bastante valorizadas em seus romances. Segundo Pressley (2002, p. 4), três características marcam a obra de Dalcídio Jurandir: a linguagem altamente poética; o discurso indireto livre; a construção do tempo da narração/narrativa.
Em 1941, Jurandir retorna para o Rio de Janeiro, onde estabelece residência e trabalha em diversos jornais e revistas. Em uma viagem ao Rio Grande do Sul, tem a ideia de escrever um novo ciclo de romances, Extremo Sul. Entretanto, escreve apenas um: Linha do Parque. Em 1952, viaja para a União Soviética com uma excursão de escritores, fazendo contatos que depois valeriam a tradução de um de seus livros para o russo.
Jurandir aposentou-se como escritor na condição de autônomo, pelo INPS (atual INSS) em 1971. Em 1972, recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Sofreu com o mal de Parkinson, doença que considerava cruel por afetar aquilo que lhe era mais importante, o seu cérebro. O escritor morreu em 16 de junho de 1979 aos setenta anos — foi sepultado no Cemitério São João Batista, Botafogo, Rio de Janeiro. Seu nome foi dado a uma rua da Barra da Tijuca pelo prefeito do Rio de Janeiro, Israel Klabin.
Em 2003, seus herdeiros doaram o acervo do escritor à Fundação Casa de Rui Barbosa — mais de 750 livros de sua biblioteca, correspondências com Jorge Amado, Graciliano Ramos e Cândido Portinari, além de originais de seus romances. No mesmo ano, foi fundado o Instituto Dalcídio Jurandir, na cidade do Rio de Janeiro, que em 2008 seria extinto e em seu lugar criada a Casa de Cultura Dalcídio Jurandir, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, assumindo como presidente José Roberto Freire Pereira e como vice-presidente Margarida Pereira Benincasa, ambos seus filhos.
Em 2008, a Fundação Cultural Tancredo Neves, do Governo do Estado do Pará, instituiu o Prêmio de Literatura Dalcídio Jurandir.
Obras publicadas:
Série Extremo-Norte
• Chove nos Campos de Cachoeira (1941)
• Marajó, Editora José Olympio (1947)
• Três Casas e um Rio, Editora Martins (1958)
• Belém do Grão Pará, Editora Martins (1960)
• Passagem dos Inocentes, Editora Martins (1963)
• Primeira Manhã, Editora Martins (1967)
• Ponte do Galo, Editora Martins/MEC (1971)
• Os Habitantes, Editora Artenova (1976)
• Chão dos Lobos, Editora Record (1976)
• Ribanceira, Editora Record (1978)
Série Extremo-Sul
• Linha do Parque (1959)
Recife, 27 de maio de 2014.
Fontes consultadas
DALCÍDIO Jurandir. Biografia. Disponível em: <http://dalcidiojurandir.com.br/home/biografia/>. Acesso em: 27 maio de 2014.
FUNDAÇÃO Cultural do Pará Tancredo Neves. Dalcídio Jurandir. Disponível em: <http://www.fcptn.pa.gov.br/index.php/homenageados/dalcidio-jurandir>. Acesso em: 27 maio 2014.
JURANDIR, Dalcídio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural Literatura Brasileira. Disponível em <http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8765>. Acesso em: 27 maio 2014.
MALIGO, Pedro. Ruínas idílicas: a realidade amazônica de Dalcídio Jurandir. Revista USP, São Paulo, n. 13, mar./abr./maio 1992. Disponível em:
<http://www.usp.br/revistausp/13/06-pedro.pdf>. Acesso em: 27 maio 2014.
PRESSLER, Gunter Karl. Dalcídio Jurandir – a escrita do mundo marajoara não é regional, é universal. Revista do GELNE, v. 4, n. 2, 2002. Disponível em: <http://www.gelne.ufc.br/revista_ano4_no2_27.pdf>. Acesso em: 27 maio 2014.
Como citar este texto
MORIM, Júlia. Dalcídio Jurandir. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2014. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/dalcidio-jurandir/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)