Dotado de aguda imaginação, sensibilidade e inteligência estéticas, Carlos Pena Filho teria de sacudir a sua geração, logo emseus inícios, com a sua mensagem, no que ela tinha de mais convocador: alucidez.
(J. Gonçalves de Oliveira).
Carlos Souto Pena Filho, poeta pernambucano, nasceu no Recife no dia 17 de maio de 1929. Seu pai era o comerciante português Carlos Souto Pena e sua mãe D. Laurinda Souto Pena. Cursou o primário e o ginásio (hoje ensino fundamental) em Portugal. Quando voltou ao Recife, estudou no Colégio Nóbrega e no Joaquim Nabuco.
Muito cedo começou a escrever e manifestar sua vocação poética. Em 1947, publicou no Diário de Pernambuco o soneto Marinha. Daí em diante continuou publicando seus poemas nos suplementos nordestinos e também em publicações do Sul do País. Suas composições passaram a ser lidas e requisitadas. Era saudado como promessa de um grande poeta da novíssima geração pernambucana.
Os primeiros sonetos e poemas escritos foram reunidos e publicados sob o título geral de O tempo de busca. Tempos depois, tendo se ligado ao grupo de O Gráfico Amador, Carlos Pena Filho publicou um longo poema intituladoMemórias do Boi Serapião, impresso nas oficinas da rua Amélia com projeto gráfico de Aloísio Magalhães, sob a supervisão de Gastão de Holanda, Orlando da Costa Ferreira e José Laurênio de Melo. O poema é uma versão erudita do gênero de cordel e inicia de forma sentimental e melancólica, dizendo: “Este campo, vasto e cinzento/ não tem começo nem fim/ nem de leve desconfia, das coisas que vão em mim”.
Colaborou com o Diario de Pernambuco, Diário da Noite, Folha da Manhã,porém marcou sua atividade jornalística, principalmente, no Jornal do Commercio, onde dirigiu a seção Literatura, mais tarde intitulada Rosa dos Ventos.
Ao ingressar na Faculdade de Direito do Recife, em 1953, juntou-se a antigos companheiros do Colégio e a muitos novos amigos, na sua grande parte, membros de uma geração que se interessava muito pela política, pela sociologia e, principalmente, pela literatura, e muito pouco pela Ciência do Direito. Havia, naturalmente, as exceções que estão hoje investidas em brilhantes bacharéis. Ali foram seus amigos mais chegados: José Souto Maior Borges, Geraldo Mendonça, Eduardo Moraes, José Francisco de Moura Cavalcanti, Sileno Ribeiro, Sérgio Murilo Santa Cruz, José Meira, Joaquim Mac Dowell, Edmir Domingues, César Leal, Mozart Siqueira e muitos outros que representavam dimensões de inteligência em flor, cujo tempo mental teria de ser dedicado à Ciência do Direito.
Tendo realizado um mediano exame vestibular, Carlos Pena Filho impôs-se graças à sua sólida cultura. Isso não o impedia de recorrer, vez por outra, à sua imaginação para se safar dos imprevistos. Certa feita, havendo se equivocado durante uma prova oral sobre determinada questão de Direito, refutou o professor que o advertia afirmando com ênfase que um novo mas já “famoso jurista europeu” – Fred Zimeman – pensava do modo como se expressara. O professor aceitou sua “tirada” sem saber, e provavelmente nunca soube, que Fred Zimeman, era justamente um diretor cinematográfico de invulgar talento, responsável pela direção do filme Matar ou Morrer, um dos melhores westernsde todos os tempos, então em voga.
No mesmo ano de sua formatura (1957), publicou pela Secretaria do Estado de Pernambuco A vertigem lúcida. Carlos Pena estava no auge de sua arte e as edições dos seus livros logo se esgotavam.
O poeta assumiu a função de Procurador do Serviço Social contra o Mucambo aumentando-lhe a responsabilidade e restringindo-lhe os momentos de sonho. Contudo, sua obra poética já editada, acrescida de poemas novos, foi reunida e publicada sob o título de Livro Geral.
A obra de Carlos Pena Filho revela sentimento de delicadeza e cuidado para não ofender as pessoas e as idéias. Ele era conhecido pelos amigos, como sendo uma pessoa muito comunicativa, sorridente, cordial, tolerante e compreensiva. Naturalmente, muito dessas características eram passadas para sua obra.
Sua última poesia, Eco, foi publicada no Jornal do Commercio, no domingo, véspera de sua morte trágica.
No dia 2 de junho de 1960, o poeta estava no carro de seu amigo, o advogado José Francisco de Moura Cavalcanti, quando foram atingidos por um ônibus desgovernado. Carlos Pena recebeu uma violenta pancada na cabeça. O rádio logo divulgou a notícia e as autoridades e os amigos acorreram ao Pronto Socorro. O motorista e Moura Cavalcanti tiveram ferimentos leves, mas Carlos Pena não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 10 de junho de 1960.
Deixou desolados seus amigos, os intelectuais de todo o Brasil, sua esposa D. Maria Tânia, sua filhinha Clara Maria, seus dois irmãos, Fernando e Maria. O cortejo fúnebre, com discursos à beira da sepultura e com grande acompanhamento de pessoas demonstrou quanto o poeta era querido.
O CHOPE
Na avenida Guararapes,/ o Recife vai marchando./
O bairro de Santo Antônio,/ tanto se foi transformando/
Que, agora, às cinco da tarde/ mais se assemelha a um festim,/
O refrão tem sido assim: são trinta copos de chope,/ são trinta homens
Sentados, trezentos desejos presos,/ trinta mil sonhos frustrados.
Recife, 11 de novembro de 2004.
Fontes consultadas
CARLOS Pena Filho (Foto neste texto). Revista do Nordeste, Recife, ano 3, n. 29, p. 22-23, 15 jun. 1960.
PENA FILHO, Carlos.L ivrogeral. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1969.
______.O Tempo de busca. Recife: Região, [195-?].
SILVA, Jorge Fernandes da. Vidas que não morrem. Recife: Secretaria de Educação, 2000. v.1.
Como citar este texto
ANDRADE, Maria do Carmo. Carlos Pena Filho. In: Pesquisa Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2004. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/caslos-pena-filho/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)