[...] Na atual fase da humanidade, o museu tomou um sentido completamente diverso daqueles conceitos antigos. Hoje, ele não mais inspira, como antigamente, só cheiro de múmias, do passado, mas o registro vivo de civilizações, não apenas pretéritas, mas, também, reconstruídas em seus aspectos mais interessantes, que nos dão as dimensões exatas do homem em seus múltiplos processo de desenvolvimento. [...]
[...] O museu, sendo uma escola visual e laboratório científico, requer do seu técnico conhecimentos especializados em três setores distintos que se harmonizam num todo conforme a divisão serial: o artístico, o histórico e o científico. [...]
Aécio de Oliveira, Diario de Pernambuco, Recife, 4 fev. 1968.
O museólogo Aécio de Oliveira nasceu no dia 30 de julho de 1938, no bairro do Poço da Panela, no Recife, filho de Lourival de Oliveira e Maria Luiza Pequeno de Oliveira.
Cursou o ensino fundamental e médio nos Colégios São Luiz e Escola Técnica de Comércio, ambos na sua cidade natal.
Fez o curso superior de museus, no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, na qualidade de bolsista do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS). Na época, era o único técnico brasileiro da especialidade existente no Recife.
[...] Quando parti para a Universidade do Rio de Janeiro, em busca de novos conhecimentos no campo da museologia, já tinha uma formação sólida, porque a minha maior leitura, eram as conversas e experiências trocadas com Gilberto Freyre. Esse momento representava as coisas mais caras que eu tinha e que poucas pessoas tiveram a convivência íntima com Freyre, mencionava emocionado Aécio Oliveira. [...] (SILVA, 2012).
De 1964 a 1966, exerceu a função de assistente do professor Waldemar Valente, no Museu Antropológico do IJNPS, atual Fundação Joaquim Nabuco e, de julho a agosto de 1968, o cargo de chefe do Museu de Arte Popular, do Recife, e posteriormente, o de diretor do Museu Antropológico do IJNPS.
Em 1969, enquanto cursava Museologia no Rio de Janeiro, ocupou diversos cargos ligados à área museológica, como a de diretor do Museu de Folclore; vice-presidente do Centro de Estudos Museológicos da Guanabara e assistente da professora Gilda Barros, na exposição permanente do Museu Histórico Nacional.
No início da década de 1970, Aécio organizou e ministrou pelo IJNPS, cursos e treinamentos de preparação para pessoal de museus, em diversas capitais no Nordeste e outras cidades brasileiras. O primeiro foi realizado em Aracaju, Sergipe, em 1971. Posteriormente, aconteceram no Recife, em Fortaleza, em São Luís, em João Pessoa, em Areia (PB) e em Natal. Além da região Nordeste, o treinamento abrangeu outras cidades como, Belém do Pará, Manaus, Boa Vista, Macapá, Brasília, Goiana e cidades do Rio Grande do Sul, entre outras.
Ao voltar do Rio de Janeiro para o Recife, foi um dos idealizadores e diretor do Departamento de Museologia, do IJNPS, o primeiro a ser criado no Brasil, em 1971, pelo então diretor do Instituto Fernando de Mello Freyre.
Nesse mesmo ano, foi convidado para organizar o Museu do Trem, da Rede Ferroviária Federal, localizado na Estação Central, no Recife e secretariou o I Encontro Interregional de Cientistas Sociais do Brasil, realizado em Fazenda Nova, Pernambuco. No final de 1972, tornou-se diretor do Museu do Estado de Pernambuco, cargo que exerceu até 1974.
Ainda em 1974, foi um dos idealizadores e organizadores do I Encontro de Museus do Estado de Pernambuco, realizado de 1º a 4 de outubro, no IJNPS. O evento teve o objetivo de discutir problemas locais e redigir um documento encaminhado aos órgãos e autoridades responsáveis pelo desenvolvimento da Museologia brasileira.
No ano seguinte, Aécio com a colaboração de Joaquim Bezerra, organizou o I Encontro Nacional de Dirigentes de Museus, com o objetivo de discutir a adoção de uma política para os museus brasileiros, realizado de 22 a 26 de outubro, no IJNPS, com o patrocínio do Programa de Ação Cultural do Ministério da Educação e Cultura e a parceria do Museu Histórico Nacional, da Organização Nacional do Conselho Internacional de Museus (ONICOM), do Museu Imperial e das Secretarias de Educação e Cultura de Pernambuco e do Recife. O encontro contou com a presença de cerca de trinta dirigentes de museus, do Pará ao Rio Grande do Sul.
Em fevereiro de 1975, foi designado para representar o IJNPS no I Encontro Nacional de Artesanato, em Brasília, evento promovido pelo Ministério do Trabalho.
Ainda em 1975, viajou à Venezuela para fazer uma pós-graduação, tendo visitado vários museus do País, assim como da Argentina, Paraguai e Uruguai. Sua tese foi sobre Museologia no Primeiro Curso Internacional de Administração Cultural. Dois anos depois, em 1977, seguiu para os Estados Unidos, onde realizou visitas a 56 museus americanos.
Fez inúmeras conferências e montou várias exposições nas áreas de Museologia, folclore, artesanato e arte, em diversas instituições brasileiras, especialmente em Pernambuco e no Rio de Janeiro, além de participar de fóruns e congressos nacionais e internacionais. Atuou também como conservador do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco.
Foi o primeiro diretor do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), inaugurado em 1979, pelo ainda IJNPS, cargo que ocupou até maio de 1986, quando foi cedido, por seis meses, ao Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará, com o objetivo de assessorar a reestruturação da Divisão de Museologia e a montagem da exposição permanente naquela instituição.
A sua concepção básica para a exposição permanente do Muhne – mesmo tendo sofrido algumas intervenções pontuais – permaneceu por 24 anos, sendo desmontada, em 2004, quando do fechamento para a reforma estrutural e conceitual do Museu.
Recebeu, por sua atuação no campo da Museologia, medalhas e honrarias, de diversas instituições brasileiras como a Fundação Rondon, o Museu de Valores do Banco Central do Brasil, o Museu do Trem, o Jardim Botânico (RJ), o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Museu do Folclore (RJ). Em 1992, foi agraciado com um certificado de História Viva do Recife, pelo Museu da Cidade do Recife, sendo homenageado ainda com uma placa de bronze pela Fundação Joaquim Nabuco, em dezembro de 2008, e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na aula inaugural do seu Curso de Bacharelado em Museologia, realizada no dia 4 de agosto de 2011, dentro das comemorações dos trinta anos do Museu do Homem do Nordeste. O curso da UFPE, vinculado ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), é o primeiro no Estado de Pernambuco e o terceiro no Brasil. Os dois primeiros são o do Rio de Janeiro e o da Bahia.
Com a saúde debilitada devido ao diabetes, Aécio passou seus últimos anos desfrutando da sua Granja Santo Antônio, localizada em Aldeia, localizada na divisa do município de São Lourenço da Mata, Pernambuco.
Aécio de Oliveira faleceu no Recife, no dia 22 de maio de 2012.
Segundo depoimento da professora e prima Marcela de Kássia da Silva, publicado no portal da Fundaj no dia seguinte a sua morte:
[...] Sua técnica de trabalho chamava atenção, pela forma prática de associar reciclagem e valorizar os produtos da nossa terra. Uma museologia nordestina, moderna, cabocla, onde deveríamos estar dentro dos trópicos, diante de todas essas riquezas brasileiras. Fazendo coisas brasileiras, utilizando o gesso, a madeira, a palha e outros materiais. Um seguidor das propostas de Gilberto Freyre. A preservação dos Museus, segundo Aécio, é muito importante, pois toda coisa popular, aproxima a população ao Museu. “O povo não gosta de ver o erudito, como erudito. O povo gosta de ver o erudito como alcance do popular”, sua última frase sobre a preservação dos museus pernambucanos que tanto amava. [...]
Recife, 30 de maio de 2012.
Fontes consultadas
AÉCIO de Oliveira. [Foto neste texto]. Acervo da Fundação Joaquim Nabuco.
AULA inaugural do bacharelado em Museologia será no dia 4 de agosto, Recife, 2011. Disponível em: <http://www.ufpe.br/agencia/index.php?option=com_content&view=article&id=34865:a&catid=19&Itemid=72. Acesso: 23 maio 2012.
JUCÁ, Joselice. Fundação Joaquim Nabuco: uma instituição de pesquisa e cultura na perspectiva do tempo. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1991.
MELO, Alberto Cunha. Quem é quem? Aécio de Oliveira. Boletim Interno do IJNPS, Recife, n. 86, p. 23-28, out. 1972.
MOTA, Mauro. Cara e c’roa. Recife: IJNPS, 1974.
NOTICIÁRIO geral - 1968. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Recife, n. 16-17, p. 236-237, 1969.
OLIVEIRA, Aécio de. Depoimentos de história oral. Recife, 18 e 22 ago. 1988; 2 fev. 1989. Entrevistadora: Joselice Jucá. Acervo Fundaj.
PEDRO, Arthur; MENESCAL, Vanessa; ANDREY, Marcus. Homenagem ao museólogo Aécio de Oliveira, Recife, maio 2012. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=811:falecimentoconsternacao&catid=44:sala-de-impressa&Itemid=183>. Acesso em: 25maio 2012.
SILVA, Marcela de Kássia da. O último adeus ao arquiteto dos museus, Recife, 23 maio 2012. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=813:artigo-o-ultimo-adeus-ao-arquiteto-dos-museus&catid=44:sala-de-impressa&Itemid=183>. Acesso em 25 maio 2012.
Como citar este texto
GASPAR, Lúcia. Aécio de Oliveira. In: PESQUISA Escolar. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2012. Disponível em:https://pesquisaescolar.fundaj.gov.br/pt-br/artigo/aecio-de-oliveira/. Acesso em: dia mês ano. (Ex.: 6 ago. 2020.)